Módulo 11: História da Igreja 1 | Batismo de crianças na Bíblia

O batismo luterano (sim) em detalhe, por Lucas Cranach, o Velho

Aqui está uma questão realmente simples, mas da qual muito se faz pretexto. As Sagradas Escrituras citam vários exemplos de pagãos que professaram a Fé da Igreja e que foram batizados “com toda a sua casa”. A palavra “casa” (oikos no grego original) designava o chefe de família com todos os seus domésticos, inclusive, sem nenhuma dúvida, as crianças:


E uma certa mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. E, depois que foi batizada, ela e a sua casa, rogou-nos dizendo: ‘Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e ficai ali’. E nos constrangeu a isso. (At 16,14-15)

Tomando-os o carcereiro consigo naquela mesma noite, lavou-lhes os vergões; então logo foi batizado, ele e todos os seus. (At 16,33)

Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; e (assim como ele) muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados. (At 18,8)

Batizei também a família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro. (1Cor 1,16)


No lugar e período histórico aos quais os Textos sagrados se referem nesses exemplos, simplesmente não existiam famílias sem crianças. Mais além, as Escrituras são mais explícitas em afirmar a mesma realidade:


    Disse-lhes Pedro: ‘Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em Nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo. A Promessa diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos que estão longe: a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar’. (At 2,38-39)


    Não há especificação quanto a filhos adultos, mas sim se incluem todos, e que famílias inteiras eram batizadas.

 


Argumentos protestantes/’evangélicos’ a respeito

Membros de algumas comunidades protestantes (não todas), especialmente pentecostais e neopentecostais em geral, costumam argumentar dizendo que Jesus foi apresentado no Templo quando criança e somente foi batizado na idade adulta, e que por isso também os cristãos deveriam ser batizados somente quando adultos. Trata-se de um argumento apenas absurdo. Em primeiro lugar, o Batismo cristão faz parte do Ministério do próprio Jesus Cristo, que se iniciou quando este tinha seus 30 anos. Como é que Jesus poderia ter sido batizado quando criança, se o Sacramento do Batismo, naquela ocasião, ainda não havia sido instituído, por Ele mesmo?

Quando Jesus veio ao mundo, o cristianismo, obviamente, ainda não existia. Logo, Ele não foi batizado segundo o costume cristão, simplesmente, porque esse costume ainda não existia, mas seria implantado por Ele próprio. Os ritos da Lei Mosaica só deixariam de valer após a Ressurreição do Cristo (cf. Mt 26,61); por isso Jesus foi apresentado no Templo quando criança, pois a lei de Moisés ainda valia e o Batismo cristão ainda não existia. 

Assim, se fôssemos seguir o mesmo raciocínio, de batizar somente na idade adulta porque o Senhor foi batizado adulto, precisaríamos também circuncidar os nossos filhos e observar todos os preceitos da antiga Lei Mosaica. Mas, ora, o fato é que a circuncisão, que era o sinal da iniciação do judeu na vida religiosa, era praticada nas crianças. No cristianismo, a circuncisão (sinal da Antiga Aliança), foi substituída pelo Batismo (sinal da Nova e Eterna Aliança). Desse modo, o Batismo também pode e deve ser ministrado às crianças:


N’Ele também fostes circuncidados com a circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados com Ele no Batismo, n’Ele também ressurgistes pela Fé no Poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos. (Col 2,11-12)


Através do Batismo, recebemos um novo nascimento, uma regeneração. Por isso as crianças também devem ser batizadas, pois todos nós já nascemos pecadores. Todos carecem da Graça de Deus em razão do pecado de Adão, inclusive as nossas crianças:


Certamente em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu a minha mãe. (Sl 51,5)

Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. (Rm 5,12)


Clarissimamente está dito nas Escrituras: o batismo de João, nas águas, como já vimos não é o Sacramento do Batismo, e João mesmo reconheceu que o seu batismo era completamente diferente do Batismo que nos daria o Messias, no Espírito Santo. Além de tudo, batizando crianças, a Igreja obedece ao Senhor, que diz: “Deixai vir a mim as criancinhas, e não as impeçais” (Mt 19, 14).

Outro argumento protestante é o de que as crianças não podem crer, e que o Batismo deveria ser um ato consciente daquele que será batizado. Como vimos, porém, o Batismo é cura e regeneração da alma. Assim como a um filho doente, seus pais não esperam que cresça para escolher se quer ou não tomar o remédio, mas como responsáveis pela criança lhe dão quanto antes a medicação, pelo seu bem, o mesmo acontece com o Batismo. “Tu me tiraste do ventre; Tu me preservaste, estando eu ainda aos seios de minha mãe. Sobre Ti fui lançado desde a madre; Tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe” (Sl 22,9-10).

De fato, a prática de batizar os filhos vem desde o princípio do Cristianismo. Padres da Igreja primitiva, como Santo Irineu (século II), também atestam que desde o tempo dos Apóstolos a Igreja batiza os pequeninos. Se as crianças ainda não têm fé e não podem escolher por si próprias, são batizadas na Fé da Igreja, representadas por seus pais e padrinhos.

Por fim, retomamos a questão da comparação feita por São Paulo entre a circuncisão e o Batismo, já que este, na Nova e Eterna Aliança, é o mesmo que foi a circuncisão na Antiga Aliança: o rito de entrada para o Povo de Deus (Cl 2, 11-12). Considere-se, então, que os judeus eram circuncidados e admitidos como membros do povo de Israel aos oito dias de vida, e, claro, não se perguntava se esses bebês o queriam ou não. Seus pais, por crerem em Deus e amar seus filhos, davam-lhes o maior presente que podiam: a fé no Deus Vivo e Verdadeiro. Exatamente o mesmo, neste sentido, se dá no Batismo.

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