O que é a oração?


Sobre a Oração

Jesus contou também a seguinte parábola para alguns que confiavam em si mesmos, tendo-se por justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao Templo para orar; um era fariseu, o outro, um cobrador de impostos. O fariseu rezava, de pé, desta maneira: Ó meu Deus, eu te agradeço por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos, adúlteros, nem mesmo como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana, pago o dízimo de tudo que possuo. Mas o cobrador de impostos, parado à distância, nem se atrevia a levantar os olhos para o céu. Batia no peito, dizendo: Ó meu Deus, tem piedade de mim, pecador!

Eu vos digo: Este voltou justificado para casa e não aquele. Porque todo aquele que se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado(Lc 18, 9-14).

E quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas das praças para serem vistos pelos outros. Eu vos garanto: eles já receberam a recompensa. Mas quando rezares entra no teu quarto, fecha a porta e reza ao teu Pai que está no oculto. E o Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa. E nas orações não faleis muitas palavras, como os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por causa das muitas palavras. Não os imiteis, pois o Pai já sabe de vossas necessidades antes mesmo de pedirdes(Mt 6, 2-9).

Que é a oração?

A oração é uma elevação da alma a Deus, para adorá-Lo, para Lhe dar graças e para Lhe pedir aquilo de que precisamos.

Como se divide a oração?

A oração divide-se em mental e vocal. Oração mental é a que se faz só com a alma; oração vocal a que se faz com as palavras acompanhadas da atenção do espírito e da devoção do coração.

Pode dividir-se de outra maneira a oração?

A oração pode também dividir-se em particular e pública.

Que é a oração particular?

A oração particular é a que faz cada um em particular, por si ou pelos outros.

Que é a oração pública?

A oração pública é a que fazem os ministros sagrados, em nome da Igreja, e pela salvação do povo fiel. Pode-se chamar pública também a oração feita em comum e publicamente pelos fiéis, como nas procissões, nas peregrinações e na Igreja.

Temos nós esperança fundamentada de obter por meio da oração os auxílios e graças de que necessitamos?

A esperança de obter de Deus as graças de que necessitamos, é fundamentada nas promessas de Deus onipotente, muito misericordioso e fidelíssimo, e nos merecimentos de Jesus Cristo.

Em nome de quem devemos pedir a Deus as graças de que necessitamos?

Devemos pedir a Deus as graças de que necessitamos, em nome de Jesus Cristo, como Ele mesmo nos ensinou e como pratica a Igreja, a qual termina sempre as suas orações com estas palavras: per Dorninum nostrum Jesurn Christurn, que quer dizer: por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por que devemos pedir a Deus as graças em nome de Jesus Cristo?

Devemos pedir as graças em nome de Jesus Cristo, porque, sendo Ele o nosso mediador, só por meio DELE podemos aproximar-nos do trono de Deus.

Se a oração tem tanta eficácia, como é que tantas vezes não são atendidas as nossas orações?

Muitas vezes as nossas orações não são atendidas, ou porque pedimos coisas que não convêm à nossa eterna salvação, ou porque não pedimos como deveríamos.

Quais são as coisas que principalmente devemos pedir a Deus?

Devemos principalmente pedir a Deus a sua glória, a nossa salvação e os meios para consegui-la.

Não é também lícito pedir bens temporais?

Sim, é também lícito pedir a Deus os bens temporais, sempre com a condição de que sejam conformes à Sua Santíssima Vontade, e não sejam obstáculo à nossa eterna salvação.

Se Deus sabe tudo aquilo de que necessitamos, por que devemos rezar?

Embora Deus saiba tudo aquilo de que necessitamos , quer todavia que nós Lho peçamos, para reconhecermos que é Ele que dá todos os bens, para Lhe testemunharmos a nossa humilde submissão, e para merecermos os seus favores.

Qual é a primeira e a melhor disposição para tornar eficazes as nossas orações?

A primeira e a melhor disposição, para tornar eficazes as nossas orações, é estar em estado de graça, ou, não o estando, ao menos desejar recuperar esse estado.

Que mais disposições se requerem para bem orar?

Para bem orar requerem-se especialmente o recolhimento, a humildade, a confiança, a perseverança e a resignação.

Que quer dizer orar com recolhimento?

Quer dizer: pensar que estamos a falar com Deus; e por isso devemos orar com todo o respeito e a devoção possíveis, evitando, quanto for possível, as distrações, isto é, todo o pensamento estranho à oração.

Diminuem as distrações o merecimento da oração?

Sim, quando nós mesmos as provocamos, ou não as repelimos com diligência. Se porém fizermos quanto podemos para estarmos recolhidos em Deus, então as distrações não diminuem o merecimento da nossa oração, mas até o podem aumentar.

Que se requer para fazermos oração com recolhimento?

Devemos antes da oração, afastar todas as ocasiões de distração, e durante a oração devemos pensar que estamos na presença de Deus, que nos vê e nos ouve.

Que quer dizer orar com humildade?

Quer dizer: reconhecer sinceramente a nossa indignidade, incapacidade e miséria, acompanhando a oração com a compostura do corpo.

Que quer dizer orar com confiança?

Quer dizer que devemos ter firme esperança de sermos atendidos, se daí provier a glória de Deus e o nosso verdadeiro bem.

Que quer dizer orar com perseverança?

Quer dizer que não nos devemos cansar de orar, se Deus não nos atender imediatamente, senão que devemos continuar a orar ainda com mais fervor.

Que quer dizer orar com resignação?

Quer dizer que nos devemos conformar com a vontade de Deus, que conhece melhor do que nós quanto nos é necessário para a nossa salvação eterna, ainda mesmo no caso em que as nossas orações não fossem atendidas.

Atende Deus sempre as orações bem feitas?

Sim, Deus atende sempre as orações bem feitas; mas da maneira que Ele sabe ser mais útil para a nossa salvação eterna, e não sempre segundo a nossa vontade.

Que efeitos produz em nós a oração?

A oração faz-nos reconhecer a nossa dependência, em todas as coisas, de Deus, supremo Senhor, faz-nos progredir na virtude, alcança-nos de Deus misericórdia fortalecer-nos contra as tentações, conforta-nos nas tribulações, auxilia-nos nas nossas necessidades e alcança-nos a graça da perseverança final.

Quando devemos especialmente orar?

Devemos orar especialmente nos perigos, nas tentações e no momento da morte; além disso, devemos orar freqüentemente, e é bom que o façamos pela manhã e à noite, e no princípio das ações importantes do dia.

Por quem devemos orar?

Devemos orar por todos; isto é, por nós mesmos pelos nossos parentes, superiores, benfeitores, amigos e inimigos; pela conversão dos pobres pecadores, daqueles que estão fora da verdadeira Igreja, e pelas benditas almas do Purgatório.


Fonte:
http://www.comunidadesdeamor.com

Manual Bíblico Católico - 2


Onde é que está escrito na Bíblia que...

...os santos estão mortos, esperando o dia do Juízo Final, e não podem interceder por nós aqui na Terra?

Resposta: Aqui estamos diante de um dos erros mais comuns, e também mais absurdos, das novas doutrinas que pretendem se basear única e exclusivamente na Bíblia Sagrada como fundamento da fé. Como vimos no post anterior (e na 16ª edição da revista Voz da Igreja), a própria Bíblia afirma que a Verdade de Deus não pode ser encontrada somente nas Escrituras, como vemos em João, 5, 39 e em diversas outras passagens.

Sem dúvida precisamos saber respeitar a opção religiosa de cada pessoa, mas também não devemos nos omitir diante de interpretações tão grotescas das Escrituras. É importante que o católico esteja bem preparado para orientar e dialogar com essas pessoas, com embasamento e tranquilidade, de maneira produtiva.

Estariam os santos mortos, inconscientes, esperando o Dia do Juízo Final? Bem, são muitas as passagens bíblicas que afirmam expressamente: os justos que morreram para este mundo estão vivos e bem conscientes na Presença de Deus. Vejamos:

# 2 Reis 2, 11:
Elias é arrebatado aos Céus, num turbilhão;

# Gênesis 5, 24 e Eclesiástico 44, 16: Enoque é “trasladado” por Deus aos Céus.

Esses grandes profetas de Deus foram arrebatados aos Céus para morrer, e permanecerem mortos até o Dia do Juízo? Óbvio que isso não teria nenhum sentido. Para morrer, teriam ficado aqui neste mundo.

# Ev. s. S. Lucas 16, 19-31: após a morte, Lázaro e o rico egoísta estão bem vivos e conscientes após a sua morte para este mundo; Lázaro no Céu e o rico no Inferno.

# Ev. s. S. Lucas 23, 39: Jesus Cristo garante ao homem crucificado ao seu lado, conhecido segundo a Tradição como São Dimas, o bom ladrão: “Em verdade te digo que ainda hoje estarás comigo no Paraíso”. Jesus mentiu? Se não mentiu, então muitos “pastores” estão mentindo, ou então, no mínimo, profundamente equivocados, pois contrariam a Jesus Cristo, que não disse que o ladrão ficaria morto esperando o Juízo, mas sim que naquele dia mesmo os dois se encontrariam no Céu.

# Lucas 9, 28-30: a passagem da Transfiguração do Senhor, no Monte Tabor, mostra Elias e Moisés, que já estavam mortos, aparecendo ao lado de Jesus Cristo, gloriosos e mais vivos do que nós, cá na Terra!

# Mt 22, 31-33: Jesus declara textualmente: “Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes visto o que Deus vos declarou? ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’? Deus não é Deus de mortos, mas sim de vivos!”.

Abraão, Isaac e Jacó morreram, mas estão vivos com Deus, no Céu. É isso que Jesus ensina. Alguns “pastores” ensinam diferente? Então como podem se considerar cristãos? O que será daqueles que acreditam neles?

# Hebreus 12, 22 - 23: “...Chegastes ao Monte Sião, à Cidade do Deus Vivo, à Jerusalém Celeste, e aos muitos milhares de anjos; à Assembleia Universal e Igreja dos Primogênitos que estão inscritos nos Céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados”. - Mais uma vez, a Bíblia afirma que na Cidade dos Santos, no Céu, os justos estão vivos e aperfeiçoados, em Comunhão com Deus.

# 1 Pedro 3:19-20: “No qual (Jesus Cristo) também foi e pregou aos espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava...” 1 Ped 4,6: “Por isso foi o Evangelho também pregado aos mortos: para que, depois de terem sido julgados diante dos homens segundo a carne, vivessem segundo Deus quanto ao espírito”.

Também em 1Pedro vemos que Cristo desceu aos infernos para pregar aos “espíritos em prisão”, isto é, foi ao purgatório pregar aos que morreram em rebeldia. Eles estavam, portanto, conscientes.

Existem muitas outras passagens que poderíamos citar, confirmando a mesma verdade. Cada um de nós pode e deve fazer a sua pesquisa bíblica a respeito do assunto. Segundo a Bíblia Sagrada, as almas dos justos, isto é, dos santos, estão no Céu, junto aos anjos e a Deus, vivos e bem conscientes. Este é um fato bíblico, teológico e cristão incontestável.

Vida e exemplo de Santa Gianna Beretta Molla


Gianna Beretta Molla era filha de Alberto Bereta e Maria de Micheli, ambos da Ordem 3ª Franciscana. O casal tinha onze filhos quando ela nasceu, em Magenta (Milão, Itália), a 4 de outubro de 1922, dia de São Francisco.

A 4 de abril de 1928, com cinco anos, ela fez a Primeira Comunhão. Desde esse dia, mesmo muito pequena, todos os dias acompanhava sua mãe à Santa Missa. Foi crismada dois anos depois, na Catedral de Bérgamo. Durante os anos de estudos e na universidade, enquanto se dedicava aos deveres, praticava a sua fé participando da Ação Católica e na caridade para com os idosos e necessitados, na Conferência de São Vicente. Formou-se com louvor em medicina e cirurgia em 1949. Em 1950 abriu seu consultório médico. Entre seus clientes, demonstrava especial cuidado com as mães, crianças, idosos e pobres.

Especializou-se em Pediatria na Universidade de Milão em 1952, mas frequentou a Clínica Obstétrica Mangiagalli: por seu grande amor às crianças e às mães, pretendia unir-se ao seu irmão, Pe. Alberto, médico e missionário no Brasil. Ele, com a ajuda de seu outro irmão engenheiro, Francesco, construíram um hospital na cidade de Grajaú, Estado do Maranhão (Brasil). Gianna, por sua saúde frágil, foi desaconselhada de ir ao Brasil.

Gianna era uma ardorosa defensora da vida, sobretudo das crianças, nascituras ou já nascidas. Dizia: “O direito à vida da criança é igual ao direito à vida da mãe! O médico não pode decidir. É pecado matar no seio materno!”... A quarta e quinta gravidez de Gianna terminaram em aborto espontâneo no segundo mês, sem explicação aparente. Em 1961 ela se viu grávida pela sexta vez. Como médica, sabia muito bem as complicações e os riscos da nova gravidez. Mas isso de modo algum diminuiu o amor pelo novo filho, amado e desejado como os outros.

Mas um enorme tumor tomara conta de seu útero. Seria necessário extirpá-lo. A cirurgia proposta para o caso era a histerectomia (remoção do útero). O objetivo não era matar a criança, mas retirar o órgão canceroso, onde, por acaso, estava a criança. A cirurgia seria necessária mesmo que Gianna não estivesse grávida. A morte da criança seria um segundo efeito da cirurgia. Fazer a operação, neste caso, não seria um pecado. Mas Gianna, livre e heroicamente recusou-se. Dizia ela: “A mãe dá a vida pelo filho”.

Depois de grandes sofrimentos, no dia 21 de abril de 1962, o cirurgião fez uma cesariana e retirou do ventre de Gianna uma linda criança de quatro quilos e meio. Uma menina! Seu pai lhe daria no batismo o nome de Gianna Emanuela. “Gianna” em homenagem à mãe. “Emanuela”, que quer dizer “Deus conosco”, para louvar a presença de Deus entre os homens. Gianna tanto desejara aquela criança... Mas agora tinha que deixá-la. Essa grande mãe sabia que não poderia desfrutar da presença de Emanuela.

Revelou Gianna a sua irmã missionária, que acabara de chegar da longínqua Índia, Ir. Madre Virgínia: “Finalmente estás aqui! Se soubesses, Ginia, quanto se sofre por ter de morrer quando se deixam os meninos todos pequeninos...”

No dia 25 de abril, Gianna fez a seguinte confidência a seu esposo: “Agora estou curada. Pietro, eu estava já no Além, e se soubesses o que eu vi... Um dia te direi. Mas como éramos demasiado felizes, estávamos muito bem, com nossos meninos maravilhosos, cheios de saúde e de graça e com todas as bênçãos do Céu, mandaram-me cá para baixo, para sofrer ainda, porque não é justo apresentarmo-nos ao Senhor sem sofrimentos”.

Disse Pietro depois: “Desde aquele momento, estou certo, Gianna nunca cessou, nos seus sofrimentos, nas suas agonias, a sua comunhão com o Senhor e a sua comunicação com o Céu. Ela já não desejava que eu a acariciasse e beijasse. Ela já pertencia ao Céu”. Morreu Gianna no dia 28 de abril de 1962, uma semana depois de dar à luz sua última filha. Em 1972 foi iniciada a causa de beatificação. Em 1992, João Paulo II reconheceu um milagre acontecido com a brasileira Lúcia Silva Cirilo (Maranhão) por intercessão de Gianna. Em 24 de abril de 1994, o Papa declarou Gianna bem-aventurada. No dia 4 de outubro de 1997, no 2º Encontro Mundial do Papa com as famílias, Gianna Emanuela, que hoje é médica como a mãe, estava no Rio de Janeiro, no estádio do Maracanã, na presença do Santo Padre e de 200.000 pessoas. Elevou uma oração à sua bem-aventurada mãe, agradecendo por ter-lhe dado a vida duas vezes: pela geração e pelo martírio. Um momento emocionante e inesquecível.

Santa Gianna Molla foi canonizada em 16 de Maio de 2004.



Fontes e bibliografia:
ESTAÚN Pedro. Personajes y virtudes, Madri: Ediciones Rialp, 2011, pp. 41-48;
Website Canção Nova.

Gloriosa História da Igreja - 1

A partir deste artigo, Voz da Igreja publica uma série sobre a gloriosa história da Igreja de Jesus Cristo, com fundamentação histórica e referências bibliográficas. Acompanhe e amplie os seus conhecimentos sobre o assunto.


Caverna de Sta. Inês, Ibiza (Espanha), onde os cristãos do primeiro século, ocultos dos perseguidores, celebravam a Santa Missa.

Nos primeiros anos da era cristã, logo após o Sacrifício de Jesus Cristo na Cruz, a Igreja ensaiava seus primeiros passos, e todo o mundo mediterrâneo era controlado por Roma, que dominava as nações dos continentes europeu, africano e asiático. O Grande Império Romano se estendia da Síria até Portugal, das Ilhas Britânicas até o Egito. O Imperador Otávio Augusto soube concentrar o poder em suas mãos, e o Império vivia um período de paz e prosperidade (a chamada Pax Romana).

A influência dos costumes e do pensamento dos gregos sobre o mundo mediterrâneo estimulava o interesse das pessoas pela filosofia e pela espiritualidade. Um grande fervor religioso atingia todas as camadas da sociedade romana. A crença nos deuses romanos, influenciada pela mitologia grega, tinha muito prestígio; esses deuses tinham muitos devotos, e também existiam muitas outras correntes religiosas surgindo e ganhando força: pregadores anunciavam seus deuses em cada esquina das ruas do Império. Vindos do Egito, através de Alexandria, chegavam as novas devoções à deusa Ísis e ao deus Serápis. Os fenícios adoravam seus baalins. Os orfistas acreditavam na existência de muitos mediadores entre o mundo dos deuses e o dos homens, os pitagóricos acreditavam no Logos... Outros se voltavam para Mitra, o deus-sol ariano, cujo culto se fortalecia com a astrolatria vinda da Caldeia.Havia também o culto sensual da deusa
romana Cibele, mãe de Pessinonte.

Fervia uma enorme diversidade de seitas e superstições por toda parte. Além dos muitos deuses sobrenaturais, havia ainda o culto aos soberanos. Trazido do Oriente, esse tipo de adoração a um ser humano como deus floresceu no Império. Quando morria um imperador, logo surgia um culto oficial à sua divindade, e, nas províncias orientais, o imperador era adorado ainda em vida.

Mas no meio dessa confusão de crenças, sempre houve um povo que fazia questão de manter a fidelidade a um só Deus, fugindo de todo o deslumbramento trazido pelas ideias pagãs. No exílio ou na Palestina, o pequeno povo de Israel não havia esquecido a fé dos seus antepassados, a fé no Deus de Abraão, Isaac e Jacó, o Deus Criador e Uno que os tinha libertado da escravidão no Egito. Esse povo tinha consciência de ser a raça predestinada por Deus para trazer a Salvação ao mundo. Acreditavam que entre este Deus único e seu povo havia uma Aliança, cujo sinal e garantia estava na Torá, isto é, na Lei de Moisés que devia ser observada zelosamente.

A Lei era uma coletânea de preceitos éticos e religiosos fixados num conjunto de cinco livros sagrados, o Pentateuco. Ao lado do Pentateuco existiam outros livros históricos, proféticos e poéticos que formavam a coleção das Escrituras Sagradas do judaísmo: esta coleção de livros é o que nós, cristãos, chamamos hoje de Antigo Testamento da Bíblia.

E do judaísmo surgiu um grupo distinto, que se diferenciava dentre os judeus e de todos os demais grupos pagãos, por suas ideias renovadas, fundamentando sua fé mais no Amor divino do que na Lei escrita judaica ou no esoterismo dos pagãos. Eram os seguidores de Jesus, morto e ressuscitado: nesses primeiros tempos chamavam a si mesmos, justamente, de “seguidores do Caminho”. Para eles, o Caminho era o próprio Jesus Cristo, e não mais a letra da Lei.

A primeira geração dos seguidores do Caminho era conduzida por aqueles que andaram e aprenderam diretamente de Jesus, os chamados Apóstolos. Os Apóstolos transmitiram tudo que aprenderam e ouviram de Jesus aos seus sucessores, e assim começou a Tradição Cristã Católica. Cristã por se fundamentar em Cristo, Católica por ser universal, aberta a todos os povos, e não mais centrada no povo judeu, como era antes da vinda de Jesus. Católico quer dizer universal, isto é, o Povo de Deus, agora, era a multidão de pessoas que aceitavam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador, e não uma determinada raça.

Nos primeiros séculos após a crucificação de Jesus, não havia um cânon das Escrituras, isto é, a nossa Bíblia Cristã de hoje ainda não existia. Só muito depois, lá no final do século III, é que surgiu uma definição das Sagradas Escrituras. Por isso, juntamente com os livros sagrados judaicos, os primeiros cristãos observavam, principalmente, a instrução dos Apóstolos, e já surgia entre eles uma tradição muito rica a respeito de tudo o que Jesus ensinara, da vida dos santos mártires, da mãe de Jesus e da Igreja... Essas histórias e essa sabedoria foram sendo transmitidas de geração para geração, e parte delas ficaram registradas nos Evangelhos e no livro de Atos.

A palavra igreja vem do grego ekklesia, que referia-se a uma assembleia de pessoas, mas para os cristãos a palavra passou a ter um sentido mais especializado. Ekklesia ganhou o sentido de reunião dos crentes para comungar e adorar a Cristo.


** Ver a série História da Igreja completa

Fontes e referência bibliográfica:
LENZENWEGER, Josef et. al. História da Igreja Católica, 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2006, pp. 9-12;
MONDONI, Danilo. História da Igreja, 3ª ed. São Paulo: Loyola, 2006, pp. 18, 21, 31,32.

O Santo Cristo de Limpias


A História

Na rota Compostelana que passa pela província espanhola de Cantábria, está a Vila de Limpias, famosa pelo Santuário do Santíssimo Cristo da Agonia.

O nome de Limpias provém das águas térmicas que brotam em seu final e que eram conhecidas como Águas de Limpias. A vila é pequena mas tem uma bela igreja paroquial em honra de São Pedro. No Altar-mor se venera uma prodigiosa imagem do Cristo da Agonia. O crucifixo é uma meditação dos sofrimentos de Nosso Senhor que apresenta Jesus nos momentos finais de Sua agonia. A imagem de Cristo é em tamanho natural. Mede seis pés de altura e está colocada sobre uma cruz de 2m30cm de altura. Os braços parecem relaxados como os de um homem que os tivesse aberto sem esforço e os dedos indicador e médio em ambas as mãos estão estendidos como se estivessem dando a bênção final...

Seu rosto tem uma expressão indescritível, de uma particular beleza: olha para o céu e, segundo o ângulo de onde se veja, a expressão é diferente, não somente de dor, mas de oração e contemplação ao Pai. Colocadas dos lados de Cristo estão outras duas imagens: a Virgem Mãe Dolorosa e São João Evangelista.

Pouco se sabe da origem desta preciosa imagem. Acredita-se que tenha sido venerada em Cádiz na igreja dos padres franciscanos e que quando esta foi derrubada por inundações, a imagem do Cristo passou ao oratório de Don Diego de la Piedra, cavaleiro professo da Ordem de Santiago. Contam que um maremoto ameaçou a cidade de Cádiz, o povo cristão levou em procissão as imagens mais veneradas da cidade, as águas se detiveram e começaram a retroceder somente ante a santa imagem do Cristo da Agonia. Diante do prodígio, o povo agradecido pediu que a imagem do Santo Cristo fosse deixada para veneração em alguma das igrejas de Cádiz.

Don Diego faleceu no ano de 1755 não sem antes outorgar em seu testemunho diversas linhas nas que recorda sua vila natal de Limpias: "Mando assoalhar a paróquia de São Pedro de Limpias, custeando a decoração do altar mor e seu esplendor, colocando nele três imagens: a de Nosso Redentor agonizando na Cruz, a de Sua Mãe Santíssima e a do Evangelista São João..." Assim esta paróquia se converte no Santuário do Santíssimo Cristo da Agonia.

A partir do dia 30 de março de 1919, correu aos quatro ventos que em Limpias aconteciam eventos extraordinários. Diziam que a bela imagem do Santo Cristo movia os olhos, dando a sensação de um corpo vivo, que empalidecia, sangrava e suava. O nome de Limpias se tornou famoso e suas ruas foram visitadas por peregrinos provenientes de todas as partes do mundo.

O primeiro a ver o prodígio foi o Padre Antonio López, professor do Colégio São Vicente de Paula que estava na vila: "Um dia no mês de agosto de 1914, fui à igreja para instalar uma iluminação elétrica no altar-mor. Encontrava-me sozinho na igreja, em uma escada apoiada sobre um andaime improvisado sobre a parede que serve de cenário para a imagem do Cristo Crucificado, e depois de duas horas de trabalho comecei a limpar a imagem para que esta pudesse ser vista mais claramente. Minha cabeça estava no mesmo nível da do Cristo, a pouco menos de dois pés de distância; fazia um dia muito bonito e pela janela atravessavam raios de luz que iluminavam completamente o altar, sem notar a menor anormalidade e depois de um longo tempo de trabalho, detive minha vista nos olhos da imagem e observei que estavam fechados. Por vários minutos eu vi com toda clareza de modo que duvidei se habitualmente eles eram abertos. Não podia acreditar no que meus olhos viam, comecei a sentir que me faltavam as forças; perdi o equilíbrio, desmaiei e caí da escada do andaime até o chão, levando um grande tombo. Ao recobrar os sentidos, pude confirmar de onde estava que os olhos da imagem do crucifixo permaneciam fechados... Saí rapidamente da igreja contando o fato a minha comunidade. Minutos depois de sair da igreja, encontrei-me com o sacristão que se dispunha a tocar os sinos para o Ângelus. Ao me ver tão agitado me perguntou se estava me acontecendo algo. Relatei a ele todo o ocorrido e ele não se surpreendeu, pois já havia escutado que o Cristo havia fechado seus olhos em mais de uma ocasião".

Pensando que o movimento que havia visto nos olhos se devia a algum tipo de mecanismo, o sacerdote professor diminuiu a importância da visão e se incumbiu de examinar a imagem minuciosamente. Pôde confirmar que esta não possui nenhum mecanismo e que seus olhos estão tão firmemente fixos, que nem o pressioná-los fortemente pôde fazer com que se movessem. Isto foi comprovado mais de uma vez.

A pedido de seus superiores, o Padre Antonio escreveu o relato de todo o acontecido, mantendo prudência por ordem de seu diretor espiritual. Somente no dia 16 de março de 1920, um ano depois dos tantos milagres de 1919 é que esta declaração se tornou pública.

No início do ano 1919 aconteceram as missões na Paróquia de Limpias. No último dia da missão, enquanto o sacerdote celebrava a Santa Missa, proferindo uma homilia baseada nas palavras de Prov. 23,26, outros dois sacerdotes se encontravam nos confessionários. Uma menina de 12 anos entrou no confessionário e comunicou ao sacerdote que a imagem do Santo Cristo estava com os olhos fechados. O sacerdote, pensando que era fruto da imaginação da menino, ignorou o acontecimento. Terminada a homilia do sacerdote celebrante, este outro sacerdote se aproximou para notificar o que estava acontecendo. Ambos olharam para o crucifixo sem ver que algo não-usual acontecera. Simultaneamente, um dos fiéis que se encontrava na igreja gritou: "Olhem o crucifixo!" Em poucos minutos as pessoas confirmaram com entusiasmo o que as crianças haviam visto. As pessoas ali presentes começaram a chorar, outros gritavam que haviam visto um milagre e outros caíram de joelhos pedindo a Deus por misericórdia.


Para verificar o fenômeno, quando se conseguiu esvaziar o templo, o pároco subiu com uma escada de mão até a santa imagem tocando o rosto e o colo com um pano, e pôde comprovar que a imagem transpirava, confirmando o fato mostrando a todos ali presentes seus dedos umidecidos.

A segunda manifestação aconteceu em 13 de abril de 1919, no Domingo de Ramos, quando dois homens importantes de Limpias se aproximaram do altar duvidosos do que ali acontecia e considerando os fatos como histeria coletiva e alucinação.; ao aproximarem-se puderam ver os olhos e a boca do Cristo moverem-se. Simultaneamente caíram de joelhos pedindo perdão e clamando por misericórdia.

A terceira manifestação aconteceu em 20 de abril de 1919, no Domingo da Ressurreição, na presença de um grupo de irmãs religiosas da ordem das Filhas da Santa Cruz, que viram os olhos e a boca do Santo Cristo moverem-se enquanto rezavam o santo Rosário.

A partir de 14 de abril do mesmo ano, as manifestações se repetiram quase diariamente, e como era de se esperar a igreja se mantinha abarrotada de gente que desejava ver o milagre. Conta o Rev. Barón Von Kleist, sacerdote da vila que muitas eram as pessoas que testemunhavam que Nosso Senhor havia olhado para elas, a uns de forma sutil, a outros com certa tristeza, e inclusive a alguns com um olhar penetrante e de través. Muitos viram lágrimas em Seus olhos, outros relatam ter visto gotas de sangue caírem das feridas produzidas pelos espinhos de Sua coroa. Foram muitas e variadas as manifestações que se relataram, desde ver a imagem do Cristo mover Seus olhos de lado a lado na hora da bênção e pousando Seu olhar cativante sobre toda a assembléia ali presente, até mover Sua cabeça coroada de espinhos e suspirar...


Peregrinações e mais testemunhos

Peregrinações de todos os lugares começaram a chegar à vila de Limpias. Jornais repletos de relatos detalhados sobre os acontecimentos em Limpias inundaram a imprensa de todos as regiões da Espanha e do exterior. No final de 1921, o número de peregrinos havia crescido de tal forma que o volume do tráfego de estrangeiros em Limpias superou a dos visitantes do Santuário de Lourdes. Príncipes, bem como dignitários da Igreja da Espanha, incluindo bispos e cardeais, visitaram o Santuário do Santíssimo Cristo da Agonia. Também vieram arcebispos do México, Peru, Manila, Cuba e outros países. São muitos os registros que se encontram na sacristia da igreja de Limpias e que contêm 8.000 testemunhos de pessoas que atestam as manifestações. 2.500 destes testemunhos foram dados "sob juramento". Entre as testemunhas se encontravam membros de ordens religiosas, sacerdotes, médicos, advogados, professores, catedráticos, oficiais, vendedores, boiadeiros, não crentes e até ateus.

O primeiro bispo a ser favorecido com a graça de poder presenciar as manifestações foi Dom Manuel Ruiz y Rodríguez, bispo de Cuba, que foi a Limpias após uma visita a Roma. De volta a seu país escreveu uma carta pastoral a todos os membros de sua diocese na que expunha sem reservas tudo o que se relacionava ao crucifixo milagroso. Relatou como os olhos do Cristo se moviam de lado a lado e como o rosto, em dado instante, tomou uma expressão agonizante. Aqui começou a grande devoção que em Cuba se teve ao Cristo de Limpias.

Em 29 de julho de 1919, o Padre Celestino María de Pozuelo, monge capuchinho, visitou a paróquia de Limpias e escreveu um relato que incluía a seguinte declaração: "O rosto apresenta uma expressão viva de dor, o corpo descolorido como se houvesse recebido cruéis chicotadas e totalmente banhado de suor".

O Rev. Valentín Incio, de Gijón, conta que visitou Limpias em 4 de agosto de 1919. À sua chegada se uniu a um grupo de peregrinos que, nesse momento, estavam sendo testemunhas do milagre. Havia cerca de 30 a 40 pessoas, outros dois sacerdotes, 10 marinheiros e uma mulher que não parava de chorar. O Padre Incio escreveu:

"Ao chegar contemplei Nosso Senhor como se estivesse vivo; mais tarde Sua cabeça conservou Sua posição de costume e Seu contorno a expressão natural, mas Seus olhos estavam cheios de vida e olhavam em várias direções... Em certo momento, Seu olhar se centrou sobre os marinheiros a quem contemplou por muito tempo, logo olhou languidamente em direção da sacristia por algum tempo. Nesse instante ocorre o momento mais comovedor de todos: Jesus pousa Seu olhar sobre todos nós mas de uma forma tão doce, tão suave, tão expressiva, tão amorosa e divina, que todos ali presentes caímos de joelhos, choramos e adoramos a Cristo...


Nosso Senhor continuou movendo Seus olhos e pálpebras que brilhavam como se estivessem cheios de lágrimas, e moveu Seus lábios suavemente como se estivesse dizendo algo ou rezando. Ao mesmo tempo, a mulher que mencionei anteriormente estava ao meu lado e viu ao Mestre tratando de mover Seus braços, lutando por relaxá-los da Cruz". Dando testemunho sobre este relato estiveram 3 sacerdotes, os 10 marinheiros e a mulher.

Em 15 de setembro de 1919, 2 bispos acompanhados de 18 sacerdotes contaram o ocorrido ao prostrarem-se diante do crucifixo:

"Todos vimos o rosto do Santo Cristo entristecer-se ainda mais. Sua boca também estava mais aberta que o usual, Seus olhos se fixaram suavemente sobre os bispos e logo em direção à sacristia. Seus gestos simultaneamente tomaram a expressão como os de um homem que está lutando para sobreviver".

Em 24 de dezembro de 1919, em companhia de um grupo de pessoas, o padre confessor da Igreja do Pilar em Zaragoza, Dom Manual Cubi, viu o Santo Cristo na agonia da morte: "Nosso Senhor tratava de soltarse da Cruz com movimentos violentos e convulsivos, levantou Sua cabeça, moveu Seus olhos e fechou Sua boca. Em alguns momentos pude ver Sua língua e dentes. Por aproximadamente meia hora Ele nos mostrou o quanto Lhe havia custado nossa salvação e quanto havia sofrido por nós no momento de Seu abandono na Cruz".


Milagres de cura e reconhecimento oficial da Igreja

Vários relatórios médicos foram apresentados. As manifestações milagrosas da imagem do Santo Cristo não foram as únicas relatadas, houve também muitas curas milagrosas. Em julho de 1920, houve mais de 1.000 curas certificadas pelos médicos. Muito poucas destas curas aconteceram em Limpias, mas quando os peregrinos regressavam a suas casas e se colocavam em contato com objetos que haviam tocado o crucifixo.

O bispo de Santander, diocese à qual pertence Limpias, introduziu o processo canônico em 20 de julho de 1920. Um ano e um dia depois, foram dadas indulgências plenárias por um período de 7 anos a todos aqueles fiéis que visitassem o Santo Crucifixo.

O Núncio Papal visitou Limpias em setembro de 1921. Orou em frente ao crucifixo e o examinou de todos os ângulos. O núncio declarou ao clero e aos nativos que a imagem lhe havia causado uma impressão muito profunda, e congratulou-os por terem sido escolhidos para que o Mestre Se revelasse através dessa imagem em sua igreja.

Os fenômenos públicos cessaram de maneira total vários anos depois. Uma guerra nacional parecia que deixaria no esquecimento o Santo Cristo de Limpias, mas aquela devoção nascida do calor de eventos, ao que parece prodigiosos, ainda perdura... É surpreendente a existência em qualquer época, tanto de turistas como de peregrinações que continuam chegando atraídos pela fama dos prodígios e da formosura da Santa efígie.

Atualmente os padres paulinos estão encarregados da Paróquia/Santuário, tratando de seguir a linha de seus antecessores e dignos párocos do clero secular. Além da vida ordinária de uma paróquia, procura-se sempre fomentar o culto ao Santíssimo Cristo.

Todos estes depoimentos poderiam ser concluídos com um registro muito breve, redigido por um jornalista relatando os fatos acontecidos em sua presença: "Pude perceber movimentos no queixo, como se estivesse pronunciando poucas sílabas em Seus lábios. Fechei meus olhos fortemente e me perguntei: O que terá dito? A resposta não se fez esperar, do mais profundo de meu coração pude escutar claramente estas palavras tão significativas e ungidas: "AMA-ME".

É por esta razão que Nosso Senhor realizou tantas maravilhas diante dos olhos de crentes e não-crentes. Em Limpias Ele demonstrou a agonia de Sua morte e a magnitude de Seu amor por nós, não somente para evocar sentimentos de compaixão e arrependimento, mas também para pedir que O amemos em resposta.

Em nossa peregrinação de Miami ao Santo Cristo de Limpias, experimentamos uma grande consciência do amor de Jesus e um desejo de responder a Ele com todo o coração."


Do original em espanhol "El Santo Cristo de Limpias"

Fonte:
Leia-me: Aparições de Jesus e Maria

Aparições marianas: Nossa Senhora de Lourdes


As Aparições da Virgem Maria em Lourdes, França, ocorreram 12 anos após as de Salete, e, no início, foram muito controversas. Na realidade, a camponesa Bernadete Soubirous, então uma menina com 14 anos de idade, foi tratada pelas autoridades até com mais menosprezo do que Melânia Calvat e Maximino Giraud haviam sido. Seus pais eram trabalhadores temporários cuja moradia alugada foi descrita, num relato feito por um correspondente da época, logo após as primeiras Aparições, como um “cômodo sujo e sombrio”, num prédio que um dia fora a cadeia do povoado, então abandonada por falta de condições sanitárias para os criminosos. O promotor de Lourdes descreveu a família Soubirous como “gente miserável”, cuja linhagem, inspirava "não só desconfiança como nojo”.

Nas entrevistas com o comissário de polícia do povoado, Bernadete (ou Maria Bernarda) contou que as Aparições começaram a ocorrer na manhã de 11 de fevereiro de 1858. Ela estava recolhendo ossos ao longo da margem do rio Gave de Pau, contou a jovem, quando ouviu um ruído farfalhante numa sebe acima da gruta chamada Massabieille. Levantou os olhos, viu a sebe se mexer e então percebeu uma forma branca atrás daquele arbusto, que foi se tornando a figura de uma moça. Bernadete chamou a Aparição de “aquero”, que no dialeto local quer dizer “aquela”.

Ela olhou fixamente para aquero por um minuto, então ajoelhou-se e começou a rezar. Aquero respondeu com um sorriso, disse a jovem, e depois desapareceu na gruta. Sua mãe lhe disse que a visão era um sonho, segundo lembrou-se Bernadete, e sua tia descreveu-o como "ilusão".

Três dias depois, em 14 de fevereiro, logo após a Missa de domingo, Bernadete voltou à gruta com outras meninas, levando um frasco de água benta da igreja que frequentavam. Elas se ajoelharam e começaram a rezar o Rosário, quando aquero apareceu de novo, apenas para Bernadete, logo acima da entrada da gruta. Bernadete queria perguntar à aquero se ela estava ali em nome de Deus ou do diabo, conforme relatou, pois até então estava confusa. Mas, naquele momento, uma menina que havia seguido o grupo atirou uma pedra; isso apavorou as outras meninas, e todas saíram correndo para o povoado. Aquero desapareceu.

A pobre camponesa Bernadete Soubirous

Quatro dias depois, Bernadete foi à gruta com uma senhora da sociedade local que estava intrigada com a história que ouvira da jovem. Juntas, ajoelharam-se e rezaram o Rosário. Aquero então apareceu, disse Bernadete, e fez sinal para que se aproximasse. Quando a menina chegou perto, aquero lhe pediu que voltasse à gruta nos próximos 15 dias: "Quer ter a amabilidade de vir aqui durante 15 dias?"...

Alguns vizinhos sugeriram que Bernadete poderia estar vendo o fantasma de uma adolescente piedosa que havia morrido recentemente. Bernadete disse apenas que aquero lhe parecia uma menina da sua idade, que usava um vestido branco com uma faixa azul na cintura e que trazia um rosário na mão. Conforme lhe tinha sido pedido, Bernadete voltou à gruta todas as manhãs entre 18 de fevereiro e 4 de março, e relatou as Aparições ocorridas em todos esses dias, exceto em três deles. Já em 22 de fevereiro, quando um jornal local chegou a publicar um artigo sobre as Aparições, muitos vizinhos já acreditavam que aquela que Bernadete estava vendo era a Virgem Maria. Mas a menina, até então, nunca fizera essa afirmação.

As testemunhas, pessoas que agora acorriam em grande número à gruta, descreviam que Bernadete entrava em êxtase durante as Aparições, e que ela se tornava rígida e imóvel, com os olhos abertos e fixos num ponto acima da gruta. A menina tornava-se muito pálida durante as Aparições, disseram. Em certos momentos, seus lábios se mexiam, como se ela estivesse falando. Bernadete sorria de vez em quando, mas havia outros momentos em que seus olhos se enchiam de lágrimas. Fosse o que fosse, havia algo na menina que causava uma profunda impressão nos que estavam presentes ao acontecimento.

A multidão que foi à gruta na manhã de 25 de fevereiro era de mais de mil pessoas. Nesse dia, Bernadete assombrou os que testemunhavam a experiência da Aparição, por ter se arrastado e engatinhando até ao fundo da gruta, onde cavou, com as mãos nuas, um buraco que rapidamente se encheu de água. Após algumas tentativas, Bernadete conseguiu beber um pouco da água, sujando o rosto com lama. Depois, quando lhe perguntaram o que estava fazendo, disse que aquero mandou-a beber a água da fonte e levar-se nela. Mais tarde, naquele mesmo dia, algumas pessoas, usando pás, cavaram no mesmo lugar, e viram que na realidade havia uma fonte embaixo do solo! Bernadete obviamente não tinha como saber disso. As pessoas que cavaram, então, levaram frascos com a água ao voltarem para o povoado. Numa semana, diversas pessoas testemunharam ter-se curado de males diversos por ter bebido dessa água.

Em 4 de março, segundo os registros da época, entre 5 e 20 mil pessoas foram à gruta para presenciar a última Aparição à menina Bernadete. Um repórter de Paris ressaltou que todas as ruas, trilhas, montes e campos ao redor da gruta estavam cheios de gente. O barulho era ensurdecedor, observou ele, não só por causa das orações e invocações, mas também pelos insultos e provocações. Isso porque havia garotos pobres pendurados nas árvores, como macacos, e ricos que insultavam e tratavam os camponeses rispidamente, dizendo-lhes que não sujassem suas roupas...

Bernadete apareceu, levando uma vela na mão, como de hábito, e parou para abraçar uma menina parcialmente cega chamada Eugenie Troy. A Aparição daquela manhã foi breve: Aquero explicou que estava muito decepcionada com a descrença das pessoas presentes, segundo explicou Bernadete. Embora a própria vidente parecesse não ter notado, alguns presentes disseram que havia uma pomba adejando sobre a cabeça de Bernadete durante o êxtase. Seja como for, o resultado foi que os olhos de Eugenie Troy voltaram a enxergar, depois desse dia!


Trechos de cartas escritas por Bernadete:

"Eu tinha ido com duas outras meninas na margem do rio Gave quando eu ouvi um som de sussurro. Olhei para as árvores e elas estavam paradas, e o ruído não era delas. Então eu olhei e vi uma caverna e uma senhora vestindo um lindo vestido branco com um cinto brilhante. Em cada pé havia uma rosa pálida, da mesma cor das contas do rosário que ela segurava.”

"Coloquei a mão no bolso e encontrei o terço. Queria fazer o Sinal da Cruz, mas não pude levar a mão à testa. A mão caiu-me. O espanto apossou-se de mim mais fortemente, a minha mão tremia. A visão fez o Sinal da Cruz. Então tentei a segunda vez e pude. Logo que fiz o Sinal da Cruz, a grande comoção que sentia desapareceu. Pus-me de joelhos e rezei o terço na presença dessa linda Senhora. A Visão fazia passar as contas do Seu Terço com os dedos, mas não mexia os lábios. Quando acabei o terço, ELA fez um sinal para aproximar-me. Mas não ousei. Então desapareceu de repente".

“Eu perguntei as minhas duas companheiras se elas haviam notado algo e elas responderam que não tinham visto nada. Elas queriam saber o que eu estava fazendo, e eu disse que tinha visto uma senhora com um lindo vestido branco, embora eu não soubesse quem era. Disse a elas para não dizer nada sobre o assunto porque iriam dizer que era coisa de criança. Voltei no domingo ao mesmo lugar sentindo que era chamada ali.”

“Na terceira vez que fui, a Senhora reapareceu e falou comigo e me pediu para retornar todos os próximos 15 dias. Eu disse que viria e então ela disse para dizer aos padres para fazerem uma capela ali. Ela me disse também para tomar a água da fonte. Eu fui ao rio que era a única água que podia ver. Ela me fez entender que não falava do rio Gave e sim de um pequeno fio d’água perto da caverna. Eu coloquei minhas mãos em concha e tentei pegar um pouco do líquido sem sucesso. Aí comecei a cavar com as mãos o chão para encontrar mais água e na quarta tentativa encontrei água suficiente para beber. A senhora desapareceu e fui pra casa.”

“Voltei todos os dias durante 15 dias, e cada vez, exceto em uma Segunda e uma Sexta, a Senhora apareceu e disse-me para olhar para a fonte e lavar-me nela e ver se os padres poderiam fazer uma capela ali. Disse ainda que eu deveria orar pela conversão dos pecadores. Perguntei a ela, várias vezes, o que queria dizer com isto, mas ela somente sorria. Uma vez, finalmente, com os braços para frente, ela olhou para o céu e disse-me que era a ‘Imaculada Conceição’. Durante 15 dias ela me disse três segredos que não era para revelar a ninguém e até hoje não os revelei.”


As Aparições continuam

No dia 1º de Março, a multidão que compareceu para acompanhar a Aparição foi calculada em 1.500 pessoas, de todas as classes sociais. Despontava-se entre os presentes a batina preta do Padre Desirat. Ele não era de Lourdes e não sabia da proibição imposta ao clero pelo Abade Peyramale, pároco de Lourdes na época das Aparições, que ainda via os acontecimentos com ceticismo. A presença do Pe. Desirat causou sensação, e em pouco tempo ele estava na primeira fila, numa posição bem próxima à vidente. Sua descrição dos fatos foi a seguinte:

O Pároco de Lourdes, Pe. Dominique Peyramale

"O sorriso (de Bernadete) ultrapassa toda expressão humana! O artista mais hábil, o ator mais consumado, nunca poderá reproduzir-lhe o encanto e a graça! Impossível imaginar. O que mais me tocou foi a alegria e a tristeza que se desenhavam no rosto da jovem. Quando um destes fenômenos sucedia ao outro, era com a rapidez do relâmpago. No entanto nada de brusco: uma transição suave e admirável. Eu tinha observado a criança quando ela chegou e se dirigia à gruta. Tinha-a observado com escrupuloso cuidado. Que diferença entre o que ela era e o que eu vi no momento da Aparição! Respeito, silêncio, recolhimento por toda a parte. Como era bom estar lá! Eu julgava-me no vestíbulo do Paraíso."

O Abade Peyramale era um homem severo, muito exigente na observância do direito e da ordem. Já tinha ouvido os comentários sobre Bernadete e as Aparições na gruta, assim como as notícias de curas e também alguns comentários maldosos no jornal local. Não se decidira sobre os fatos, mesmo porque não dispunha de elementos que lhe oferecessem condições de optar. Na sua posição, não podia considerar comentários e nem indícios, era preciso haver evidências sólidas, que se mostrassem de modo concreto, para que pudesse apreciar os acontecimentos. Segue abaixo o registro do interrogatório imposto a Bernadete pelo Abade Peyramale:

- "És tu que vais à gruta?"

- "Sim, Senhor Abade."

- “E dizes que vês a Santíssima Virgem?”

- "Eu não disse que era a Santíssima Virgem.”

- "Então quem é essa Senhora?”

- "Eu não sei."

- "Ah, tu não sabes! Mentirosa! E no entanto esses que fazes correr atrás de ti dizem e o jornal imprime, que tu pretendes ver a Santíssima Virgem. Então o que é que tu vês?"

- "Algo que parece uma Senhora."

- "Ora essa!.."


Bernadete transmite o recado da Virgem:

- "A Senhora disse: 'Vai dizer aos sacerdotes para construírem aqui uma Capela.'"

- "Uma Capela?.. Estás certa disso?"

- "Sim, senhor Abade, estou certa."

- "Ainda nem sabes como ela se chama!?"

- "Não, Senhor Abade."

- "Pois bem, é preciso perguntar-lhe."

Depois de responder a mais algumas perguntas dos outros padres, Bernadete despediu-se, e com sua acompanhante voltou para casa. No dia seguinte, mais de 3.000 pessoas a aguardavam na gruta. A multidão rezava ansiosa, desde muito cedo. Mas não houve Aparição nesse dia. E, assim como nos dias 22 e 26 de fevereiro, ela regressou perturbada. Todavia, nesse mesmo dia, mais à tarde, retornou à gruta e, desta vez encontrou Nossa Senhora. Ao regressar à cidade, foi conversar com o Abade Peyramale:

- "Senhor Abade, a Senhora sempre quer a Capela."

- "Perguntaste-lhe o nome?"

- "Sim, mas ela apenas sorriu."

- "Troça valentemente de ti! Pois bem, se ela quer a Capela que diga o seu nome e faça florir a roseira da gruta. E então nós mandaremos construir uma Capela e não será muito pequena, será muito grande."

O dia 4 de março era aguardado com grande expectativa, porque seria o último da quinzena de aparições. A polícia pediu reforço policial de d'Argelès e de Saint Pé, cidades vizinhas de Lourdes, para ajudar na manutenção da ordem, no sentido de evitar tumultos. Para que Bernadete pudesse chegar ao local, fizeram uma passarela de madeira, que lhe facilitou o acesso. Ela veio acompanhada de sua prima Joana Véderè, que tinha 30 anos de idade, e ficaram juntas durante a Aparição.

Começaram a rezar o terço. Bernadete entrou em êxtase. Nessa ocasião, o comissário Jacomet tirou o seu caderninho de notas e escreveu: ”34 sorrisos e 24 saudações em direção à gruta.” A multidão acompanhava tudo com o olhar.

Terminada a Aparição, Bernadete apagou a vela e, indiferente à presença de toda aquela gente, tomou o caminho de volta à sua casa. Muitos ficaram desapontados, porque esperavam algum milagre ou revelação. Mas nada aconteceu, que pudesse ser visto por todos. No ar ficaram muitas perguntas e uma grande expectativa: será que terminaram as Aparições? Bernadete foi encontrar-se com o Senhor Abade para lhe dar as notícias do encontro.

- "Que te disse a Senhora?"

- "Perguntei-lhe o nome... Ela sorriu. Pedi-lhe para fazer florir a roseira, ela sorriu outra vez. Mas ainda quer a Capela."

- "Tu tens dinheiro para fazer essa Capela?"

- "Não, Senhor Abade."

- "Eu também não! Diz à Senhora que lhe dê!"

Peyramale estava desconsolado por não ter obtido nenhuma informação segura sobre a Aparição. Bernadete também, mas sem poder fazer nada, voltou triste para casa. No dia 18 de março, ela foi submetida a um severo interrogatório e declarou: "Não penso ter curado quem quer que seja, e de resto, não fiz nada para isso. Não sei se voltarei à gruta."

Mas independentemente das Aparições continuarem ou não, a afluência era cada vez maior. Diariamente, muitas pessoas iam lá para rezar, para recolher água da fonte ou para bebê-la. Todos acreditavam que quem estivera lá fora a Santíssima Virgem Maria. Do dia 4 de março, quando ocorreu a última Aparição, ou seja a 15ª, até o dia 25 do mesmo mês, Bernadete procurava levar uma vida normal, ao lado de seus familiares no "cachot", mas era impossível, porque a todo momento era solicitada para interrogatórios, por visitantes que faziam filas intermináveis à porta de sua casa, querendo conselhos, abraçá-la ou pedir-lhe que tocasse com as mãos objetos que levavam. Eram pessoas que buscavam graças e outras que vinham contar milagres alcançados por intermédio de Nossa Senhora.

Bernadete jamais aceitou e não deixou que nenhum de seus familiares aceitassem gratificações em dinheiro ou presentes, por qualquer razão que fosse: "Isso queima-me! Por favor, não façam isso!" Na manhã do dia 25 de Março de 1858, Bernadete sentiu-se novamente como que pressionada para ir à gruta. Dizia que era uma força estranha que nascia em seu interior, que não sabia explicar. Mas era muito cedo e seus pais lhe aconselharam a esperar o dia clarear. Às 5 horas da manhã já se pôs a caminho. Lá chegando, começou a rezar o terço e logo entrou em êxtase. Então se levantou e viu mais uma vez a Aparição diante de si.

Segundo seu relato, caminhou em direção à Aparição e conversaram. Bernadete perguntou: "Mademoiselle, quer ter a bondade de me dizer quem és, por favor?” - Mas "Aquero" mais uma vez sorriu e não respondeu. Bernadete insistiu no pedido, duas, três vezes, obtendo como resposta, um sorriso carinhoso e modesto da parte da Visão. Mas Bernadete tinha mesmo a necessidade de saber o nome dela, precisava levar esta notícia ao Abade, porque, em caso contrário, ele não construiria a Capela. Por isso, com mais amor e decisão insistiu uma quarta vez, suplicando a ela que dissesse o seu nome.

Desta vez a Aparição não mais sorriu, ficou séria. As mãos, que estavam unidas, afastaram-se, estendendo-se sobre a terra, e depois novamente se juntaram à altura do peito. Então, "Aquero" levantou os olhos ao Céu, num sinal de humildade e obediência a Deus, e disse:
"Eu sou a Imaculada Conceição."!

Dito isto, desapareceu. Bernadete retornou a si, e, para não se esquecer estas palavras, repetiu-as várias vezes em seguida, tropeçando nas letras, que mal sabia pronunciar. Fugiu das perguntas de todos e correu para a casa do Senhor Abade Peyramale. Lá chegando, antes mesmo de cumprimentá-lo, gritou, no seu dialeto "patois" de Lourdes: "Que soy era Immaculada Councepciou" - "Eu sou a Imaculada Conceição".

O Abade ficou perplexo: "Pequena orgulhosa, tu és a Imaculada Conceição?" - Mas Bernadete prontamente respondeu: "Não, não, não eu!"... Peyramale sentiu que estava diante de uma grande revelação: "A Virgem realmente concebeu milagrosamente, sem pecado". Apesar de ter sido decretado em 8 de dezembro de 1854 , o Dogma da Imaculada Conceição de Maria não era aceito por todos os católicos, principalmente por alguns teólogos que defendiam a universalidade absoluta da Redenção e do Pecado Original. - Isto é, atribuíam a Nossa Senhora o mesmo privilégio que teve São João Batista, de ter a santificação antes do nascimento. Mas não aceitavam a imunidade do Pecado, quer dizer, não aceitavam que Maria Santíssima tivesse sido preservada do Pecado Original, mesmo considerando a sua condição especial de Mãe do Redentor. Por este motivo o Abade explodia intimamente de satisfação e se preocupava em querer saber da realidade, acima de qualquer dúvida ou engano. Por isso Peyramale insistiu:

- "Uma Senhora não pode usar esse nome! Tu te enganaste! Sabes o que isso quer dizer?”

Bernadete disse que não, abanando a cabeça.

- "Então como podes dizê-lo, se não compreendes o que é?”

- "Repeti por todo o caminho..."

No silêncio que se seguiu, segundo testemunhas, Peyramale ficou pensativo, parecendo muito feliz e com um suave sorriso nos lábios. E a História viria a confirmar que, naquele momento, ele finalmente começava a acreditar! Foi quando Bernadete interrompeu o silêncio e disse:

"Ela ainda quer a Capela...”

Vistas da magnífica Basílica da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, uma das três que foram construídas próximas à Gruta de Lourdes. As outras são as Basílicas de Nossa Senhora do Rosário e a da Cripta. (Clique sobre as imagens para ampliar)

Papa João Paulo II no Altar da Gruta de Lourdes, onde Bernadete conversava com Nossa Senhora.

No dia 6 de abril, Bernadete sentiu-se novamente "pressionada" a voltar à gruta. Aquela força estranha e agradável a impulsionava para Massabieille. Como já havia passado das 15 horas, foi encontrar-se com o Padre Pomian no confessionário. Algumas pessoas que a observavam se incumbiram de espalhar os boatos. Logo, toda a cidade ficou na expectativa de algum acontecimento. No dia seguinte, Quarta-feira da Páscoa, antes do sol nascer, ela já estava na gruta, acompanhada inicialmente por uma centena de pessoas que logo aumentou para cerca de mil, quando iniciou as orações do terço. Nas primeiras Ave-Maria, entrou em êxtase. O Dr. Dozous, que vinha estudando o seu caso, surgiu no meio da multidão pedindo passagem, pois queria estar ao lado dela, para presenciar suas reações fisionômicas. Abrindo passagem entre o povo que rezava, dizia (conforme declarações posteriores): "Não venho como inimigo, mas em nome da ciência. Corri e não posso me expor às correntes de ar. Só eu posso verificar o fato religioso que aqui se dá, deixem-me prosseguir este estudo".

Nesse dia, Bernadete utilizava uma grande vela que se apoiava no chão, fornecida por uma pessoa que dizia ter alcançado uma graça. Com sua mão tentava proteger a chama da vela da corrente de ar. Mas no transe em que se encontrava, não posicionou corretamente a mão esquerda em forma de concha sobre o pavio aceso, de modo que a chama da vela passava por entre os seus dedos. "Ela está se queimando!" - gritavam muitos. Mas o Dr. Dozous impedia que alguém fizesse algo. Ele não acreditava naquilo que seus olhos viam. Ora eram os sorrisos de Bernadete, ora sua fisionomia se tornava séria, em vários momentos, compartilhando duma tristeza da Aparição e a chama da vela que passava por entre seus dedos, sem queimá-los, sem provocar dores. Terminado o êxtase, o doutor examinou as mãos da vidente e não encontrou o menor sinal de queimadura. Para testar a sua sensibilidade, acendeu a vela e, sem que ela percebesse, aproximou a chama de sua mão. Ela gritou e protestou: "Está querendo me queimar!?”...

Dr. Dozous, antes cético, a partir daquele dia passou a divulgar o seu testemunho, convencido de que esteve diante do sobrenatural na Gruta de Massabieille. No Café Francês, ponto de convergência dos bate-papos, Dozous proclamava com segurança a existência do extraordinário em Lourdes. Em dado momento, assim ele declarou:

"É um fato sobrenatural, para mim, ver Bernadete em êxtase, ajoelhada diante da gruta e segurando uma vela acesa, cobrindo a chama com a mão esquerda, sem que pareça sentir a mínima impressão do contato dela com o fogo. Examinei-a. Não encontrei nem o mais ligeiro sinal de queimadura".


Depois que as Aparições terminaram, Bernadete foi levada de Lourdes para Cauterets. Dali, transferiu-se para o abrigo-escola administrado pelas Irmãs de Caridade em Nevers. Prestou dois testemunhos diante da comissão episcopal que investigava suas aparições, o primeiro em 1858 e o segundo em 1860. Em 1862, o Bispo da sua diocese declarou as Aparições dignas de confirmação e emitiu um decreto sancionando um culto de devoção no Santuário de Lourdes.

Bernadete entrou para a ordem das Irmãs de Caridade em 1866, tendo permanecido na casa matriz da ordem até a sua morte, em 1879. Foi beatificada pela Igreja em 1925, e, com a comprovação de quatro curas milagrosas, foi canonizada em 1933. Até hoje, ela permanece o padrão que a Igreja Católica adota para julgar os seus místicos.

Depois de sua morte os milagres se multiplicaram. Em 150 anos foram registrados mais de 7.200 casos de curas extraordinárias, além de 67 curas comprovadamente milagrosas. Trinta anos após a morte de Bernadete, em 22 de setembro de 1909, foi aberto o seu caixão para reconhecer os despojos mortais. Seu corpo estava perfeitamente intacto(!), a tez estava branca. Em 13 de abril de 1925, exumaram-na pela última vez. O corpo de Bernadete ainda estava intacto: ela parecia adormecida. Então cobriram sua face e suas mãos com cera e a colocaram sobre cetim, seda e rendas. Ainda hoje está na Capela, onde recebe a visita de milhares de fieis todos os anos, no Convento de Saint Gildard, em Nevers, na região do Loire, França (foto à esquerda).


"Ó Mãe, quanta felicidade eu sentia,

Quando tinha a oportunidade de vos contemplar!

Naqueles momentos ao vosso lado, como é bom me lembrar

Da vossa bondade e misericórdia por toda a Humanidade!.."

Versos escritos por Santa Bernadete em 1866.


***


Veja mais informações e fotografias aqui.


Vídeo: Canção Nova Notícias na Gruta de Lourdes




Fontes e bibliografia:
SWARTZ, Sandra L. Zindais. Encontering Mary, Princeton: Princeton University, 1991;
WOODWARD, Keneth, Making Saints: Who Becomes a Saint, Who Doesn't and Why, New York: Simon & Shuster, 1990;
GROESCHEL, Benedict. A Still Small Voice, Fort Collins: Ignatius Press, 1993;
SULLIVAN, Randall. Detetive de Milagres, São Paulo: Objetiva, 2005

Lectio Divina - Leitura Orante: Parábola do Servo Cruel


Evangelho segundo São Mateus (18,21-35)

Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou:
- Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?
- Não! - respondeu Jesus. - Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu fazer um acerto de contas com os seus empregados. Logo no começo trouxeram um que lhe devia milhões de moedas de prata. Mas o empregado não tinha dinheiro para pagar. Então, para pagar a dívida, o seu patrão, o rei, ordenou que fossem vendidos como escravos o empregado, a sua esposa e os seus filhos e que fosse vendido também tudo o que ele possuía. Mas o empregado se ajoelhou diante do patrão e pediu: "Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo ao senhor."
- O patrão teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora. O empregado saiu e encontrou um dos seus companheiros de trabalho que lhe devia cem moedas de prata. Ele pegou esse companheiro pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo: "Pague o que me deve!"
- Então o seu companheiro se ajoelhou e pediu: "Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei tudo."
- Mas ele não concordou. Pelo contrário, mandou pôr o outro na cadeia até que pagasse a dívida. Quando os outros empregados viram o que havia acontecido, ficaram revoltados e foram contar tudo ao patrão. Aí o patrão chamou aquele empregado e disse: "Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você."
- O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida.
E Jesus terminou, dizendo:
- É isso o que o meu Pai, que está no céu, vai fazer com vocês se cada um não perdoar sinceramente o seu irmão.



Leitura Orante

Preparo-me para a Leitura Orante, rezando o Salmo 24:

Mostrai-me, Senhor, vossos caminhos,
e fazei-me conhecer a vossa estrada!

Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação.

Recordai, Senhor Deus,
vossa ternura e vossa compaixão, que são eternas.

De mim lembrai-vos, porque
sois Misericórdia e sois Bondade sem limites, ó Senhor!


1. Leitura (Verdade)

- O que a Palavra diz?
Ler com calma e atentamente a passagem de Mt 18,21-35:
À pergunta de Pedro, "Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?", Jesus disse que não só sete vezes, mas setenta vezes sete! Ou seja, na comunidade dos seguidores de Jesus não existe limite para o perdão. "Setenta vezes sete" quer dizer sempre. A história que Jesus conta em seguida é para lembrar que também nós precisamos de perdão, e também nós somos perdoados, por isso, devemos perdoar sempre.


2. Meditação(Caminho)

- O que a Palavra diz para mim?
O Evangelho de hoje me questiona profundamente, sobretudo se tenho dificuldades para perdoar meus próximos. Devo me lembrar que o perdão mede a minha capacidade de amar. Disseram os bispos, em Aparecida: "A Igreja, sacramento de reconciliação e de paz, deseja que os discípulos e missionários de Cristo sejam também, ali mesmo onde se encontrem, 'construtores de paz' entre os povos e nações de nosso Continente. A Igreja é chamada a ser uma escola permanente de Verdade e de jJustiça, de perdão e de reconciliação para construir uma paz autêntica" (DAp 542).


3. Oração (Vida)

Rezar:

Creio, meu Deus, que estou diante de Ti.
Que me vês e escutas as minhas orações.
Tu és tão grande e tão santo: eu te adoro.
Tu me deste tudo: eu te agradeço.
Foste tão ofendido por mim: eu te peço perdão de todo o meu coração.
Tu és tão misericordioso: eu te peço todas as graças que sabes serem necessárias para mim.


4. Contemplação (Vida/ Missão)

Meditar e refletir:

- Qual o meu novo olhar a partir desta Palavra?
- Quero hoje ter um olhar de amor que tudo perdoa, tudo desculpa, tudo crê?


Bênção

- Deus nos abençoe e nos guarde, a todos que participaram, juntos ou separados, desta prática de leitura orante pela internet. Amém.

- Ele nos mostre sua Face e se compadeça de nós. Amém.

- Volte para nós o seu Olhar e nos dê a sua Paz. Amém.

- Abençoe-nos Deus misericordioso, Pai e Filho e Espírito Santo. Amém.


Ir. Patrícia Silva, fsp


Deus abençoe a sua caminhada neste setembro, mês da Bíblia. - Se você quiser receber o Evangelho do Dia, acesse o seguinte endereço e preencha o formulário de cadastro:
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Fonte:
http://www.paulinas.org.br/diafeliz/evangelho.aspx

Apelo em defesa da Sagrada Eucaristia - palestra de Pe. Paulo Ricardo


Temos
visto multiplicarem-se os relatos dando conta de casos de pessoas que comparecem à Missa, colocam-se na fila da Comunhão e, ao invés de receber a Eucaristia, pegam a Hóstia Consagrada e a guardam na bolsa ou no bolso, retirando-se em seguida. Possivelmente levam-nas para usar em rituais de quimbanda, cultos satânicos ou de magia negra. Segundo depoimento do Pe. Paulo Ricardo, chegam a profanar a Hóstia Sagrada até em sessões de sexo grupal, em rituais satânicos, conforme o referido sacerdote já chegou a ouvir de uma jovem em confissão!

Pedimos a todos os nossos irmãos católicos que, ao verem alguém furtando hóstias na hora da Santa Missa, impeçam essa pessoa! Com respeito, delicadeza e amor no coração, mas com firmeza, vamos impedir que o Corpo de Nosso Senhor, que se entregou em Sacrifício e tanto sofreu pela nossa salvação, seja corrompido e desrespeitado desta maneira! Por favor, se alguém vir este crime horrendo acontecendo, tome uma atitude! Não vamos fingir que não vemos, como têm acontecido! Chega dessa história de católicos passivos e “mornos”. Vamos à luta, porque é preciso!


O que está acontecendo no mundo:

Ato satânico contra Eucaristia teve jovens como autores
Roubam hóstias consagradas em igreja católica nos Andes do Peru
França: mais uma igreja profanada
Blasfêmia na internet
Missa de desagravo após sacrilégio no qual pisaram e jogaram cerveja sobre a Eucaristia

...até quando?



Assista abaixo à palestra de Pe. Paulo Ricardo a
respeito da Adoração Eucarística, em 5 partes:












Apelo em defesa da Sagrada Eucaristia - palestra de Pe. Paulo Ricardo

** Leia o artigo e assista aos vídeos em nosso novo endereço:
ofielcatolico.com.br

Aborto: perguntas e respostas simples

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- Você acredita que a vida de um indivíduo humano começa com a concepção?

- Não, eu não "acredito" nisso, porque isso não é objeto de crença. É uma verdade que eu colho das Ciências Naturais. Da mesma forma, eu não "acredito" que a Terra é redonda, nem que a água é composta de hidrogênio e oxigênio. Não é necessária uma revelação sobrenatural para saber que um indivíduo humano começa quando é concebido. Os que defendem o aborto negam um dado biológico.


- Uma menina está grávida. Você acha que uma criança pode ser mãe de outra criança?


- Mãe, agora, ela já é. Na verdade você não está perguntando se ela pode ou não ser mãe de outra criança; você pergunta se podemos matar
a criança pequena em benefício da criança grande. Respondo que não. Ambas as vidas são igualmente invioláveis.


- É justo compelir uma mulher a levar adiante a gestação de um feto que não tem cérebro ou com alguma outra deficiência grave?


- O que você pergunta é se é justo dar à mãe de uma criança deficiente o direito de assassiná-la. É claro que a mãe não tem esse direito.


- Nos países que legalizaram o aborto, houve uma queda do número de abortos. Não seria conveniente que os defensores da vida lutassem para legalizar o aborto?

 - Esses dados não são verdadeiros. Em Portugal houve um grande aumento no número de abortos (veja aqui). Mas o que realmente importa não é o “total geral” de abortos, e sim a vida de cada criança, que é especial e particular. Ainda que, por absurdo, a legalização desse crime levasse à diminuição de sua prática, não poderíamos legalizá-lo. O que importa é a proteção legal da criança no ventre de sua mãe. Cada bebê é precioso, e não um simples número em uma estatística.


- Você não acha que cada mulher deve ter direito sobre o seu próprio corpo?


- Seguindo esse raciocínio, o corpo humano se compõe de quatro partes: cabeça, tronco, membros e criança(?). Assim como a mulher corta as unhas e os cabelos, ela deveria, segundo o seu pensamento, poder cortar a criança que carrega em seu útero. É isso? A mulher tem direito ao seu corpo, assim como a criança indefesa em seu ventre já tem o direito mais fundamental de todos: o direito de viver.


- Atualmente só as mulheres ricas têm acesso a um aborto seguro. As mulheres pobres acabam morrendo em clínicas clandestinas. Não seria melhor legalizar o aborto para dar fim a essa hipocrisia?

- O fato é que para o bebê o aborto nunca é seguro, - é sempre 100% letal! - E isso é homicídio. A única diferença entre se assassinar uma pessoa na rua e um bebê dentro do ventre de sua mãe, é que o bebê não tem nenhuma chance de se defender. Ninguém, seja rico ou pobre, tem o direito de exigir segurança para assassinar um inocente! Assim como os ladrões não têm direito a um “roubo seguro” e os seqüestradores não têm direito a um “sequestro seguro”, o que seria um completo absurdo, os homicidas também não têm direito a um “homicídio seguro”.


- Centenas de milhares de mulheres morrem, a cada ano, por causa de abortos mal feitos. Legalizar o aborto não seria uma exigência da saúde pública?


- Esses dados são altamente contestáveis, mas ainda que fosse verdade que houvesse uma multidão de mulheres mortas a cada ano por causa de “abortos mal-feitos”, a solução inteligente e
óbvia para evitar essa mortandade é não abortar. Ao invés de legalizar o assassinato dos inocentes, é preciso valorizar a maternidade e a vida intra-uterina, e dar assistência às gestantes. Esta sim, é uma exigência da saúde pública! E nem tão difícil de se resolver.




Imagens reais daquilo que os defensores do aborto chamam de "produtos de gravidez indesejada": o primeiro já tinha aprendido a chupar o dedinho.



Todos ficam chocados quando surge a notícia de uma mãe que jogou seu bebê recém-nascido numa lixeira para morrer. Quando o assunto é aborto, no entanto, alguns consideram algo "normal" ou um "direito da mulher". Só existe uma diferença entre os dois casos: no primeiro, o bebê estava fora do ventre da mãe, e tinha alguma chance de sobreviver. Pense nisso.




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