Módulo 4: Dogmática 3 | Verdade que não sofre mudanças

A Verdade que a Fé conhece nunca muda e nunca estagna

Tão rica, todavia, é a Revelação, que, ainda que terminada quanto ao conteúdo, com a morte do derradeiro Apóstolo, segue progredindo o conhecimento que os cristãos dela alcançam. Continuamente novas facetas do divino Objeto se nos manifestam. Novas não no sentido de que não existiam antes no tesouro da Revelação, mas novas no sentido de não haverem sido explicitamente apreendidas antes pela consciência cristã. Isso não significa a criação de novas doutrinas e menos ainda a negação do que foi solenemente definido, mas sempre a confirmação da mesma Verdade. Assim é que, no caminhar dos séculos, “novos” dogmas são dados pela Igreja à crença de seus filhos.

Reveste-se dessa maneira o conhecimento da Fé de uma crescente complexidade, por aumentarem e se sofisticarem os conhecimentos acerca das verdades a serem cridas. Essa multiplicidade de atos de Fé se reduz, porém, à perfeita unidade, por quanto tudo o que cremos é Deus revelado, e Deus revelado por Ele próprio. Através de tão numerosos enunciados, aderimos sempre e exclusivamente ao verdadeiro Deus por causa de sua Palavra sempre verídica.

Tão estreita unidade de objetivo, porém, não impede que possamos e até devamos estabelecer certa hierarquia entre as diversas afirmações de Fé; não que umas sejam dignas de maior certeza do que as outras, porque cremos em todas igualmente.

Mas é que o mesmo Deus acentuou-as de modos diversos. Assim, por exemplo, o conteúdo das Escrituras, todo ele revelado, é inteiro de Fé; todavia, destacam-se as partes que nos informam diretamente acerca de Deus e do que a Ele nos leva. É óbvio que a Revelação na sarça ardente (Sou o que Sou) ou o Sermão da Montanha revestem-se de importância incomparavelmente maior do que as estatísticas do antigo reino de Judá.

Entre as mesmas verdades primárias, algumas são denominadas Artigos de Fé: são enunciados mais distintamente articulados pela Voz divina. Exprimem os grandes mistérios, os aspectos de máxima relevância no objeto da Fé. Tais são as diversas proposições do Símbolo dos Apóstolos, que aprendemos na catequese.

Há grande diferença entre os fiéis católicos quanto à quantidade de verdades de Fé menos fundamentais que lhes são bem conhecidas. Algumas são apreendidas só por teólogos, como certas constituições dogmáticas complexas e certos pontos específicos do Código de Direito Canônico. Por serem acidentais, essas diferenças não chegam a estabelecer graduação entre os crentes. Com efeito, todos aderem ao mesmo Objeto: Deus que revela. Quem conhece explicitamente apenas os artigos do Credo, neles conhece implicitamente todas as demais verdades reveladas, porquanto estas estão realmente contidas naquelas. Abraça-as também implicitamente, por estar sempre disposto a crer qualquer verdade proposta pela Igreja.

Existem, sim, graus de Fé, porém estes se referem não mais ao Objeto, senão à intensidade da adesão do fiel. São Paulo, em sua primeira Epístola aos Tessalonicenses, afirma seu desejo de visitá-los para suprir “o que falta à vossa Fé” (1Ts 3, 10). Já na segunda Epístola, louva-os pelo progresso alcançado: “Sempre devemos, irmãos, dar graças a Deus por vós, com razão, porque a vossa Fé cresceu muitíssimo…” (2Ts 1,3).

Daí notamos que os Santos, apesar de crerem as mesmas verdades que nós, têm mais Fé do que nós, porque a elas se rendem com intensidade, firmeza e devoção maiores. Supliquemos com os discípulos: “Senhor, aumentai a nossa Fé!” (Lc 17, 5).

Também de todo o coração devemos multiplicar, desarmados, nossos atos de Fé, procurando antes de tudo aderir a Cristo-Deus, assentir à sua Palavra e, por causa dela, aos vários enunciados dogmáticos.