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Encerramos o módulo anterior tratando sobre um conceito bastante incompreendido nos nossos tempos, mesmo entre cristãos católicos: a liberdade. Dizíamos que a ética cristã não nos deixa “livres” para pecar, mas antes “obriga-nos” a não pecar, e é isso, exatamente, a verdadeira liberdade. Consideramos que, ainda assim, mantemos, psicologicamente, a nossa (triste) liberdade de pecar, se o quisermos, arcando depois com as consequências dessa escolha. Enfatizávamos, ainda, a grande cautela que se nos faz necessária sempre que quisermos empregar, teologicamente, o vocábulo “liberdade”, e assim também a cautela com que podemos exaltar o direito à liberdade. Aqui tudo depende de a qual tipo de liberdade estejamos nos referindo: liberdade integral e verdadeira ou a sua (mais conhecida no mundo) falsa noção.
Dificilmente se tratará da questão da liberdade em Teologia católica sem que se recorra a Santo Agostinho, e assim será por aqui, também. Mas, antes, lançaremos um breve olhar prévio e geral sobre o tema.
Entre os motivos pelos quais é tão comum a rebeldia na fase juvenil de nossas vidas, destaca-se o desejo incontido por liberdade. É que vivemos toda a longa fase de nossa infância sendo impedidos de fazer aquilo que nos desse “na telha”: todos nós ouvimos muitas milhares de vezes, durante os primeiros anos de nossas vidas, a dura palavra “não”. É preciso que seja assim, claro, mas quando somos pequenos não temos ainda as capacidades intelectuais e emocionais necessárias para compreendê-lo, e muitas vezes consideramos até que nossos pais (ou aqueles que cuidam de nós) não nos queiram bem, por nos privar tantas vezes daquilo que desejamos, e por tantas vezes nos impedirem de fazer o que queremos fazer (e queríamos tanto aquilo…). É verdade que em nossos tempos há uma liberalidade muitíssimo maior do que havia há poucas décadas, e a cada nova geração a permissividade dos pais ou responsáveis vem aumentando, sempre um pouco mais e mais. Mesmo assim, escutar muitas e muitas vezes o “não” continua sendo uma experiência comum a todo ser humano.
Assim, quando vamos chegando à adolescência e à “idade da razão”, quando passamos a nos sentir donos de nós mesmos e nos deparamos com todo um excitante universo de novas sensações, novos prazeres e aventuras bem diante de nós, e ao mesmo tempo nos sentimos poderosos como nunca, porque sabemos que já não somos mais crianças que precisam ser cuidadas (e proibidas de fazer o que querem) a cada minuto, sentimos que finalmente seremos livres. Agora já sabemos nos cuidar, somos espertos o suficiente e não podemos conter essa impetuosa euforia pela descoberta do mundo, num encanto que cresce até tomar conta de tudo, com um ardente impulso que faz com que queiramos nos livrar de todas as peias que, desde sempre e até ali, nos foram impostas, para então sair e desbravar novos horizontes, conquistando tanto quanto nos seja apetecível – e é muito! – no grande e sedutor mundo que nos rodeia.
Muitas quedas depois, ao atingir a idade adulta, as almas privilegiadas que conseguirem alcançar a maturidade espiritual, finalmente entenderão que existe algo de bem mais importante e que é muito mais valioso do que essa liberdade para fazer tudo aquilo que se quer, isto é, tudo o que faça despertar em nós o apetite: a liberdade de não fazer aquilo que realmente não se quer, e esta é bem mais difícil de conquistar.
Compreenderão, então, que ninguém é de fato totalmente livre, pois, como disse o Espírito Santo através da pena do primeiro Papa, os ímpios aos outros “prometem a liberdade, quando eles mesmos são escravos do pecado, porque todo homem é feito escravo daquilo que o vence” (2Pd 2,19). Vejamos um pouco mais de perto e mais a fundo essa verdade, que será tão importante em todo o nosso aprendizado, e mais ainda em nossa jornada como cristãos.
A ideia de liberdade não era familiar aos seres humanos dos tempos antigos, uma vez que as pessoas sentiam-se constantemente dominadas pelas forças da natureza, e seu destino claramente fugia ao seu controle. Sendo assim, recorriam constantemente a Deus (ou a deuses imaginários), em busca de segurança e de socorro. A ideia do “homem livre” começou a ser construída pela Filosofia, principalmente no estoicismo, corrente de pensamento que entendeu que o ser humano conquista a sua liberdade na medida em que domina suas próprias paixões, alcançando o desapego de si mesmo. Só assim torna-se apto a partir para tentar dominar sobre as coisas exteriores. O caminho para tal conquista, segundo os estoicos, está na racionalidade e no conhecimento.
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