Do que foi visto até aqui quanto à Inspiração dos Livros Bíblicos, podemos dizer em resumo que são elementos comuns a todas as linhas teológicas católicas que:
a) Deus é o Inspirador e o Autor das Sagradas Escrituras (verdade de Fé definida);
b) Deus se faz Autor dos Livros Sagrados por um influxo sobrenatural e interno (verdade de Fé, definida pelo Concílio Vaticano I)[1];
c) O influxo de Deus se refere às faculdades racionais (inteligência e vontade) e às faculdades executivas (sentença comum e certa quanto ao fato);
d) Deus é o Autor principal; o hagiógrafo é o instrumento;
e) na Inspiração, nem sempre se requer Revelação, mas sim o juízo sobrenatural sobre as coisas conhecidas;
f) não é necessário que o hagiógrafo tenha consciência de sua inspiração;
g) o hagiógrafo mantém sua plena liberdade ao escrever.
Outras controvérsias:
1º – Autores da Escola Tomista quiseram aplicar a premoção física[2] à vontade do hagiógrafo. Outros contestam tal aplicação, bastando que a moção divina dobre de modo irresistível a vontade.
2º – Sentença contra a Inspiração verbal: o Cardeal Franzelin estabelece que, para que se possa chamar a Deus em sentido verdadeiro e próprio “Autor” das Sagradas Escrituras, basta-lhe um positivo influxo quanto à parte formal (conteúdo e sentenças); sendo suficiente, para a parte material (palavras específicas, estilo, elocução), uma assistência negativa, que preserve de erros o autor humano[3].
3º – Sentença a favor da Inspiração verbal: tomistas argumentam que o conceito de causa instrumental exige que o efeito seja todo de Deus; portanto, também as palavras. O hagiógrafo só age enquanto movido por Deus. Mais: se se puserem as palavras fora da moção instrumental, o Livro como tal já não seria inspirado. Redarguem que a sentença anterior confunde “Inspiração” e “Revelação”, e não aplica correntemente o conceito de causa instrumental.
Não poucos autores, fora da Escola Tomista, propõem uma solução intermediária para o problema: sustentam firmemente que a determinação formal das palavras não está na essência da Inspiração; admitem contudo um positivo influxo de Deus também quanto às palavras, não pelo princípio de instrumentalidade, e sim por razões antes psicológicas (assim a dificuldade de separar-se a coisa e a expressão).
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Até aqui apresentamos, em linhas gerais, o principal sobre os problemas e controvérsias envolvendo o tema da Inspiração divina das Sagradas Escrituras. A partir do próximo fascículo/módulo, contemplaremos conclusivamente as definições dogmáticas sobre a Inspiração, que nos levam ao rumo certo em nossa relação de Fé com a Bíblia Sagrada.
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[1] Denz. 1785-1787; 1809.
[2] Ação divina que exerce influência sobre a vontade humana, neste caso determinando o que este fará.
[3] Seguem esta sentença Frei Schid, Crets, Mazella, Herter, Brucker, Cornely, Knabenbauer, De Sant, Van Kasteren, Dorsh, etc. Cf. H. Dutoquet, La psychologie de l’inspiration, em Études, 85 (1909-IV), 158-171.
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