** Disponibilizamos para download neste link a obra “A Subida do Monte Carmelo” juntamente com “Noite Escura” e “Cautelas”, todas de São João da Cruz, traduzidas pelas carmelitas descalças do Convento de Santa Teresa do Rio de Janeiro, com prefácio e introduções do nosso Padre Maurílio T. L. Penido.
Até o décimo volume de nossa formação, apresentamos os iniciais fundamentos da Ascética e da Mística como forma de introduzir nossos estudantes a esses estudos em forma de disciplinas acadêmicas, procurando escapar às ruminações tediosamente demasiadas. A partir desta edição, passamos a apresentar um compêndio mais abrangente que servirá como introdução geral aos nossos estudos subsequentes. Por essa razão, nesta etapa uniremos as partes teórica e mística em um só capítulo, já que essa apresentação servirá geralmente bem aos dois propósitos, como ficará claro. Temos as presentes considerações fundamentadas na direção do Revmo. Pe. Abbé Charbel Santana, SSSp., com base na obra clássica da espiritualidade cristã de São João da Cruz.
“A Subida do Monte Carmelo” é o título de uma obra de São João da Cruz que trata sobre a iniciação à vida interior ou espiritual. “Monte Carmelo” é como o Santo chama essa alegórica “montanha” espiritual à qual todo cristão é chamado a subir. Importa saber que não somente religiosos, consagrados, monges e/ou padres, mas também o leigo comum deve querer empreender essa subida, assim chamada em analogia à subida, isto é, ao progresso interior de cada cristão, que deve prosseguir e aperfeiçoar-se até à divina União, que se dá quando a alma/criatura se une efetivamente ao seu sublime, inacessível, misterioso e amorosíssimo Criador. Assim se alcança o cume da perfeição cristã.
São duas vias para se chegar a esse fim, dois caminhos ou percursos que, ao fim e de fato, resumem-se a um só, para se alcançar o topo dessa montanha espiritual que o Místico chamou de Monte Carmelo. Essas vias são justamente a Ascese e a Mística.
Além dos grandes Santos místicos da Igreja, como o próprio São João da Cruz e Santa Teresa de Jesus, alguns autores importantes que se dedicaram de modo especial à compreensão da espiritualidade cristã, tais como o dominicano Pe. Garrigou Lagrange e o autor da obra clássica que até aqui nos serve de referência, o sulpiciano Pe. Adolphe Tanquerey, ocuparam-se de um problema que tem fundamental importância para a vida de todo cristão católico, mas que hoje, desgraçadamente, encontra-se geralmente esquecido: a Mística.
O leigo comum dos nossos tempos, via de regra, divide seu tempo e suas melhores energias do seguinte modo: antes de tudo, muito se depara com debates acirrados sobre a atual grande crise da Igreja (alguns mais, outros menos, prestam atenção nisso, em busca de uma solução que lhe restitua a paz da alma); acessa notícias relacionadas às realidades eclesiais; aprecia este ou aquele pregador, lendo artigos ou assistindo vídeos nos quais discorre sobre temas pontuais; lê livros e busca aprender sobre disciplinas teológicas que lhe despertam o interesse, tais como estas às quais nos dedicamos nesta formação e outras, como Direito Canônico, Doutrina Social da Igreja, Liturgia, etc. Seja como for, todos esses católicos quase sempre abdicam de uma obrigação primária e essencial que lhes cabe: empregar o tempo e a dedicação – que são absolutamente necessários — às suas próprias almas, isto é, à vida interior.
Assim vemos o tempo sendo impiedosamente desperdiçado, como que num jogo espiritual no qual o demônio tem ditado as cartas: as pobres almas, em sua imensa maioria, dedicam muita atenção às frivolidades e coisas passageiras do mundo, em todo o tempo livre que têm (geralmente escasso), esquecendo-se do mais importante.
Dizendo em outras palavras, em nossos tempos trabalhamos muito. Acordamos cedo todos os dias e precisamos nos entregar à pesada labuta, assumindo a responsabilidade para que possamos honrar as obrigações que nos impõe o nosso estado. Assim passamos todo o dia, todos os dias. No pouco tempo livre que resta, cansados, tentamos relaxar um pouco, e o fazemos jogando nosso tempo fora, com futilidades na internet, em alguma rede social, assistindo séries na TV (geralmente repletas de imoralidades) ou, nos dias de folga, apenas sociabilizando, o que se tornou sinônimo de falar sobre bobagens sem importância com parentes e/ou amigos. Quando se vê, assim se passaram longos anos, talvez mesmo décadas do tempo que nos foi dado neste mundo, sem que sequer nos apercebêssemos do quanto esta vida é fugidia, o quanto o tempo passa rápido e como fizemos tão pouco daquilo com que sonháramos em nossa juventude. Quão pouco do que nos comprometemos a fazer de bem, de bom e de belo, por nós e pelos nossos semelhantes, promessas muitas vezes feitas em oração diante de Deus. Dedicamos tempo a tantas coisas sem importância e não guardamos praticamente nenhum “espaço” em nossas vidas para aquilo que é realmente mais importante: cuidar de nós mesmos.
Tratamos aqui de um “santo egoísmo”, se é que se poderia chamar assim. Porque amar o próximo como a si mesmo só é coisa virtuosa e útil se, antes, amamo-nos a nós mesmos. Se alguém se odeia a si, como poderia amar o outro? E como é que se cuida de si mesmo? Para responder, é preciso, antes, saber o que é este “si”.
O que somos, afinal? Evidentemente, não nos dedicaremos a analisar pergunta tão transcendental aqui e agora, o que nos faria desviar do rumo que nos propomos por um longuíssimo desvio. Basta considerar, de momento, que no ser humano há o ponto de encontro ou a síntese da realidade inteligível e do mundo sensível. Tudo o que se pensa, do Universo físico que nos rodeia, sobre a realidade metafísica, é a partir daquilo que o homem é: a pessoa humana jaz numa singularidade que é corpo e alma, sendo o corpo, tal como o conhecemos, fraco e finito como as realidades terrenas, e a alma, eterna como Deus. Por isso, simplesmente dizendo, é que a nossa busca por Deus precisa se dar na alma, a partir do interior.
Respondit eis et dixit: “Non venit Regnum Dei cum observatione, neque dicent: ‘Ecce hic’ aut: ‘Illic’; ecce enim regnum Dei intra vos est”.
Respondeu-lhes Ele: “O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. Nem se dirá: ‘Ei-lo aqui’; ou: ‘Ei-lo ali’. Pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17,21s[1]).
À pergunta “O que é ascese/estado ascético?”, Tanquerey responde da seguinte maneira: “Ascético é o estado no qual fazemos as práticas espirituais para alcançar a perfeição”. A Teologia ascética, pois, não trata somente de se evitar o pecado (via negativa), mas trata de como se praticar as virtudes, e fazê-lo até o seu grau de perfeição. Dizendo por outras palavras, a Teologia moral vai tratar especialmente do que é pecado e do que não é, enquanto que a Teologia ascética vai tratar das virtudes e de como praticá-las.
Aqui não estamos falando da Lei e dos preceitos a serem praticados para se chegar, ao menos, ao Purgatório, escapando da condenação do Inferno, mas dos caminhos para se chegar ao Céu diretamente, sem a necessidade de se passar pelo Purgatório. Esta é ou deveria ser a vida — o fazer comum — do cristão.
Conf. a tradução da Neo Vulgata – Latina e Clementina.
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