Dizíamos na aula anterior que a Mensagem evangélica visa a pessoa humana como um todo (intelecto, intuição, instinto, emoção), e que portanto a conversão dependerá muito da atitude que cada pessoa adotará diante da vida nova que se lhe oferece – a “vida divina” —, a aceitação ou a rejeição. A quem deseja a Verdade e a Vida, logo se lhe apresentarão argumentos justificativos da crença; a quem não a deseja, não convencerão nem as mais sólidas razões e nem mesmo os mais portentosos milagres, como já vimos aqui. É a honestidade da alma que leva à Verdade da Religião autêntica.
Não quer isso significar – repetimo-lo uma vez mais –, que sejam duvidosos os bons argumentos da Teologia ou discutíveis os verdadeiros milagres; duvidar dessas coisas, muito ao contrário, é sempre imprudente, porém permanecerá sempre possível, como já vimos. Sob a pressão de disposições morais adversas, o espírito não considerará as razões de crer, ou transformará simples dificuldades em insuperáveis contradições.O discurso de São Paulo no Aerópago provocou três reações tipicamente diversas: alguns deixaram a conversão para “uma outra vez”; outros zombaram; só uns poucos abraçaram a Fé (At 17,32-34).
Convém lembrar a parábola do rico avarento, sepultado e condenado ao Inferno, onde se lembra-se dos seus cinco irmãos sobreviventes. Suplica a Abraão que se compadeça e mande Lázaro, o mendigo outrora desprezado, adverti-los para que não venham também eles ao lugar tenebroso. Mas Abraão contesta: “Ainda que ressuscite algum dos mortos, tampouco acreditarão...” (Lc 16,31). Aplicando essa parábola aos judeus, Jesus declarava: “Se Eu não tivesse feito entre eles tais obras, as quais nenhum outro fez, não teriam culpa, mas agora eles as viram e, ainda assim, odiaram-me a Mim e a meu Pai” (Jo 15,24). Tomé queria ver para crer, mas os fariseus viram e ainda assim não creram. Rejeitaram à Verdade encarnada. Que culpa tremenda é esta!
É parte da experiência cotidiana que adolescentes e jovens sem conta caiam na desgraça, porque a Religião lhes propõe algo que é, para eles, um duro freio moral. Na idade em que ebulem os hormônios nos corpos, e a curiosidade para as coisas da vida desperta com furor, para muitos é difícil conter-se, controlar-se, pôr rédeas aos instintos mais baixos aos quais nos leva a nossa natureza decaída. Porém, se nos entregamos aos prazeres da carne na juventude, forma-se um vício quase incorrigível; igualmente nos tornaremos senhores e senhoras de meia idade ainda cobiçosos pelas mesmas sensações.
O homem velho que não soube refrear sua natureza na tenra idade, enriqueceu; e agora, quer trocar de esposa, pois aquela da sua juventude envelheceu também, perdeu a antiga forma que lhe atraía, a rigidez dos contornos, e vê surgir diante dele outras mulheres mais jovens, mais belas e sedutoras. Para outros tantos, as dificuldades das muitas obrigações do estado dos casados lhes pesa – e descobrem, em consequência, a dificuldade de uma Religião que obriga ao Nono Mandamento.
Há outros senhores respeitáveis, ávidos em enriquecer com rapidez, que concluem que a Religião mantenedora do Sétimo e do Décimo Mandamentos é reservada apenas aos simples de espírito, coisa que eles não são. Revoltam-se então contra a Fé, uma revolta condicionada pela inconformidade contra a moral.
Com fina intuição psicológica, o célebre Cardeal Newman muito insistiu sobre a importância dos fatores morais na gênese e conservação da Fé. Quando se anuncia que Cristo é Salvador do mundo, observou ele, certo homem se sente abalado, impressionado, e logo investiga o fato; é uma alma aberta diante da Mensagem divina. Já àquele outro, isso não interessa; permanece imóvel em seu canto, como se lhe anunciassem um evento ocorrido em algum país do outro lado do Globo terrestre: é uma alma fechada ao supranatural.
O primeiro corre ao encontro da Verdade; o segundo entende que ela é que deve correr a procurá-lo, se quiser salvá-lo; aquele quer averiguar sem demora se Deus realmente revelou-se ao mundo; este, espera que alguém o demonstre e lhe prove, mas ainda se lhe oferecerem provas, retrucará com frieza: “Não basta, não aceito”. É um crítico, um juiz do próprio Deus, que, feito homem e humilhado ao extremo por amor, oferece-lhe gratuitamente a salvação. Não é um homem em busca da Verdade, mas um negociante que regateia, quando deveria suplicar para obter a Luz ou os meios de alcançá-la.
Quem ama o pecado não deseja que o Evangelho seja verdadeiro, porque a Verdade não é como ele gostaria que fosse. Não quer esperar, quer o prazer e a alegria aqui e agora. Não quer saber de purificar-se, de humilhar-se, de aprender, de preparar-se, de ceder pelo bem do próximo, de amar e se sacrificar. Quer ser ele o rei e o dono absoluto de todas as coisas. O desfecho de sua vida não é difícil de se prever.
Para os que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, chega a ser assustadora a clareza com que os bons se separam dos maus neste mundo, ainda que estas duas categorias de pessoas vivam e caminhem bem misturadas em nossa realidade presente. Quanto mais clara é essa diferença para Nosso Senhor, que virá para separar o joio do trigo.
E você, dileto estudante? É capaz de dizer com certeza e convicção a qual dos dois grupos pertence?
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