O primeiro Natal de Paul Claudel

A equipe da revista e do blog Voz da Igreja deseja um santo e feliz Natal do Senhor a todos os nossos leitores! Leia a seguir a maravilhosa história da conversão de Paul Claudel, o célebre diplomata, dramaturgo e poeta francês, membro condecorado da Academia Francesa de Letras. No Natal de 1886, Paul Claudel tinha 18 anos e era um ateu convicto, quando converteu-se subitamente (e inexplicavelmente) ao catolicismo, ao ouvir o coro da Catedral de Notre-Dame de Paris.




Paul Louis Charles Claudel nasceu em 6 de agosto de 1868, em Villeneuve sur Fère en Tardenois, uma pequena aldeia do Aisne, na França. Apesar de terem saído vários padres da sua família, Claudel era indiferente à religião, depois de chegar a Paris , conforme ele mesmo escreveu em sua obra "Ma Conversion" (de 1913): “Tornei-me nitidamente um estranho às coisas da Fé”. - E isso não surpreende, considerando-se o que se passou com as mentes de numerosas famílias de classe média na segunda metade do século XIX. Claudel acrescentou ainda: “Eu tinha feito uma boa primeira Comunhão, que, como ocorre com a maioria dos jovens, foi ao mesmo tempo o coroamento e o fim das minhas práticas religiosas...”.

Como descrever a atmosfera dos idos de 1880 em termos diferentes dos que emprega o próprio Claudel? Parecia que o cristianismo tinha sofrido um eclipse quase que total no plano intelectual:

“Com dezoito anos, minhas crenças eram as da maioria das pessoas consideradas cultas na época. (...) Eu acreditava que tudo estava submetido às leis físicas e que o mundo era um rígido encadeamento de efeitos e causas que a ciência logo explicaria perfeitamente. Tudo isso me parecia, entretanto, muito triste e aborrecido.”

Claudel conservou, destes anos passados na descrença e "na imoralidade”, como ele próprio diz, uma lembrança opressiva. Lembrou-os em pelo menos vinte passagens das suas obras, como por exemplo na primeira estrofe de sua "Ode Jubilar pelo Sexto Centenário de Dante Alighieri" ('L´Ode Jubilaire pour le Sixcentième Anniversaire de Dante Alighieri'), de 1921:

“O mundo, por si só, dificilmente nos poderia persuadir de que é completo e suficiente. Difícil nos é acreditar seriamente que não temos direito a mais nada. Esta parede de figuras imutáveis, com as mesmas enervantes questões, onde colocamos nossas histórias inconsistentes... Difícil é impedir que desmorone e que se torne bizarra e transparente. Difícil é vendar os olhos todo o tempo e pensar em outra coisa. Difícil é, como se não o soubéssemos, ouvir os elogios ao vinho e à rosa que amamos: as armadilhas que são armadas, peça a peça sob os pés, a doença e o pecado, é humilhante nelas cair sempre, e sentir-se sempre um imbecil e um fraco, é humilhante sofrer a imposição da grosseira máquina corporal quando sabemos que fomos feitos para comandá-la; e é idiota a vanglória da carcaça de que somos inquilinos desconfortáveis, este palácio sobre o mar em que nada compensa o tédio espantoso...”

A ideia da morte incomodava Claudel. Tinha sentido muito o falecimento do seu avô e de uma tia-avó, que gritara tanto durante a agonia que todos a escutavam de uma extremidade a outra da sua aldeia. Nessa época, Claudel conheceu a obra de Arthur Rimbaud, gênio poético extremamente precoce, – que lançou a sua primeira coletânea ('Le Bateau Ivre') aos dezessete anos. Escreveu Claudel, em 12 de março de 1908, ao também escritor Jacques Rivière:

“Rimbaud foi a influência maior que sofri. Outros, principalmente Shakespeare, Ésquilo, Dante e Dostoievski foram meus mestres e mostraram-me os segredos da minha arte. Mas Rimbaud teve uma influência que chamarei de paternal, e que me fez crer realmente que há uma geração espiritual assim como há uma geração corporal."

“Lembrar-me-ei sempre da manhã de junho de 1886, quando comprei o pequeno folheto de 'La Vogue' que continha o começo de ''Les Illuminations" ('As Iluminações'). Foi uma revelação para mim. Saía enfim do mundo odioso de Taine, de Renan e de outros Moloques[1] do século XIX, desta prisão, desta insípida mecânica inteiramente governada por leis perfeitamente inflexíveis e, para cúmulo do horror, conhecidas e ensinadas. Eu tinha a revelação do sobrenatural. O gênio mostra-se, em Rimbaud, sob sua forma mais sublime e mais pura, como uma inspiração realmente vinda não se sabe de onde”.

Arthur Rimbaud

Pode surpreender a influência exercida por Rimbaud, que ele nem sabia se era cristão. E aqui nos deparamos com um mistério: a obra de arte tem outra significação além da que lhe quis dar o autor. Quais poderiam ser as intenções de Rimbaud no momento em que escrevia seus poemas? Não importa. O fato inegável é que Claudel ficou profundamente abalado pela leitura de Rimbaud, e talvez preparado para receber a sua Iluminação, alguns meses depois, em pleno dia de Natal.


A grande Iluminação

E enfim chegou o dia do renascimento para Paul Claudel. Nesse ponto da história, não temos outra alternativa a não ser passar a palavra ao próprio Claudel, porque realmente não existe maneira melhor para descrever o grande acontecimento inefável da sua vida. Prepare-se para este verdadeiro mergulho na Graça divina:

“Assim era a infeliz criança que, a 25 de dezembro de 1886, foi a Notre-Dame de Paris para assistir os ofícios de Natal. Tinha começado a escrever, e parecia-me que nas cerimônias católicas, consideradas com um diletantismo superior, encontraria um excitante apropriado e a matéria de alguns exercícios decadentes.

Foi com estas disposições que, conduzido e apertado pela multidão, assisti, com um prazer medíocre, à grande Missa. Depois, não tendo nada melhor a fazer, voltei para assistir às vésperas. As crianças do coro, vestidos de branco, e os alunos do seminário-menor de Saint Nicolas du Chardonnet, que os ajudavam, estavam se aprontando para iniciar o canto que mais tarde soube ser o Magnificat.

Estava misturado ao povo, junto do segundo pilar à entrada do coro, à direita da sacristia. E foi então que se produziu o acontecimento que domina toda a minha vida. Em um instante, meu coração foi tocado e acreditei! Acreditei com tal força, com tal adesão de todo o meu ser, com tão poderosa convicção, com tal certeza sem deixar lugar a qualquer espécie de dúvida que, depois, todos os livros, todos os raciocínios, todos os acasos de uma vida agitada, não puderam abalar-me a fé, nem mesmo, para ser mais preciso, tocá-la de leve que fosse.

Tive de súbito o forte sentimento da inocência, da eterna Juventude de Deus, uma revelação inefável. Tentando, como o fiz várias vezes, reconstituir os minutos que se seguiram a este instante extraordinário, encontro os elementos seguintes que, entretanto, não formam senão um clarão, uma única arma de que a Providência Divina se servia para atingir e abrir enfim o coração de uma pobre criança desesperada: como aqueles que creem são felizes! E se fosse verdade? É verdade! Deus existe, Ele está em toda parte, É alguém, é um Ser tão pessoal como eu. Ele me ama, Ele me chama.

As lágrimas e os soluços vieram... E o canto tão doce do Adeste aumenta ainda mais a minha emoção. Emoção bem doce, mas a que se misturava um sentimento de espanto ou quase de horror. Porque minhas convicções filosóficas não estavam destruídas. Deus as havia deixado desdenhosamente onde estavam, e eu nada via a mudar nelas; a religião católica me parecia continuar o mesmo tesouro de anedotas absurdas, seus padres e fiéis me inspiravam a mesma aversão que ia até o ódio e o desgosto. O edifício de minhas opiniões e de meus conhecimentos permanecia de pé e nada via de falho nele. Tinha apenas me retirado. Um novo e terrível ser, com exigências terríveis para o jovem e o artista que eu era, tinha se revelado e não sabia como conciliá-lo com coisa alguma que me cercava.

O estado de um homem que fosse arrancado de um golpe de seu corpo, para ser colocado em um corpo estranho, no meio de um mundo desconhecido, é a única comparação que posso encontrar para exprimir este estado de confusão completa. O que mais repugnava a minhas opiniões e a meus gostos, é que era a verdade e com o que seria necessário que de bom ou de mau grado eu me adaptasse. Ah! Isso não aconteceria sem que tentasse tudo que me fosse possível para resistir.”

Um outro texto de sua autoria, este poético, se encontra na terceira das suas "Cinq Grandes Odes", de 1907, e traduz o mesmo acontecimento de uma outra maneira:

“Oh, os longos e amargos caminhos de outrora, do tempo em que estava só!

Caminhar em Paris, nesta, longa rua que desce para Notre-Dame!

Então, como o atleta que se dirige ao estádio em meio a seus amigos e treinadores,

E alguém lhe fala à orelha, e o braço que abandona, e as luvas que lhe são ajustadas,

Eu marchava por entre os pés caídos de meus deuses.

Há menos murmúrios na floresta de Sant-Jean, no verão,

Menos gorjeio em Damasco, quando, ao ruído das águas que descem dos montes em tumulto
Se une o suspiro do deserto e a agitação dos altos plátanos à brisa da tarde,

Que palavras neste jovem coração cheio de desejos.

Oh, meu Deus, o filho da mulher vos é mais agradável que um touro novo!

E me encontro diante de Vós como um combatente que se curva;

Não por se acreditar fraco, mas porque o Outro é mais Forte.

Vós me chamastes pelo meu nome,

Como alguém que o conhecesse, Vós me escolhestes entre todos de minha geração.

Oh, meu Deus, sabeis quanto o coração dos jovens é cheio de afeição, e quando ele não se apega às suas máculas e vaidades...

Eis que sois alguém, subitamente!

Aterrasteis Moisés com vossa Força, mas estais em meu coração, assim como se eu não tivesse pecado.

Oh, como sou bem o filho da mulher! porque a razão, a lição dos mestres e o absurdo, tudo isso nada vale

Contra a violência de meu coração e contra as mãos estendidas desta Criança.

Oh lágrimas! Oh coração fraco! Oh mina de lágrimas que correm!

Vinde, fiéis, e adoremos a Criança que nasceu!”


Sim, ninguém poderia falar do renascimento de Claudel tão bem quanto ele próprio. Não apenas por ser um grande escritor, mas porque sua conversão está nas origens de toda a sua obra. Parece, com efeito, que ele se tornou ao mesmo tempo um iluminado cristão e um poeta.

Assim como Saulo de Tarso no caminho para Damasco, foi uma iluminação ao mesmo tempo repentina e total, num instante. E, ao mesmo tempo, como costuma acontecer em casos assim, o bom combate começa. O Evangelho fala muitas vezes do grão de mostarda, a menor de todas as sementes, que termina produzindo uma árvore enorme. Esta imagem parece convir perfeitamente a toda a carreira de Claudel a partir daquele 25 de Dezembro de 1886. Nesse dia foi-lhe dado, subitamente, o germe que devia frutificar em seguida, durante muitos anos. De maneira que a conversão de Claudel, se é repentina e virtualmente completa desde o primeiro dia, não vai cessar, até o fim, de desenvolver suas consequências.


1. 'Moloch' ou 'Moloque' é o nome de uma divindade semítica pagã a quem os pais sacrificavam seus filhos.

Fonte:
LELLOTE, F. SJ. Convertidos do Século XX, Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1960; tradução de Hoche Luiz Pulchério.
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Os animais têm alma como os seres humanos?


O
 que diz a doutrina cristã católica a respeito deste assunto, que desperta o interesse de cada vez mais pessoas?

Vivemos tempos em que muitos valorizam mais a vida de um animal do que a vida de um ser humano. Muitas pessoas estão se comovendo mais com os problemas de cães e gatos do que com as vidas de tantas crianças carentes, idosos desamparados... Muitos supostos humanistas são ao mesmo tempo defensores dos direitos dos animais e favoráveis ao aborto como "um direito da mulher". O direito fundamental à vida de um bebê no ventre materno vale menos do que o direito de um cachorrinho?!

Verdadeiras fortunas são gastas com luxos para os "pets". Não estamos falando de alimentar e tratar bem, mas sim de acompanhamento "psicológico"(!), massagens relaxantes, banhos de ofurô, coleiras decoradas com pedras preciosas, restaurantes especializados e até motéis... Tudo para cachorro. Enquanto isso, ali na esquina, uma criança implora por um prato de comida. 

De pessoas que possuem um cão de estimação, a frase mais comum é a seguinte: "É como se fosse o meu filho!"... Os mais exagerados chegam mesmo a dizer que não há diferença entre um cachorrinho e uma criança, que ambos merecem o mesmo amor e o mesmo carinho... Dia desses, diante de uma senhora que me disse tal frase, não resisti e contra-argumentei: "não me leve a mal, mas ainda bem que eu não sou filho da senhora! Eu não gostaria de ouvir minha mãe dizer que eu não valho mais do que um cachorro, por mais fofo que ele seja...". - Não fiz por mal: eu só queria abrir a consciência daquela pessoa para o absurdo que ela estava dizendo, mesmo sem maldade.

Outros ainda vão além e dizem que um cachorro vale mais do que um ser humano, porque os humanos roubam, matam, cometem barbaridades... E os cachorros não fazem nada disso e são fiéis aos seus donos. Bem, há controvérsias: posso citar o caso de uma vizinha que eu tive, que apesar de tratar seu cachorro, literalmente, como se fosse um filho, um belo dia levou uma mordida tão feia que teve que ser socorrida ao hospital. Existem muitos casos como esse, e, se formos usar a mesma lógica, teríamos de concluir que deveríamos exterminar toda a humanidade e deixar o planeta livre para as árvores. Estas sim, não fazem mal a ninguém e, pelo contrário, são benéficas por sua própria natureza.

Será que o fato de os seres humanos fazerem o mal justifica a ideia de que valem menos que os animais? O que a sua consciência cristã diz sobre este assunto? Será mesmo que um cachorro deve ser amado, literalmente, como um filho? Será que não há diferença entre um filho e um cão?

Segundo a psicologia, o amor assim extremamente exagerado pelos animais de estimação está relacionado à dependência afetiva e a uma personalidade imatura, que depende de uma muleta psicológica para sobreviver.

Já o crescimento do mercado "pet" (produtos para animais de estimação) é confirmado nos dados comerciais do segmento. Dados do IBOPE-NPD, estimam em quase quarenta milhões a população de animais de estimação no Brasil, sendo que 71% das residências tem cão e 17,5% dos lares tem gato. O setor vem apresentando um crescimento médio de 17% ao ano(!), desde 1995, segundo a Associação dos Revendedores e Prestadores de Serviços ao Mercado Pet.

A solução está no equilíbrio. Só precisamos do mínimo de bom senso, razão e lógica: em outras palavras, precisamos apenas de discernimento. A ligação vital com o meio em que vivemos, - com a natureza, com as plantas e os animais, - alimenta o nosso espírito, proporciona prazer à nossa vida e nos acalma. Pode servir como uma espécie de vínculo com Deus Criador e facilitar até o nosso trato com as outras pessoas. Pode ser também uma arma contra a solidão, a apatia e a depressão. O problema está no exagero e na perda da noção da realidade.

Adotar e cuidar de um animal, por mais saudável e agradável que seja, jamais deveria nos levar a assemelhá-lo ou compará-lo com um ser humano, especialmente um filho. O psicólogo especializado Richard Klein[1] advertiu que comparar um cão a um ser humano é um erro psicológico e biológico perigoso, e que a humanização dos animais pode conduzir a uma animalização dos seres humanos. Assim, a também psicóloga Marjorie Garber, autora do livro-referência "Amor de Cão" (Editora Record - veja aqui) coloca-se contra a ideia de permitir que o amor pelos animais substitua o amor pelos seres humanos, chamando tal preferência de moralmente perigosa. Conclui que o ser humano que, desiludido e amargurado pela fraqueza dos homens, retira seu amor da humanidade e o deposita em cães ou gatos, está cometendo um pecado grave e uma repulsiva perversão social


A alma dos animais

E aí, quando o animal de estimação morre, muitos sofrem além da conta, não se conformam com a perda e querem acreditar que reencontrarão seus bichinhos, algum dia, no Céu. Outros preferem imaginar que existe um "céu dos cachorros" ou dos gatos, onde eles viverão felizes para sempre. O que a Igreja tem a dizer sobre isso?

Os animais tem almas como os seres humanos? A resposta para essa pergunta é sim e não. Segundo a doutrina cristã e católica, sim, os animais, - e também as plantas -, possuem almas. Mas não, eles (obviamente) não possuem almas iguais às nossas.

A alma é o princípio da vida. Os animais e as plantas são seres vivos, logo possuem almas, mas não no mesmo sentido que as almas humanas. Nossas almas são racionais e conscientes, as almas deles não são; nossas almas são racionais porque são espirituais e não materiais.

Como assim? Os animais e as plantas não podem fazer nada que transcenda os limites da matéria, isto é, nada que vá além do físico. Eles vivem e morrem neste mundo. Embora muitos animais sejam realmente muito "inteligentes", eles realmente não possuem a nossa inteligência conceitual. Eles não podem, por exemplo, conceber a noção abstrata de justiça. Animal algum possui a consciência humana do bem e do mal. Os animais e as plantas não têm senso moral. Quando você repreende o seu cachorro por ele ter mastigado o tapete e ainda diz a ele que "está errado", é certo que você não pode atribuir-lhe culpa de pecado, já que ele não pode cometer pecados. Ainda que ele faça uma "carinha muito fofa" quando você briga com ele devido a uma travessura, ele não pode compreender porque aquilo é errado. Estudos apontam que alguns bichos acabam se especializando em adotar posturas e "expressões" que cativam os seres humanos, porque aprenderam que isso funciona.

Para muita gente parece estranho: até onde eu observo, os animais sentem e expressam sentimentos (alegria, tristeza, raiva, euforia, preguiça e mesmo dissimulação). A diferença é que estes sentimentos não lhes têm peso moral algum; não são capazes de transformar essas emoções instintivas em virtude, pois que não são capazes de discernir entre o bem e o mal.

As almas dos animais e das plantas dependem inteiramente da matéria para o seu ser e para as suas ações. Tais almas deixam de existir com a morte (não existe um 'céu para cachorros'). Os animais nascem e cumprem o seu papel na existência aqui mesmo, e é assim que deve ser. Percebe onde começa o pecado de dizer que um cachorro é igual a um filho?

As almas humanas, ao contrário, não são materiais. São espirituais. Só um espírito pode conhecer e amar em nível mais elevado, transcendente; as duas faculdades principais do espírito são o intelecto (que conhece) e a vontade (que ama). Nós sabemos que as almas humanas são espirituais porque podem conhecer e amar. Um animal pode demonstrar afeto e fidelidade ao dono. Eles são capazes disso, mas se tratam de naturezas e realidades muito distintas.

As almas humanas são imortais porque os espíritos não podem se decompor. Eles também são indivisíveis: apenas uma coisa divisível pode ser separada em partes. O espírito é uma unidade: não tem parte superior nem inferior; não tem esquerda ou direita; não tem lado de dentro nem lado de fora.

Toda matéria, por menor que seja ela, possui partes, logo é divisível. O corpo humano pode se decompor - pois é feito de matéria - mas a alma humana não - e por isso dizemos que é imortal.

Aos que não se conformam com o fato de os animais não possuírem alma imortal e não terem a possibilidade de ganhar o Céu, cabe a reflexão a seguir, extraída do website "O Catequista":

Observe que estivemos falando aqui exclusivamente de cães e gatos. Ninguém está preocupado com o destino post mortem dos outros animaizinhos: as baratas que insistem em invadir a sua cozinha, o rato que mora no bueiro em frente à sua casa, o camarão da empada que você comeu ontem, o mosquito da dengue que mordeu a sua tia no verão passado… Com a alma deles, aposto que você nunca se preocupou!

Então, vamos direto ao ponto: não, o seu cachorro não vai para o Céu. E não é por que ele roubou a salsicha do mercado e se atracou lascivamente com as pernas da sua vizinha… O fato é que ele não possui alma imortal. Simples assim.

O Catecismo da Igreja Católica (2415 a 2418) ensina que os animais são dons de Deus. São criaturas benditas, mas que não possuem alma imortal. Temos a obrigação de tratá-los com respeito e carinho, já que eles têm sentimentos e sentem dor. É pecado “fazer os animais sofrerem inutilmente e desperdiçar suas vidas”. Mas sem confundir as coisas. Assim como as demais coisas maravilhosas da natureza, – as flores, as matas e os rios, – os animais de estimação são, muitas vezes, um consolo no meio das amarguras e decepções da vida. Eles são sinais da bondade de Deus para conosco, então, agradeça a Ele pelos momentos de alegria que o seu bichinho lhe dá, pela companhia que ele lhe faz, pelo carinho que lhe oferece. Mas sem confundir as coisas.
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Pergunta e resposta: a intercessão dos santos e os ídolos


O leitor Valfredo deixou-nos o seguinte comentário ao post "Pergunta e resposta: a Bíblia e a proibição de imagens":

"Padroeiros, os santos são considerados intercessores para os catolicos, então como dizer que vocês não acredita na divindade dos idolos.(?)"


Respondendo, Valfredo, precisamos dizer que você está fazendo uma "salada" muito confusa de termos e conceitos! Com todo o respeito, vamos tentar desfazer esses nós que se formaram aí na sua cabeça...

Primeiro, "santo" é um cristão que entregou sua vida a Deus e aderiu ao caminho de Cristo. A Bíblia fala inúmeras vezes dos santos:

"Santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o SENHOR vosso Deus." (Lv 20,7)

"Porquanto está escrito: 'Sede santos, porque eu sou Santo'." (1 Pd 1,16)

Diversos livros do Novo Testamento iniciam-se com a saudação "à Igreja dos santos...", e o próprio Senhor Jesus Cristo disse: "Sede santos como vosso Pai Celestial é santo" (Mt 5,48).

As Sagradas Escrituras referem-se também aos santos que estão no Céu, como podemos ver em Hebreus 12, 22 - 23:

“...Chegastes ao Monte Sião, à Cidade do Deus Vivo, à Jerusalém Celeste, e aos muitos milhares de anjos; à Assembleia Universal e Igreja dos Primogênitos que estão inscritos nos Céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados”. - A Bíblia Sagrada está afirmando, categoricamente, que os santos que já morreram neste mundo estão bem vivos e aperfeiçoados, no Céu, em Comunhão com Deus.

Em Apocalipse 8,3 está escrito:

"E veio outro anjo, e pôs-se junto ao Altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o Altar de Ouro, que está diante do Trono."

Portanto, veja que não há nenhum sentido em dizer que "só Jesus é santo", como muitas vezes ouvimos da boca de algum irmão "evangélico". Isso é totalmente antibíblico. Jesus quer que o imitemos e sejamos também santos.


Entendido este ponto, em segundo lugar, quando uma comunidade da Igreja elege algum santo para ser o seu "padroeiro", quer dizer que elegeu aquele irmão em Cristo, que foi um modelo para a Igreja e que já está no Céu com Deus, para ser o seu especial intercessor. Quer dizer também que aquela comunidade o admira e busca seguir o seu exemplo de vida cristã. Só isso.

Também as primeiras comunidades da Igreja viam em Pedro e em Paulo grandes exemplos de santidade, e os elegeram como seus padroeiros, embora não se usasse essa expressão naquele tempo:

O livro dos Atos dos Apóstolos conta o seguinte:

"Deus fazia milagres não vulgares por mão de Paulo, de tal modo que até, sendo aplicados aos enfermos os lenços e aventais que tinham tocado seu corpo, não só saiam deles as doenças, mas também os espíritos malignos se retiravam." (At 19,11-12)

O mesmo livro dos Atos diz também que:

"Traziam os doentes para as ruas e punham-nos em leitos e enxergões, a fim de que, ao passar Pedro, cobrisse ao menos a sua sombra algum deles." (At 5,15)

Que grande fé na intercessão dos santos! No entanto, hoje os nossos irmãos protestantes nos chamam de "idólatras" por mantermos viva a mesma fé da Igreja dos primeiros tempos...

Quanto à questão da intercessão, é muito simples: quando você ora a Deus pedindo por algum irmão ou irmã, você está intercedendo a Deus por esse irmão ou por essa irmã. E a Escritura não nos exorta a intercedermos a Deus uns pelos outros?

Portanto, você já pode e deve tirar da sua cabeça, de uma vez por todas, essa ideia que o pastor incutiu de que os santos são "ídolos". Ídolo, no contexto bíblico, é uma imagem de um deus pagão. Os santos que os cristãos veneram são grandes servos de Cristo que estão no Céu. E eles não são "divinos", pois somente Deus possui Divindade. Se eu peço a Deus alguma graça para a sua vida, e essa graça é atendida, isso não quer dizer que eu seja "divino".

Para entender melhor, leia também este nosso outro artigo, que aborda o mesmo tema: Manual Bíblico Católico - 2 (clique para ler) .

Deus o abençoe lhe conceda a Luz!
Henrique Sebastião
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Tibieza, esta grande inimiga


Em
alguns períodos difíceis de nossas vidas, enquanto cristãos e cristãs, podemos detectar em nós alguns dos sintomas da tibieza, entre os quais a frieza, a apatia, o desânimo, a insatisfação com Deus e conosco mesmo, a falta de estímulo, do desejo ou da disposição para a oração diária e até mesmo a falta de forças para decidir por algo ou desistir de alguma coisa. Se você está sofrendo deste mal, não se desespere: é uma situação comum na vida dos cristãos, e o único remédio conhecido é infalível:  você precisa de humildade para se reconhecer dependente de Deus, e de persistência para buscá-lo, mesmo que não sinta a sua Presença.

É preciso, em primeiro lugar, tomar consciência da sua condição de necessitado(a) de uma renovação constante do Espírito de Deus em sua vida. A oração constante e a abertura à ação da Graça divina farão de você um homem ou uma mulher fervoroso(a), capacitados pelo Espírito a transbordar no mundo o Amor infinito de Deus.

Uma alma tíbia é uma alma morna, fraca, preguiçosa, desanimada e sem fervor. Esta "doença da alma" traz sérias consequências, - não só para a nossa vida espiritual, mas afeta todas as realidades da nossa existência, em muitos casos até mesmo nossa saúde física. - Essa doença é consequência do pecado e desenvolve-se com facilidade nas almas que são inimigas das renúncias, dos sacrifícios da oração diária. Nos que possuem uma natureza indolente e preguiçosa, a disciplina precisa ser buscada, perseguida, cultivada todos os dias... O fiel precisa persistir no Caminho da santificação, mesmo  (e principalmente) quando lhe parecer impossível.




Mas pouco adianta dizer, simplesmente, que é preciso aplicar à doença da tibieza o remédio da humildade e da persistência. Seria como dizer a um doente que o remédio para ele é a saúde, sendo que é exatamente este o seu problema: a falta de saúde.

No âmago da questão, a verdade mais profunda é que o único remédio contra a tibieza é o Espírito Santo, porque não existe verdadeiro fervor por Deus se não for inflamado pelo Fogo do Espírito. O pecado endurece o coração e torna a pessoa indiferente a Deus. O Espírito nos aponta as raízes do pecado, fortalece-nos para a batalha, fecunda em nós os seus dons, purifica-nos, aquece e inflama o nosso ser.

O Espírito Santo é em nós como o fogo quando se apega à lenha úmida: primeiro a expurga, arrancando-lhe com estalos todas as impurezas, depois a inflama progressivamente, até que se torne toda incandescente e ela mesma se transforme em fogo. Ele, que faz novas todas as coisas, quer fazer fervorosos, animados e ativos as pessoas tíbias.

Concretamente, isto quer dizer que o Espírito Santo nos preserva de cair na tibieza, e se por acaso já nos encontrarmos neste estado, livra-nos dela. É impossível sair da tibieza sem uma intervenção decisiva do Espírito; se tentarmos fazê-lo por nossos próprios esforços, mergulharemos ainda mais no pecado do orgulho.

Olhemos para os Apóstolos antes de Pentecostes: eram tíbios, incapazes de vigiar uma hora, discutindo sobre quem seria o maior, incapazes de entender a Mensagem de Cristo e fugiram diante da ameaça. Depois que o Espírito veio sobre eles, tornaram-se a imagem viva do zelo, do fervor e da coragem. Fervorosos no pregar, no adorar a Deus, no iniciar e organizar as comunidades da Igreja e, enfim, até no sacrificar a vida por Cristo.

Cirilo de Jerusalém escreve: "Os Apóstolos receberam o Fogo que queima os espinhos dos pecados e dá esplendor à alma", e um escritor medieval escreve: "O Paráclito que, em línguas de Fogo, desceu sobre os Apóstolos e os discípulos, desce também sobre nós como fogo: para queimar e destruir a culpa, para purificar a natureza, para consolidar e aperfeiçoar a Graça, para expulsar a preguiça de nossa tibieza e acender em nós o fervor do seu Amor" (Hermann de Runa, Sermões Festivos, 31).

Muitos santos passaram por um longo período de tibieza, mas nenhum deles foi santo sem ter sido transformado pelo poder e ação viva do Espírito Santo:

"Passei nesse mar tempestuoso quase vinte anos, ora caindo ora levantando. Mas levantava-me mal, pois tornava a cair. Tinha tão pouca perfeição que, por assim dizer, nenhuma conta fazia de pecados veniais. Se temia os mortais não era a ponto de me afastar dos perigos. Sei dizer que é uma das vidas mais penosas que se possa imaginar. Nem me alegrava em Deus, nem achava felicidade no mundo. Em meio aos contentamentos mundanos, a lembrança do que devia a Deus me atormentava. Quando estava com Deus, perturbavam-me as afeições do mundo" (Santa Teresa de Jesus, Vida, 8,2).

Quando invocamos o Espírito, clamamos: "Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor", mas às vezes este clamor também é frio, porque fria é a nossa esperança. Com o auxílio da graça, porém, é possível sair da tibieza e passarmos da condição de tíbios frios e temerosos a animados e fervorosos no Espírito.
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Baseado em texto de Josefa Alves (Revista Maná - Comunidade Shalom), "Libertos da Tibieza"

Referência bibliográfica:
CANTALAMESSA, Raniero. O Canto do Espírito. São Paulo: Vozes, 1998.
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Imagens de Natal 2012

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Tempo do Advento


Começamos um novo Ano Litúrgico com o Advento. A palavra Advento (do latim adventu) significa o período das quatro semanas que precedem o Natal até as vésperas deste. No dicionário, é sinônimo de aparecimento, chegada, início, vida.

Para a Igreja de Cristo, o Advento é tempo de preparação, tempo de expectativa e alegria para a vinda de Jesus Cristo, Deus em forma humana, no tempo e na história dos homens, para trazer-lhes a salvação.

"Entrando na casa de Maria, o anjo disse-lhe: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo! (...) Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa e Jacó, e o seu reino não terá fim". (Lucas 1, 28.30-33)

O Tempo do Advento começa nas primeiras Vésperas do domingo que sucede ao dia 30 de novembro ou o mais próximo desta data, e termina antes das primeiras Vésperas do Natal. Por variar a data do início do Tempo do Advento, tem ele uma duração de aproximadamente três ou quatro semanas. Os dias de 17 a 24 de dezembro constituem uma preparação mais direta para o Natal do Senhor.

Durante o Tempo do Advento não deve-se cantar o Glória, só ocorrendo nas solenidades e festas.

A cor litúrgica nas Missas feriais do Tempo do Advento é o roxo, e a do Natal é o branco.

** Veja nossas imagens de Natal exclusivas
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