Módulo 7: História da Igreja 1 | A Pedra


Pedro, que antes era chamado Simeão ou Simão Barjona
, resumiu melhor e mais perfeitamente do que qualquer teólogo em todos os tempos, com uma sentença, Quem era o Fundador da nova “seita” tão odiada pelos judeus, da qual ele era reconhecido como líder: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”. Tal evento ficou registrado em todos os Evangelhos sinóticos, e de modo integral no de São Mateus (16,16)[1]. Era o Messias e, mais que isso, era o próprio Filho de Deus e Deus, a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, Quem trouxera ao mundo a salvação e o Caminho da Verdade que eles seguiam.


    Pedro recebera o nome Simeão (hebreu, usado em At 15,314 e 2Pd 1,1) dito Simão, que é a versão grega do mesmo nome e que aparece cerca de cinquenta vezes no Novo Testamento (NT) e pode ser encontrado também na obra de Aristófanes[2], mas Nosso Senhor lhe dá esse novo nome, que significa rocha ou pedra, ligando-o de maneira direta ao fundamento da Igreja (Mt 16,18), em um passagem que não costuma ser lida nos púlpitos protestantes, a não ser, em geral, que o pregador pretenda deturpá-la, como já veremos. Em aramaico, o Cristo chamou Simão de Kephas. Este nome, que aparece nesta forma por nove vezes no NT[3], significa rocha. No NT, em geral, o nome aparece em sua variante helenizada, isto é, Petros, que aparece 150 vezes nos Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos. Ambas as formas, juntas na alcunha “Simão Pedro”, aparecem vinte vezes no NT.

    Pedro era filho de João (cf. Jo 1,42; 21,15ss) ou Jona, ou ainda Jonas, daí o sobrenome Bar-Jona (como aparece em Mt 16,17 ) ou Bar-Jonas (cf. Jo 1,42 e 21,15s)[4], em que bar significa “Filho de”. Jonas pode também ser uma abreviação de Johannes.

    Dada a importância de São Pedro, a qual começa a se desenhar para nós justamente a partir de sua Confissão, apresentaremos neste ponto um estudo completo sobre a natureza de seu nome – o novo nome, o nome que assumiu como Príncipe dos Apóstolos e Rocha da Igreja, dado diretamente por Nosso Senhor. Desmantelaremos assim um certa falácia que foi bastante difundida nos últimos tempos entre protestantes, embora nem todas estas comunidades compactuem desse mesmo desvio. Vejamos.

    A alegação que apresentaremos a seguir configura-se na principal tentativa protestante de explicar a passagem em que Jesus Cristo confere a Pedro a máxima autoridade sobre a sua Igreja, tornando-o a Rocha firme sobre a qual poderiam se fundamentar as gerações que n’Ele cressem, aderindo ao Evangelho e sendo batizadas. Claro, eles não podem aceitar o fato da maneira como está explicitamente narrado no Livro sagrado, porque vai diretamente contra a sua própria crença, fazendo ruir por terra todo o edifício dos Cinco Solas nos quais se apoiam[5].

    Essa é alegação mais usual dos chamados “evangélicos”: tentam argumentar que a “Pedra” citada por Jesus no Evangelho segundo São Mateus (16,18) não seria o Apóstolo Pedro, mas sim o próprio Jesus. Para tanto, apelam ao fato de que as Sagradas Escrituras, em outras passagens, identificam a Cristo como “Rocha” e “Pedra Angular”. Teologicamente falando, deve ser já claro para nossos estudantes que esta é, para dizer o mínimo, uma argumentação infantil. De fato existem passagens bíblicas em que os termos “pedra” e “rocha” se referem a Jesus, inclusive no próprio Evangelho de Mateus (21,42). Todavia é mais do que claro – é totalmente óbvio –, que isso não significa que todas as vezes em que a Bíblia usa essas palavras está se referindo exclusivamente a Jesus, Nosso Senhor. São muitos os exemplos que poderíamos usar para demonstrá-lo, por comparação: o próprio Cristo proclamou-se “Luz do Mundo” em Jo 8,12; mas Ele também disse aos Apóstolos que eles deveriam ser “Luz do Mundo”, como vemos em Mt 5,13. Assim, nem todas as vezes que a Bíblia fala em “luz” está se referindo exclusivamente a Jesus.

    Da mesma maneira, é claro que nem todas as vezes em que as santas Escrituras falam em “pedra”, estão se referindo a Jesus. Além da passagem de Mateus, temos Isaías 51,1-2: aqui, a “pedra” é Abraão. E também em 1Pd 2, 4-5 fala-se das “pedras vivas”, que, neste caso, são o próprio Jesus juntamente com os cristãos fiéis. Ora é mais do que evidente que Jesus ser chamado “Pedra Angular” é uma coisa, e o fato de o discípulo Simão Barjona ter sido feito, pelo próprio Jesus, a Pedra sobre a qual edificaria a sua Igreja, é outra coisa, totalmente diferente. Tanto isso é claro que, na mesma ocasião, o nome do Apóstolo foi mudado, e para o quê? para Pedra (que na mudança da forma latinizada, vertida para o nosso idioma, no masculino, resultou em Pedro).

    Mais ainda do que isso, o fato de Jesus aplicar a Simão Filho de Jona(s) um título que o Texto sagrado aplica também ao próprio Jesus, demonstra a intenção do Senhor em fazer de Simão um representante seu na Terra, assim como acontecera antes com Abraão. Também este teve seu nome mudado (antes era Abrão) quando foi escolhido para conduzir o povo de Deus na Terra, e também este foi comparado a uma pedra ou rocha, exatamente como Pedro. E o Cristo ainda confirmou explicitamente qual sua intenção, por entregar a autoridade sobre sua Igreja a Pedro, quando lhe dá as Chaves do Reino, que lhe permitiriam “ligar” ou “desligar” na Terra o que seria “ligado” ou “desligado” no Céu. Além de tudo, a lógica mais elementar indica que, se Jesus estivesse naquele momento falando de Si mesmo, simplesmente diria “Eu sou a Pedra”, assim como disse “Eu sou a Luz do Mundo”, “Eu sou o Pão da Vida”, “Eu sou a Ressurreição e a Vida” ou “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, por exemplo. O Senhor nunca falou a alguém de sua própria Pessoa como se estivesse falando de um terceiro, e isso não faria nenhum sentido.

    Nosso Senhor, sem dúvida alguma, elevou Pedro como um “pai” para a família dos cristãos (Is 22,21), o pastor terreno a quem incumbiria de guiar o seu rebanho, algo que será mais uma vez confirmado logo após a Ressurreição: em João 21, 15-17, por três vezes Jesus pergunta a Pedro se este o amava, e por três vezes Pedro reafirma o seu amor e comprometimento. Então o Salvador, à véspera de deixar os seus discípulos, confia a Pedro a guarda do seu rebanho, isto é, da Igreja, e é importante entender que, naquele momento, confiava-lhe o cuidado de toda a Cristandade, fazendo questão de entregar a ele a guarda dos “cordeiros” e também das “ovelhas”. “Apascenta os meus cordeiros”, repete o Senhor por duas vezes; e à terceira, diz: “Apascenta as minhas ovelhas”. “Apascentar” significa cuidar, conduzir, guiar, assumir a responsabilidade pelo rebanho; neste caso, é receber do divino Proprietário a autoridade – com responsabilidade –, para guiar o seu povo pelo caminho reto. Apascentar os cordeiros e as ovelhas é, portanto, governar com autoridade do Céu a Igreja de Cristo; é ser o condutor: é ter o primado.

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[1] O primeiro Papa já o fizera antes, incompletamente, em Mt 14,33. Nos outros Evangelhos, o episódio da Confissão de São Pedro encontra-se em Mc 6,51ss e Lc 9,20.
[2] Apud LAURENTIN (2006), p. 8.
[3] Gl 1,18; 2,9; 11,14; 1Cor 1,12; 3,22; 9,5; 15,5. É chamado Petros em Gl 2,7-8.
[4] Também possível na versão sem o hífen, Barjona ou Barjonas. Algumas fontes chegam a sugerir que Barjona designaria Pedro como um zelote, mas isso não passa de uma frágil conjectura sem nenhum fundamento sólido.
[5] Sola, do latim, significa “somente”. Os cinco solas são os cinco superdogmas protestantes, a saber: 1) Sola fide (somente a fé basta); 2) Sola Scriptura (somente a Bíblia é a única regra de fé e prática), 3) Solus Christus (somente Cristo age para o nosso bem, sem a intercessão de nenhum santo), 4) Sola Gratia (somos salvos somente pela graça, independente de nossa participação ativa e das nossas boas obras no cumprimento da Vontade de Deus) e 5) Soli Deo Gloria (glória somente a Deus). Esses pilares da dita “Reforma” protestante estão, todos eles, contraditos nas Sagradas Escrituras, como veremos mais adiante em tópico futuro desta formação.

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