Módulo 11: História da Igreja 1 | o Batismo


Havia, entre todas as igrejas ou comunidades (dioceses e paróquias) da Igreja infante, laços demasiado sólidos entre seus fiéis apaixonados por Jesus, o Senhor e misericordioso Salvador de todos, para que tendências, preferências e fraquezas da natureza humana viessem a comprometer gravemente sua admirável unidade, que muito chamava a atenção dos de fora.


Se não podemos conhecer em minúcias sobre a organização da Igreja primitiva, dos ritos e observâncias que caracterizavam os primeiros fiéis, podemos distinguir as grandes práticas fundamentais que constituíram desde sempre a base da vida religiosa cristã: os Sacramentos, a Missa, o amor-ágape fraterno, a correção moral, a ascese.

Quanto ao batismo, tanto os Atos como as Epístolas de São Paulo revelam com clareza que as primeiras Igrejas o consideram indispensável e que todo novo adepto o recebia no momento de sua conversão-admissão. Não por quo próprio Jesus fora batizado por João Batista, como ingenuamente imaginam alguns. Pois o rito cristão possui significados próprios e totalmente distintos. O batismo de João distinguia-se das abluções judaicas e dos mikweh rituais pelo fato de ser um “ batismo de penitência”. Mas o Sacramento do Batismo representa a perfeita purificação e a renovação da alma, e ainda mais. São Paulo, ao encontrar em Éfeso os que tinham sido batizados por João, revelou a estes que o rito praticado por eles não era suficiente, e então os batizou definitivamente, tornando-os membros da Igreja (At 19,1-5 ). Qualquer estudo abrangente da realidade da Igreja em seus inícios deve contemplar com especial atenção a realidade do Batismo dos cristãos – o Batismo Sacramento –, não só em razão de sua importância propriamente histórica como para que se saiba reconhecer a sua absoluta originalidade e dissipar dúvidas e equívocos comuns.


O batismo de João e o Batismo cristão


Ninguém pode compreender o Batismo dos cristãos sem considerar a Ressurreição de Jesus Cristo. Na madrugada daquele domingo glorioso que mudou radicalmente a história humana, o Pai derramou o Espírito Santo, Espírito de Ressurreição, sobre o Filho: seu Corpo e Alma foram ressuscitados. Jesus ficou pleno do Espírito Santo, de modo que sua natureza humana tornou-se gloriosa: Jesus foi manifestado na carne (natureza humana) e justificado (e ressuscitado) pelo Espírito (1Tm 3,16).

Jesus Cristo, glorificado pelo Espírito Santo, entrou no Cenáculo de Jerusalém e derramou o Espírito da Ressurreição sobre os Apóstolos: “A paz esteja convosco! Recebei o Espírito Santo!”. Jesus recebeu do Pai o Espírito Santo prometido, batizou n’Ele a Igreja e derramou sobre nós este mesmo Espírito ((Jo 20, 19-22; At 2, 32).

João Batista já havia profetizado: “Eu batizo com água, mas vem Aquele que batizará com o Espírito e com Fogo” (Jo 1,33; Lc 3,16). O batismo de João, nas águas, era preparatório para a vinda do Messias: ainda não era o Sacramento do Batismo, não era o Batismo cristão. É o Messias, isto é, o Ungido no Espírito de Ressurreição, quem batizará no Espírito. Cristo mesmo diz: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, o Senhor me ungiu” (Lc 4,18). Os cristãos, portanto, nunca tiveram “batismo nas águas”: o Batismo da Igreja é, realmente, no Espírito Santo. Falar em “batismo nas águas” é voltar ao Antigo Testamento; é parar em João Batista e desprezar o Sacramento do Batismo trazido por Cristo. Por isso mesmo, o batismo da Igreja nunca necessitou ser feito por imersão.

Foi no Domingo da Páscoa que os Apóstolos tornaram-se realmente cristãos; receberam a vida nova do Ressuscitado, foram transfigurados em Cristo; aí nasceu a Igreja: na Ressurreição. Aí ela foi batizada e recebeu o poder de batizar: “Como o Pai me enviou, assim Eu vos envio (Jo 20,21)”. Assim, a Igreja deveria batizar todo aquele que crê. Isso significa acolher Jesus Ressuscitado nas águas do Batismo. A palavra “batizar” vem do grego e significa, literalmente, “mergulhar, imergir”. Não significa, todavia, mergulhar na água, e sim a imersão no Espírito Santo de Deus, o Espírito prometido que ressuscitou Jesus! É isso que o Evangelho afirma: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus (Jo 3,5)”. Observe-se: da água, símbolo e sinal do Espírito, renascer do próprio Espírito.

    O mesmo Evangelho confirma: “Jesus, de pé, diz em alta voz: ‘Se alguém tem sede, venha a Mim e beba!’ (...) Ele falava do Espírito que deviam receber os que creram n’Ele...” (Jo 7, 37-39). São Paulo Apóstolo esclareceu melhor: “De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único Corpo (1Cor 12,13)”. Os cristãos não batizam somente na água que purifica o corpo, e sim no Espírito que Jesus dá por sua Ressurreição!

Perdão dos pecados: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em Nome do Senhor Jesus Cristo, para a remissão dos pecados; e recebereis o Dom do Espírito Santo” (At 2,38). Aquele que é batizado, recebendo o Espírito, recebe o perdão dos pecados. 

    O Espírito nos livra, primeiramente, do Pecado Original, já que, pelo simples fato de sermos humanos já nascemos fechados em relação a Deus. Somos membros da humanidade, partilhamos do seu passado, que condiciona o nosso presente, o que somos, pensamos e fazemos, assim como o nosso presente condiciona o futuro dos nossos filhos. São Paulo diz: “Todos pecaram e estão privados da Glória de Deus” (Rm 3,23). O salmista canta: “Minha mãe já me concebeu pecador” (Sl 51,5). Essa força do pecado o Batismo, na potência do Espírito Santo, apaga em nós: “Não existe mais condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8,1). E aos adultos, também os pecados pessoais são perdoados: “Se Cristo está em vós, o corpo está morto pelo pecado, mas o Espírito é vida, pela justiça (Rm 8,2.10)”. O Batismo torna-nos realmente santos; somos santificados pelo Espírito daquele que destruiu o pecado: Cristo Jesus.

Todavia, continuaremos sujeitos aos pecados particulares, pois mesmo aquele que crê em Jesus, pertence à Igreja e procura viver no seu Espírito, ainda experimenta a fraqueza. Isso acontece porque permanece uma tendência, uma inclinação para o pecado. Essa inclinação, segundo as Escrituras, é a concupiscência. O Batismo confere àquele que o recebe a graça da purificação dos pecados. Mas o batizado deve continuar a lutar contra a concupiscência da carne e as cobiças desordenadas até o fim de sua vida neste mundo. A concupiscência não é pecado em si, desde que o cristão a combata: a Sã Doutrina esclarece que a concupiscência nos foi deixada para que possamos “combater o bom combate” (2Tm 4,7). Um mal desejo é concupiscência para o pecado, mas o pecado só se concretiza se consentimos nesse desejo, alimento-o e o satisfazendo. Por isso, Jesus ensina a pedir ao Pai Celestial: “Não nos deixeis cair em tentação”.

Além do perdão do pecado, o Espírito que recebemos no Batismo nos une, incorporando-nos em Cristo como membros de um só Corpo. Se temos o Espírito de Cristo, somos uma só coisa com Ele: “Aquele que se une ao Senhor, constitui com Ele um só Espírito (1Cor 6,17)”. Pelo Batismo, a Vida do Ressuscitado, que é o Santo Espírito, habita o ser humano santificado. Cristo está no homem, e este vive d’Ele e n’Ele! Assim, pode-se dizer que o Batismo “cristifica”. Como São Paulo, podemos dizer: “Já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim” (Gl 2,20).


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