Módulo 10: Ascética e Mística 2 | Manual prático para a vida interior – lição VIII


“NO MEIO DE VÓS ESTÁ ALGUÉM QUE VÓS NÃO CONHECEIS.”

Na parte prática deste fascículo/módulo, propomos para meditação as inspiradoras e consoladoras admoestações do Bem-aventurado Padre Paulo Segneri, num belíssimo convite à interioridade fundamentado no Evangelho segundo São João (1,26), que falam por si, dispensando quaisquer descrições introdutórias.


    I — Considera o erro daqueles que procuram a Deus como se Ele estivesse muito longe deles, e que querem atrair Deus a si com suspiros, lágrimas e lamentações, já tendo a Deus dentro de si! É com absoluta propriedade que se poderia dizer-lhes: “No meio de vós está Alguém que vós não conheceis”. São como os insensatos que têm a fonte em casa e vão buscar água fora de casa. É o contrário o que se deve fazer! Se estão fora, que entrem, que se recolham, que se retirem em si mesmos. Encontrarão logo o que estavam procurando nas vias públicas. Esta é uma regra verdadeira. Que fazes tu, que não te vales desta regra? Se queres encontrar a Deus, para unir-te a Ele com facilidade, não andes muito, correndo com a imaginação fora de ti. É verdade que as criaturas podem fazer-te conhecer a Deus, mas podem também afastar-te de Deus. E, na realidade que coisa poderiam fazer mais, senão assegurar-te que o tens dentro de ti? 

    Aprofunda-te, pois, muito dentro de ti mesmo, procurando compreender como coisa certíssima que dentro de ti tens todo o teu Deus Vivo e Verdadeiro, sem necessidade de procurá-lo em outra parte. Então te será fácil estar sempre na sua Presença. Não é grande vergonha que Deus esteja tanto tempo dentro de ti e tu apenas venhas a sabê-lo? “Há tanto tempo estou convosco e vós não me conheceis” (Jo 14,9).

    II — A palavra nescire tem, nas Escrituras, dois sentidos: um pertence à inteligência e significa não conhecer: “Não conhecem Aquele que me mandou” (Jo 15,21). O outro pertence à vontade, e significa não conhecer alguém. “Não vos conheço” (Mt 25,12). Na passagem que estamos meditando, pode ser tomada em ambos os sentidos.

Cristo morava no coração da Judeia, e, não obstante, a maior parte deles não o conheciam nem se preocupavam com Ele, julgando-o um simples homem como qualquer outro. Parece que se dá, contigo, algo de semelhante. Tens continuamente o Senhor dentro de teu coração, e, todavia, “não o conheces”. Não o conheces, porque não tens ideia d’Ele e também porque não te preocupas com Ele. É para se admirar que progridas tão pouco no caminho da virtude? “Para ele, Deus não existe: os seus caminhos estão sempre contaminados” (Sl 9,26). Realmente não seria possível, se estivesses sempre presente a Deus como Ele está presente a ti, que praticasses alguma coisa que o desgostasse! Se, portanto, queres chegar por um caminho rápido à perfeição, deves fazer isto: dar-te ao exercício da Presença de Deus que todos os Santos recomendavam como indispensável: “Caminha na minha Presença e serás perfeito” (Gn 17,1). Se queres saber em que consiste exatamente tal exercício, não procures muito longe: consiste em fazer exatamente o oposto daquilo que significa a palavra nescire: conhecer o Senhor e preocupar-se com Ele. Aplicar bem tua inteligência em conhecer como Ele habita dentro de ti, e aplicar a tua vontade a corresponder a Ele com devotos afetos.

    III — De que modo deves aplicar a inteligência a conhecer que o Senhor está dentro de ti? Deves aplicá-la sobretudo por meio da fé. A fé to diz claramente: “Ele não está longe de cada um de nós” (At 17,27). É caminho mais fácil do que o caminho de uma atenta imaginação, por mais frutuosa que seja. Mas, para dispor-te melhor com o entendimento a aprender o que crês, pressupõe que o Senhor está dentro de ti como um Rei no seu reino. O Rei mora no seu reino com o seu Ser substancial, com o conhecimento que tem de tudo, com o poder que lá exerce. É assim que Deus está dentro de ti. O primeiro modo é o do ser, porque Deus está dentro de ti pessoalmente, como um rei que reside em pessoa no seu reino. Só que o rei terreno reside somente em um ponto do seu reino, e não em toda parte dele, e Deus reside em qualquer parte de ti.

    O segundo modo é o do conhecimento, porque assim como o rei sabe tudo o que se passa em seu reino, por isso se diz que está presente a tudo, assim Deus sabe tudo o que se passa dentro de ti. Só que o rei terreno, se sabe tudo, o sabe porque os outros lho contam, e Deus o sabe porque vê, pessoalmente. 

    O terceiro modo é o do poder. Como o rei pode dispor dentro de seu reino das coisas ao seu beneplácito, assim também Deus pode dispor dentro de ti. O rei humano pode fazê-lo só até certo ponto, e mesmo assim por meio de outros. Já Deus opera tudo e o faz pessoalmente, diretamente.

    É o que quer que entendas Quem te diz: “Em meio de vós, está Alguém que vós não conheceis”. Se é assim, como é, pois, possível, que o percas de vista? Vês como é amoroso o Senhor teu Deus! O faz para que não te desculpes dizendo que não podes subir até as estrelas, para encontrá-lo dentro de seu Reino, Ele colocou o seu Reino dentro de ti: “O Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17,21).

    IV. Deves aplicar do mesmo modo a tua vontade. E o farás com a frequência dos atos devotos que deves fazer durante todo o dia. Serão afetos de adoração, de amor, de oferecimento, de glorificação, de alegria, de ação de graças, de confusão, de contrição e outros atos semelhantes. Sobretudo, deves invocá-lo frequentemente. Assim, o tratarás verdadeiramente como Rei, manifestando a tua suma dependência d’Ele. Como o Senhor é Bom, não procura outra coisa senão fazer graças; mas, como Rei, quer também que lhas peçamos. E tudo isso se faz com o exercício da Presença divina, tão fácil para todos.

    Há, sobretudo, dois motivos que te devem levar a praticar esta Presença de Deus: a gratidão e a necessidade. A gratidão porque o Senhor está continuamente no teu coração, somente para fazer-te bem. É, portanto, lógico que penses n’Ele, não digo incessantemente, porque isso não o poderás fazer, mas ao menos insaciavelmente. 
Além disso, a necessidade. Quando perdes o teu Deus de vista, és como a Terra se tenha perdido o Sol. Não estás mais capaz de produzir flores nem frutos, mas só espinhos, se chegares a produzir ainda espinhos. ‘‘A Terra que antes era um paraíso de delícias, depois dele, se transformou num deserto solitário” (Jl 2,3). 


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