A Santa Missa - Celebração Eucarística


A Celebração Eucarística, conhecida por Missa, foi instituída por Jesus Cristo na noite da Quinta-feira Santa, antes de morrer. Tomando pão e vinho, deu graças, abençoou-os e distribuiu-os aos discípulos, dizendo: «Tomai: isto é o meu Corpo. (...) Isto é o meu sangue» (Mc 14, 22. 24). Ao final, pediu-lhes que repetissem essa ceia sagrada em Sua memória.

Assim fizeram os discípulos de Jesus, os primeiros cristãos, e nunca deixaram de obedecer, continuando sempre, ano após ano, século após século, sucessivamente, até chegar aos nossos dias.  Todo fiel batizado e devidamente instruído podia se aproximar da mesa da Eucaristia. Todos os domingos, os cristãos se reuniam na casa de alguém, - muitas vezes a casa espaçosa de um rico convertido, - para celebrar a Santa Missa (o termo 'missa' vem do latim 'ite missa est', que era dito pelo diácono na despedida dos fiéis, a partir do século IV). Nos tempos da perseguição romana, muitos fiéis iam às catacumbas para celebrar, onde era mais seguro.

Faziam-se leituras do Antigo Testamento e das cartas dos Apóstolos. Em seguida, o presidente exortava a assembléia, com base na Palavra proclamada. Era a homilia, um termo grego que significa "conversa familiar", e era usada como uma espécie de continuidade do diálogo que Deus veio realizar conosco através das leituras proclamadas, relacionando-as aos fatos da vida comum. Acreditava-se que Cristo "está presente na sua Palavra, quando na Igreja se lê e comenta a Escritura". Esta afirmação de um documento da Igreja nos lembra a experiência dos discípulos de Emaús, que "sentiram o coração arder" quando pelo caminho Jesus lhes falava e explicava as Escrituras (Lc 24,32).

Após a homilia, os fiéis faziam suas preces e ofertavam no Altar o pão, o vinho e a água. O presidente dizia então as preces e ações de graças, repetia as palavras de Jesus na última ceia, consagrando o pão e o vinho, e iniciava a distribuição da Eucaristia. Os diáconos levavam parte do alimento consagrado para os ausentes. Os fiéis mais generosos entregavam doações ao presidente, que as dividia entre os órfãos, as viúvas, os doentes, os estrangeiros, os encarcerados.

Como vemos, o culto cristão já era, desde o começo da Igreja, a mesma Celebração Eucarística que a Igreja mantém até os nossos dias. Pouco a pouco, organizou-se um ciclo litúrgico, sendo sempre Jesus Cristo o centro da de fé e da prática cristã. No correr dos tempos, o ritual da Missa passou por pequenas alterações, até chegar ao que é hoje. Desde os primórdios, porém, se manteve a mesma estrutura, que divide a Celebração em dois momentos essenciais: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística.

Na primeira parte, dá-se especial atenção aos textos bíblicos. Nos primeiros séculos, eram lidas as Cartas dos Apóstolos, e depois os Evangelhos. O presidente da Celebração fazia, em seguida, uma breve meditação sobre o que havia acabado de ser lido e partilhava-a com todos os presentes. No fim, todos juntos rezavam, pedindo por toda a Igreja. A segunda parte da celebração dedicava-se à Consagração do Pão e do Vinho, e à Sagrada Comunhão.

A Didaqué, um documento escrito pelos primeiríssimos cristãos no século I, antes de alguns livros da própria Bíblia Cristã, e cerca de dois séculos antes da definição do cânon bíblico, apresenta as fórmulas que eram usadas para a Consagração na Eucaristia.

Durante os primeiros séculos, a celebração da Missa era bastante simples e evitava tudo o que pudesse desviar a atenção do Mistério central. A partir do segundo milênio, surgiram ligeiras alterações. Introduziu-se o Sacrário, que possui tanta importância quanto a Mesa do Sacrifício, o Altar. O Pão e o Vinho continuaram sendo os elementos centrais de toda a Celebração, com a leitura da Palavra num plano secundário.

Anos mais tarde, a Igreja decidiu que a Missa deveria ser um ritual uniformizado, e por isso passou a ser celebrada em latim em todos as nações da Terra. Além disso, o Altar foi acomodado encostado à parede, por padrão, e o sacerdote celebrava voltado para ele, juntamente com os fieis. Aqui cabe uma explicação: neste tipo de Celebração Eucarística, que ainda é praticada hoje, não é que o sacerdote celebre de costas para a assembleia, mas sim ele celebra juntamente com a assembleia, todos juntos voltados em direção ao Altar. Os fiéis participam de maneira diferente da atual Celebração mais comum, chamada "Nova Missa". Aguardavam o momento da Comunhão e/ou a Adoração ao Santíssimo Sacramento.

O ritual da Celebração Eucarística se tornou bastante elaborado no período barroco: foram instalados grandes e belíssimos ornamentos nas igrejas, ampliou-se o uso do incenso e os coros organistas proporcionavam autênticos concertos que deslumbravam a assembleia dos fieis. Estas foram algumas das inovações desta época, que se por um lado embelezaram e tinham a finalidade de elevar os espíritos, segundo alguns críticos trouxeram o risco de distrair a atenção das pessoas do essencial da Celebração: o Sacrifício de Jesus Cristo.


A partir de certa altura da História, em fins do século XIX e princípio do século XX, a Igreja entendeu que o ritual que então se celebrava havia se afastado bastante do original dos primeiros séculos, e sentiu a necessidade de retornar às origens. O Papa João XXIII convocou os bispos de todo o mundo para uma grande reunião com vista a reformar alguns aspectos do culto da Igreja, entre os quais a Celebração da Eucaristia. No dia 11 de outubro de 1962 começaram oficialmente os trabalhos do Concílio Vaticano II, de grande importância na história da Igreja.

Do Vaticano II saíram importantes reformas para a vida da Igreja, muitas delas dirigidas à forma como até então se celebrava a Missa. O altar passou a tomar um lugar central, sendo colocado diante de todos. A Missa passou a ser celebrada em vernáculo (na língua própria de cada país) e o ambão (de onde se fazem as leituras) tomou um lugar de destaque, de modo a que toda a assembleia pudesse participar mais ativamente na Celebração. A Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística se uniram como partes essenciais do ritual. A Missa tornou-se mais comunitária, e os fiéis foram convidados a desempenhar ministérios na Ceia do Senhor, como leitores, cantores, acólitos, etc.

Atualmente celebra-se usualmente a Missa de acordo com as reformas instituídas pelo Concílio Vaticano II. No entanto, o Papa Bento XVI permitiu que fosse celebrada também a Missa Tridentina, isto é, a Missa em latim, também conhecida como "Missa de Sempre", de acordo com o missal publicado no século XVI por S. Pio V, renovado em 1962 pelo Papa João XXIII. Salienteou o Papa Bento XVI: «Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de repente proibido ou mesmo considerado prejudicial. Faz-nos bem a todos conservar as riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar» - Bento XVI, Carta aos Bispos a propósito da publicação do motu proprio Summorum Pontificum, sobre a liturgia latina.

Apesar das mudanças ao longo dos séculos, a base da Missa permaneceu sempre a mesma. A estrutura pode ter mudado ligeiramente, mas o Mistério manteve-se e continua a alimentar a vida da Igreja, e assim haverá de ser para sempre, até o fim deste mundo. Amem; amem.

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Fontes e bibliografia:
GIRAUDO, Cesare. Redescobrindo a Eucaristia, 4ª ed. São Paulo: Loyola, 2003
São Justino, mártir, escreveu no ano 155 d.C
MORESCHINI, Claudio & NORELLI, Enrico. História da Literatura Cristã Antiga, Grega
e Latina. São Paulo? Loyola, 1996-

3 comentários:

  1. Muito bom o artigo irmão, fique com Deus.

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  2. Uma curiosidade. Gostaria de saber a história de uma provável papisa que os evangélicos teimam que existiu, que por acaso governou a Igreja por 3 anos, até ser descoberta a sua falsa identidade de mulher se passando por homem! O que há de verdade ou fantasia nessa história? Eu não consigo imaginar uma mulher, por mais ardilosa que ela seja, enganar tanta gente por tanto tempo...

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    1. Prezado Pedro,

      Para atacar e denegrir a imagem da Igreja vale tudo, até afirmar que as mais absurdas lendas e fábulas sejam fatos históricos. Esta é tão ridícula quanto aquela de dizer que Constantino fundou a Igreja... Lamentável.

      Houve mesmo uma "papisa Joana"? Quem possui algum conhecimento de História não tem nenhuma dúvida de que se trata de uma velha lenda, até bem pouco tempo esquecida na imaginação popular, mas que de tempos em tempos é relembrada por algum inimigo da Igreja.

      No dicionário histórico de Pedro Bayle, publicado no fim do século XVII, consta essa curiosa, inventiva e romanesca história da tal "papisa". Está classificada como fábula romanceada e, claro, historicamente ridícula.

      Se consultarmos os documentos da época em questão, assim como dos dois séculos seguintes, veremos que não há absolutamente nenhuma referência a essa personagem, - que se tivesse realmente existido, evidentemente teria causado grande alvoroço em sua época, e teria passado à posteridade com toda a clareza e riqueza de detalhes. Um escândalo dessa magnitude não seria jamais esquecido.

      Mais ou menos como acontece com as lendas de Robin Hood, do Rei Arthur ou do Mago Merlin, os romancistas que falam da "papisa" não concordam com relação à data de sua existência, nem quanto à sua nacionalidade e nem mesmo quanto ao seu nome... Alguns afirmam que ela teria reinado entre 855 e 915; outros, entre 1087 e 1100(!).

      A má intenção dos ignorantes que pretendem afirmar que tal figura tenha realmente existido fica muito clara, simplesmente, quanto demonstramos que em nenhuma destas datas houve qualquer interrupção na lista histórica e comprovada dos Papas que governaram a Igreja.

      Infelizmente, o rancor gratuito daqueles que odeiam a Igreja é tão irracional que usam de qualquer desculpa, sem nenhum escrúpulo. E há uma impressão geral de que ultimamente a situação tem piorado...

      Abraço fraterno, e a Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo
      Apostolado Voz da Igreja

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