A intercessão dos santos e a Bíblia Sagrada


UM POST deste blog, publicado já há mais de dois anos, continua suscitando comentários com contestações e dúvidas. Trata-se do artigo que intitulamos "Os santos podem interceder por nós?", que apresenta a resposta às 5 principais contestações à doutrina da intercessão dos santos, além de uma seleção de citações de documentos da Igreja primitiva. Cremos que o artigo é completo e bastante esclarecedor por si mesmo. Mesmo assim, dificilmente passa uma semana sem que alguém apareça para perguntar novamente o que ele já responde. Achamos por bem publicar este novo artigo, mais simples e resumido, explicando o mesmo de uma outra maneira, na esperança de dissipar as velhas dúvidas e as acusações sempre recorrentes.

Começamos com a passagem da primeira carta de S. Paulo a Timóteo que é sempre citada nessa discussão: “Pois há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo homem, que Se entregou para resgatar a todos (1 Tm 2, 5-6).

Isso significa que os santos não podem interceder uns pelos outros junto a Deus? Não. A doutrina cristã católica e bíblica diz que eles podem, sim, na medida de sua comunhão com Jesus Cristo, Deus e Salvador de todos. Vejamos melhor e tratemos de comprovar o que estamos afirmando...

S. Paulo Apóstolo usa a palavra Mediador com o sentido de Salvador. De fato, somente Jesus é capaz de assumir a mediação pela nossa salvação junto a Deus Pai, isto é, somente Ele nos reconcilia com o Pai, pois somente Ele morreu na cruz para nos salvar, e somente Ele mesmo poderia fazê-lo, porque somente Ele é Deus. Observou a quantidade de vezes que usamos a palavra "somente" na última frase? Foi proposital, pois Jesus é totalmente exclusivo e incomparável. Jesus é o Centro, o Princípio e o Fim de todas as coisas, e também de nossa fé.

Os santos não podem salvar ninguém, e mesmo a Virgem Maria, mãe de Deus e da Igreja, cheia de Graça, escolhida e preparada desde o princípio para assumir seu papel fundamental no plano divino da salvação, também é dependente da salvação do Cristo. Maria Santíssima e todos os santos, sem Jesus, são nada. Jesus, sem todos os santos, continua sendo Deus.

Ele mesmo, porém, - o Deus Uno e Trino, que é Todo-Poderoso e Autossuficiente em Si mesmo, - quis contar com o auxílio dos santos, que podem, - porque Deus assim determinou e não por seus próprios poderes, - interceder por nós junto a Deus, pois são membros do Corpo de Cristo, assim como nós somos. Esse Corpo é a Igreja, como explica S. Paulo (1Cor 12). Assim, os membros desse Corpo Santo participam, em algum nível, também de Sua ação mediadora. A Bíblia confirma esta realidade em quatro pontos principais:

1. Os cristãos fazem orações pedindo uns pelos outros, e devem fazê-lo; ora, quem pede por alguém intercede por esse alguém. Os santos são, portanto, intercessores uns pelos outros. Leia Tiago 5, 14 a 16 e 1 Timóteo 2, 1.

2. Os santos, isto é, aqueles que aderem de corpo e alma ao Evangelho de Nosso Senhor, nascem novamente, para uma vida nova e eterna, portanto estão vivos na Terra e continuam ainda mais vivos no Céu, junto a Deus. Assim é que podem realizar grandes obras, tal como Cristo, pois permanecem nEle, como seus membros. Leia Jo 11,25 a 26. 

3. Todo cristão batizado exerce um “sacerdócio régio”. Leia 1 Pedro 2, 9.

4. Jesus Cristo vincula o perdão dos pecados à mediação dos seus Apóstolos, isto é, da Igreja. Leia Jo 20, 22 a 23.



Para desespero dos filhos de Lutero, Calvino e Cia., todos esses quatro pontos constituem ações de… mediação! E isso faz muito sentido: segundo S. Pedro, os cristãos são “participantes da Natureza Divina” (2Pd 1,4), e S. Paulo diz: “Eu vivo, mas já não eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). Se Cristo vive na pessoa, Ele realiza Suas maravilhas por meio dela. Por meio de = mediação. Assim, diz Jesus: “Não é na vossa Lei que está escrito: ‘Eu disse: vós sois deuses’? Ninguém pode anular a Escritura. Ora, a Lei chama deuses as pessoas às quais a Palavra de Deus foi dirigida” (Jo 10,34-35)! Que tremenda graça é esta, que recebem os santos?!

Em Atos, está dito que os Apóstolos impuseram as mãos sobre as pessoas e elas receberam o Espírito Santo. Se a intercessão dos santos não fosse uma realidade, isso seria impossível: aquelas pessoas deveriam receber o Espírito Santo diretamente de Deus, sem a mediação dos Apóstolos. Seria um tipo de "auto-unção". 

Por tudo isso e muito mais, se alguém diz que os membros do Corpo de Cristo não participam de sua Mediação para a concessão das graças, deve necessariamente dizer que a Bíblia se contradiz. A Sagrada Escritura, porém, é perfeita, e nela não há confusão.

Quanto mais perfeita é a comunhão de um membro com o Corpo de Cristo, mais perfeita também é a sua capacidade de intercessão. Por isso, o povo católico pede a intercessão, em especial, daqueles cristãos cuja santidade é notável. S. Tiago ensina que “A oração do justo tem grande eficácia” (Tg 5, 14-16). - Curiosamente, os protestantes pedem bênçãos e orações aos seus "pastores". Ora, porque não pedem as bênçãos diretamente a Jesus, já que entendem que Ele é radicalmente, literal e estritamente, o único Mediador? Uma pergunta sem resposta.

As Escrituras não deixam margem para dúvidas: os cristãos, – vivos na Terra ou no Céu, – participam da Natureza divina como membros do Corpo de Cristo, e isso permite que intercedam uns pelos outros junto ao Pai. Respondamos, neste ponto, a uma objeção frequente: se os santos no Céu não são oniscientes nem onipresentes, como podem conhecer os pedidos dos cristãos aqui na Terra?

A resposta é muito simples: assim como nossa cabeça se comunica com todos os membros do nosso corpo, comandando-os, igualmente Cristo, Cabeça da Igreja, permite a comunicação com todos os membros de Seu Corpo Místico, – os batizados, – e em especial entre aqueles que estão mais perfeitamente ligados a Ele: os santos.

Assim, os santos não tomam conhecimento de nossas súplicas por capacidade própria, mas sim por meio da onisciência e onipresença de Jesus Cristo, ao qual estão ligados. E assim são autorizados a saber tudo o que for necessário. 

No Antigo Testamento, a intercessão dos santos é explícita. Foi pela oração de Moisés que a mulher de Aarão livrou-se da lepra (Nm 12, 10-15); foi pelo clamor de Elias que o filho da viúva de Sarepta ressuscitou (I Reis 17, 19-24); foi pela intercessão de Jó que o Senhor perdoou Elifaz e seus companheiros (Jo 42, 8).

Ora, não poderia a mulher de Aarão ter pedido diretamente a Deus? Sim, poderia. Mas seu marido pediu a intercessão de Moisés. E não poderia a viúva ter pedido pela vida do filho diretamente a Deus? Sim. Mas entregou sua angústia ao profeta Elias. E quanto a Elifaz, teve que pedir a intercessão de Jó, do contrário, Deus não o atenderia.


Intercessão dos santos, vivos na Terra e ainda mais vivos no Céu

Apreciemos o Novo Testamento: S. Paulo e S. Tiago recomendam vivamente que intercedamos uns pelos outros junto a Deus: “Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, súplicas, ações de graças por todos os homens" (1Tm 2, 1).

“Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá. Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração do justo tem grande eficácia.” (Tg 5, 14-16)

Verdade bíblica inquestionável: os cristãos intercedem uns pelos outros. Importantíssimo: essa intercessão não cessa após a morte. No livro do Apocalipse está dito que os santos mártires clamam a Deus para que seu sangue derramado seja vingado (Ap 6, 9-10). S. João Evangelista também viu as almas daqueles que foram purificados pelo Sangue de Cristo, diante do Trono de Deus, servindo-O dia e noite (Ap 7,15).

Fato: os santos falecidos não estão mortos, nem dormindo, mas vivos em plenitude, conscientes de tudo o que acontece na Terra, servindo a Deus diante de Deus. Afinal, como disse Jesus, o SENHOR “não é Deus dos mortos, mas dos vivos” (Mt 22, 32).

Outra evidência bíblica: o Segundo Livro de Macabeus descreve sua visão de Jeremias, já falecido, orando e intercedendo pelo povo judeu (2Mac 15, 12-14). Esse trecho das Escrituras basta para demolir definitivamente a tese protestante de que os santos falecidos não intercedem por nós.



Os santos obtém milagres e graças por nós, estejam vivos ou "mortos"  (para este mundo)

Nos Evangelhos e nos Atos, vemos que os Apóstolos expulsam demônios e realizam curas, pelo Nome de Jesus. Mas a Bíblia demonstra que mesmo depois de mortos (para este mundo), os santos obtém milagres: um morto ressuscitou após seu corpo tocar nos ossos do falecido profeta Eliseu (2Rs 13, 20-21)! Ainda no Antigo Testamento, o profeta Eliseu bate com o manto do falecido profeta Elias na água, e então o rio se divide em duas partes, para que ele atravesse (II Rs 2, 13-14). No Novo Testamento, vemos que Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de S. Paulo, de modo que lenços e panos que tinham tocado seu corpo eram levados aos enfermos, e afastavam-se os espíritos malignos (Atos 19, 11-12). Já de S. Pedro, o primeiro Papa, a Escritura relata como, até por se colocarem sob sua sombra, obtinham a cura os enfermos (At 5, 15-16)!

“Em verdade eu vos digo: quem crê em Mim fará as obras que Eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai.”
- Jesus Cristo (Jo 14,12)

É escandaloso que pobres homens, cuja carne um dia a terra há de comer, realizem milagres iguais aos de Jesus… ou ainda maiores que os que Ele fez! Entretanto, foi isso que o Senhor mesmo disse. Mas será que esses pobres homens e mulheres tem grandes poderes algo por eles mesmos? Não, o poder é todo de Cristo. Os santos são somente intercessores: Deus realiza por meio (mediação) deles. Para que fique claro, neste ponto insistimos mais uma vez que se trata de uma mediação diferente da Mediação exclusiva de Nosso Senhor, que é a única que nos salva e resgata do pecado e da morte.


A confissão dos pecados

Antes de subir aos Céus, Jesus vinculou o perdão dos pecados à mediação dos seus discípulos (Jo 20,22-23). Só quem eles perdoassem teriam os pecados perdoados; do contrário, nada feito! O Sacramento da Confissão, obviamente, não cessou com a morte desses primeiros ungidos, mas teve continuidade por meio de seus sucessores, os sacerdotes da Santa Igreja Católica.

São Tiago reafirma essa ordem: “Confessai os vossos pecados uns aos outros” (Tgo 5, 16). Como o explicam aqueles que dizem que o único Mediador é Jesus, em sentido absoluto, isolado dos membros do próprio Seu Corpo? Não explicam. A Escritura diz que temos que confessar nossas culpas a outros pecadores como nós, e não basta confessá-los diretamente a Deus. Precisamos de mediadores humanos, participantes da missão mediadora d’Aquele que é o único Mediador: Jesus Cristo.

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Ref.:
Artigo "Intercessão dos santos – versão bíblica e versão crente", do blog "O Catequista", disponível em:
http://ocatequista.com.br/archives/11796
Acesso 17/1/014
ofielcatolico.blogspot.com

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