Leia antes "Católico e espírita?" - parte 1
2 - "O Vaticano não soube, porém, senão produzir obras de caráter exclusivamente material." (p. 31):
O festival de equívocos, mentiras e calúnias vai ficando cada vez pior! Segundo o tal “espírito”, que a essa altura eu já posso chamar tranquilamente de diabólico, a Igreja Católica é fútil e nunca criou nada que auxiliasse a elevação da alma humana!
O canto sacro, gregoriano ou franco-romano, a orquestra sinfônica, a arte sacra, a Liturgia, o Cerimonial da Santa Missa, o Matrimônio, os ritos dos Sacramentos, o estudo científico metódico ou método científico, a estruturação dos cemitérios (que resolveram um gravíssimo problema civil e de saúde pública), a arquitetura das igrejas e catedrais (que recriou a maneira de se pensar a engenharia da construção civil), os majestosos vitrais e esculturas que contavam as histórias da Bíblia para os analfabetos, a criação da Universidade, a cartografia, a alfabetização de tantos povos, as centenas de milhares de obras assistenciais e de caridade espalhadas pelo mundo, que foram o auxílio e a esperança dos feridos de guerra, dos doentes, órfãos, idosos, viúvas, inválidos, etc, etc, etc... Nada disso tem valor algum!
Tudo isso é enquadrado pelo espírito maligno ao qual Xavier ousou dar o nome do Filho de Deus, como “obras de caráter exclusivamente material”...
3 – "Ninguém ignora a fortuna gigantesca que se encerra, sem benefício para ninguém, nos pesados cofres do Vaticano." (p. 57)
Pedindo perdão pelo desabafo, digo em primeiríssimo lugar que Xavier e/ou o “espírito Emmanuel” é maledicente ou puramente estúpido. Existe, sim, alguém que ignora a “fortuna gigantesca” do Vaticano: o próprio Vaticano! Se alguém tiver dúvidas a esse respeito, pode por favor ler a matéria publicada na Folha de São Paulo:
“Vaticano apresenta déficit orçamentário pelo terceiro ano consecutivo”.
O Vaticano não é rico, como pensam muitos. Seu maior patrimônio material se restringe, quase que unicamente, ao acervo em obras de arte, estas sim, de valor inestimável. São históricas, belíssimas e impressionantes. Mas isso não é sinônimo de fortuna e grande riqueza para um país. O Vaticano é o menor país do mundo: bem administrado, mas não rico.
4 – “...imensidade de crimes perpetrados à sombra dos confessionários penumbrosos.” (p. 52):
A babaquice elevada à categoria poética! Bem, se o “espírito” conhece tantos crimes assim, que cite pelo menos um! Note-se que a Igreja é Santa e Imaculada, apesar de ser composta também por pessoas sujeitas ao pecado. Evidente que padres, bispos e até alguns Papas, como Alexandre VI, cometeram falhas, algumas graves. Todavia, partindo do pressuposto que o “espírito Emmanuel” é uma “entidade de luz”, de mente elevada, é estranho que se detenha nesse tipo de coisa ao invés de relatar, por exemplo, a glória que foram São Francisco de Assis, São Tomás de Aquino, Santa Teresa de Ávila, São João da Cruz, Santa Teresa do Menino Jesus, São Gregório Magno, São Luiz Rei de França, Santa Catarina de Senna, Santa Perpétua, Santo Agostinho, Santo Afonso de Ligorio, São Jose Maria Escrivar, São Thomas Moore, São João Maria Vianei, São Pio de Pietrelcina, São Pio X, Papa Leão XIII, Santa Rita de Cássia, Santo Antônio, São Bernardo, São Eleutério, etc, etc, etc.
São milhares e milhares de exemplos da mais nobre santidade, contra pouquíssimos casos controversos. Mas o tal “espírito” faz questão de ignorar todo um imenso quadro de luzes e dar notoriedade a uma pequena manchinha no canto da tela: fala dos erros, com maledicência e a clara intenção de minar a confiança das pessoas na Igreja, enquanto ignora toda uma maravilhosa história de 2.000 anos de fé, graça e luta pela justiça, revestida de inúmeros milagres (muitos comparáveis às maravilhas descritas na Bíblia, como os
Milagres Eucarísticos, os
Sinais de Fátima, as
milhares de curas em Lourdes, etc.) e inesgotáveis bençãos.
Como todo caluniador da Igreja sem imaginação, o "espírito" acusa-a de crimes que muitas vezes nem foram cometidos pelos seus filhos, como os excessos ocorridos durante a baixa Idade Média pela população e pela nobreza, sem a aprovação da Igreja, como já vimos
por aqui. Acusar, caluniar, maldizer: estes seriam hábitos de um “espírito de luz”?
6 - "O 'célebre livro de taxas', do tempo de Leão X, em que todos os preços de perdão para os crimes humanos estão estipulados.” (p. 61):
Agora fica cômico. "Célebre livro"?? Bom, o tal “espírito” deve ter uma fonte de informação muito privilegiada mesmo. Tão boa que sabe mais do que o próprio Leão X! Disponho do livro “Compêndio dos Símbolos, Definições e Declarações de Fé e Moral”, dos autores Denzinger e Hünermann, publicado por Paulinas e Loyola. Esta obra, com mais de 1.400 páginas, contém
todos os documentos do Santo Magistério com relação à fé e moral. E estudar os documentos de fé e moral promulgados pelo Papa Leão X é descobrir que não há ali
nada que faça referência ao tal “livro de taxas”.
Já na internet... alguns sites falam sobre uma tal
taxa camarae, promulgada em 1517. Pois bem, os documentos de Leão X estão dispostos da seguinte maneira:
Bula
“Apostollici Regiminis” – 1513;
Bula
“Inter Multiplices” – 1515;
Bula
“Pastor Aeternus Gregem” – 1516 (esta inclusive determina a doutrina das indulgências conforme concebidas nos dias de hoje);
Bula
“Exsurge Domine” – 1520 (Bula de excomunhão de Martinho Lutero).
Não há, portanto,
nenhum documento escrito pelo Papa Leão X, em 1517 ou em qualquer outro ano, que contenha as tais taxas. Mas, segundo o mal informado "espírito", elas seriam "célebres"...
O mais interessante dessa história: as referências da Internet chegam a dar os “preços dos pecados” em libras, moeda corrente do Reino-Unido(?). Mas a moeda utilizada no Vaticano
não era a libra! Estranho, não? Será que o “espírito Emmanuel” ou algum amiguinho dele “iluminou” algum inglês para falsificar as tais taxas secretas? É bom lembrar que a Igreja Católica foi banida da Inglaterra até o século XIX, sendo muito hostilizados os católicos que porventura fossem morar lá ou mesmo visitar a ilha, e até hoje enfrentam restrições naquele país. É... Olhando de perto, a coisa é mais feia do que parece. Não se tratam de apenas erros e enganos, mas de pura má-fé, calúnia e desonestidade.
7 - "...o dogma da Santíssima Trindade é uma adaptação ocidental da Trimurti da antiguidade oriental":
Essa é provavelmente a pior de todas as acusações, e agora a história fica realmente muito séria, incorrendo numa gravidade terrível. Antes de qualquer coisa, quem adaptou e misturou doutrinas religiosas do oriente e do ocidente, numa “salada” absolutamente sincrética e insana foi Alan Kardec. Para chegar à sua doutrina, misturou principalmente elementos do cristianismo com outros do hinduísmo, e chamou de espiritismo, que seria mais propriamente chamado de “loucurismo” ou “bobagismo”.
Recordando que, segundo Jesus Cristo, o único pecado que não será perdoado é a blasfêmia contra o Espírito Santo, perguntamo-nos se o “espírito Emmanuel” teria alguma noção sobre o que a doutrina da Igreja Católica ensina sobre a Santíssima Trindade e o que a doutrina hindu fala sobre a
Trimurti, para chegar a proferir um desvario dessa magnitude. Vejamos:
- Doutrina sobre a Santíssima Trindade: “A fé católica consiste em venerar um só Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade, sem confundir as Pessoas nem separar a Substância; pois uma é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas uma é a Divindade, igual à Glória, coeterna à Majestade do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” (São Tomás de Aquino, Princípio do Símbolo ‘Quicumque’)
- Visão hindu sobre a Trimurti: “O Sanatama Dharma, a teologia hinduísta, se fundamenta no culto aos avatares (manifestação corporal de um ser imortal, por vezes até do Ser Supremo), que muitos hinduístas reverenciam como Deus. Particular destaque é dado à
Trimurti, trio divino composto pelos três principais Deuses: Brahma, o criador; Vishnu, o conservador, e Shiva, o destruidor. O culto direto aos membros da
Trimurti, porém, é relativamente raro: em vez disso, costumam-se cultuar avatares mais específicos e mais próximos da realidade cultural e psicológica dos praticantes, como por exemplo Krishna, Avatar de Vishnu.” (HAZEN, Walter. Inside Hinduism. Missouri: Milliken Publishing, 2003)
Os conceitos divergem completamente. Enquanto a Santíssima Trindade define as Três Pessoas que a compõem como possuidoras da mesma Substância, mesma Divindade, mesma Glória e mesma Majestade, na
Trimurti as divindades são três deuses distintos ou, em outras interpretações, três aspectos do Divino Absoluto.
Assim, podemos ver que, na imaginação de Xavier e do “espírito Emmanuel”, os Papas tiveram que fazer um grande esforço para criar o “mito da Santíssima Trindade”. O mais inacreditável é a coragem para afirmar tal barbaridade mesmo com as abundantes referências disponíveis a respeito da mesma Santíssima Trindade, tanto na Bíblia Sagrada quanto em diversos documentos históricos do princípio da Igreja.
“Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” ( Mateus 28, 19)
No Século I, São Policarpo em Seu Martírio, delcara: “A Ele [Jesus Cristo] seja dada a glória, com o Pai e o Espírito Santo, pelos séculos dos séculos. Amém”. [PADOVESE, Introdução à Teologia Patrística - 2ª edição. São Paulo: Loyola, 2004.]
Na obra do Pastor de Hermas (entre os séculos I e II), encontramos a seguinte explanação: “O Espírito Santo, que é preexistente, que criou todas as coisas, Deus o fez habitar no corpo de carne que Ele quis. Pois bem. Esta carne em que o Espírito Santo habitou serviu bem ao Espírito, caminhando em santidade e pureza, sem macular absolutamente nada o mesmo Espírito. Como tinha, pois, levado uma conduta excelente e pura, e tomado parte em todo trabalho do Espírito e cooperado com Ele em todo negócio, portando-se sempre forte e valorosamente, Deus a tornou partícipe juntamente com o Espírito Santo. Com efeito, a conduta desta carne agradou a Deus, por não ter se maculado sobre a Terra enquanto teve consigo o Espírito Santo. Assim, pois, tomou por conselheiro a seu Filho e os anjos gloriosos para que esta carne, que tinha servido sem reprovação ao Espírito, alcançasse também algum lugar de repouso e não parecesse ter perdido a recompensa pelo seu serviço, porque toda a carne em que habitou o Espírito Santo, se encontrada pura e sem mancha, receberá sua recompensa” (5ª Parábola, 6,5-7). [LADARIA, Luis F. O Deus Vivo e Verdadeiro. São Paulo: Loyola, 2005.]
Aristides (Séc. II): “Este teve doze discípulos, os quais, após sua ascensão aos céus, percorreram as províncias do Império e ensinaram a grandeza de Cristo, de modo que um deles percorreu aqui mesmo, pregando a doutrina da verdade, pois conhecem o Deus criador e artífice do universo em seu Filho Unigênito e no Espírito Santo, não adorando nenhum outro Deus além deste” (Apologia 15,2). [COLLINS, Michael & PRICE, Matthew A. História do Cristianismo - 2000 Anos de Fé. São Paulo: Loyola, 2000.]
Atenágoras de Atenas (Séc. II): “Assim, pois, suficientemente resta demonstrado que não somos ateus, pois admitimos um só Deus Incriado e Eterno, e Invisível, Impassível, Incompreensível e Imenso … Quem, portanto, não se surpreenderá de ouvir chamar de ‘ateus’ aqueles que admitem um Deus Pai, um Deus Filho e um Espírito Santo, que demonstram seu poder na unidade e sua distinção na ordem?” (Súplica em Favor dos Cristãos 10).[MORESCHINI, Claudio & NORELLI, Enrico. História da Literatura Cristã Antiga Grega e Latina. São Paulo: Loyola, 1996.]
Comprovado está, mais uma vez, que Chico Xavier e o “espírito Emmanuel” mentem: a doutrina da Santíssima Trindade é fundamental para a sustentação do Edifício de Fé do Cristão desde os primórdios da Igreja.
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Como vimos, as “revelações” do “espírito Emmanuel”, se examinadas a fundo, não passam de pura mentira, maledicência, distorção e blasfêmia. A propaganda que a mídia promove a respeito de Chico Xavier, infelizmente, de fato anestesiou a mente de muitos brasileiros com relação à enxurrada de erros, calúnias, tolices e pecados substanciais contidos em seus escritos. Mas é obrigação de todo aquele que conhece a Verdade propagá-la e combater o engano provocado pela mentira e pelo seu autor principal.
Para os católicos, lembramos que é pecado a participação no espiritismo, pois entende a Igreja que a doutrina espírita é nociva para a nossa alma, afastando o homem da Salvação Eterna e das Bem-aventuranças no Céu. Quem tiver entendimento para entender, entenda.
Baseado em texto do site Sentinela Católico
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