Nesta Quaresma que se aproxima, lembramos uma vez mais que Deus sempre chamou o ser humano a fazer penitência, como forma de reconhecer os seus pecados, para que se torne capaz de acolher o Reino de Deus, que já está dentro de nós (cf. Lc 17,21). Mas que penitência é esta? Não falamos aqui do Sacramento-Penitência, que é a confissão dos pecados através da mediação de um sacerdote que, em nome de Cristo, nos reconcilia com Deus, conosco e com nossos irmãos, permitindo-nos viver uma vida nova, cheia de amor e obras boas.
Nada mais terapêutico, belo e tranquilizador do que ouvir sobre nós, na voz do sacerdote devidamente ordenado: “Deus, Pai de Misericórdia, que, pela Morte e Ressurreição de seu Filho reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E eu te absolvo dos teus pecados, Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém”.
Ah!.. Como é bom ouvir isso! Como faz bem à alma, e em consequência também à mente e até ao corpo! Essas palavras são como uma chuva que fecunda o nosso deserto, uma ponte que restaura o Caminho, Jesus, que se renova para nós. Não devemos ter medo de nos confessar, confiando no Amor de Deus. Como dizem os santos, devemos ter medo, isto sim, de “ofender” a Deus com as nossas maldades e a nossa preguiça de tentar melhorar enquanto católicos e enquanto seres humanos.
Mas este artigo não é sobre o Sacramento da Penitência ou Confissão, e sim sobre a virtude da penitência. Uma virtude que todo católico precisa adquirir para poder carregar com alegria a Cruz de Cristo, que nos é oferecida no nosso dia-a-dia: “Aquele que quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24-7). Vamos então tentar compreender esta santa virtude, que é autodomínio, controle de si mesmo e purificação de tudo o que não vem de Deus. Implica afastar de nós tudo que nos impede de viver o Mistério do Amor infinito do Criador. A penitência é uma virtude cristã essencial para o crescimento espiritual, que integra toda a nossa vida espiritual, nos oferece elementos para podermos compreender melhor a superação do pecado, a nossa Aliança com Deus, a nossa fidelidade e amor ao Senhor e ao próximo. Consiste na renúncia consciente de alguns pequenos prazeres deste mundo em vista de um Bem infinitamente maior. Por isso, a penitência e o sacrifício, em si mesmos, não tem sentido se não forem voltados para Nosso Senhor e para o bem do próximo. Se não fosse assim, seria puro masoquismo.
A penitência não é privação de alguma coisa por alguns dias para logo depois “recuperar o tempo perdido”, como contam tantos católicos que parecem não compreender o sentido da prática: “Durante a Quaresma eu faço penitência de não comer chocolate, mas, na Páscoa, eu recupero o atraso e como até não aguentar mais...” Para que serve essa maneira de pensar e de agir? Para nada. Não é esta falsa penitência que o Senhor deseja. A penitência deve ser vista como atitude interior, de todo o nosso ser, para nos converter (mudar o rumo de nossas vidas) e assumir com verdade o Evangelho como regra de vida.
Todo o sentido da penitência é alcançar melhor a vivência do Cristo em sua vida. O mundo de hoje rejeita tudo o que lembra esforço, sofrimento, renúncia. É um mundo marcado pelos prazeres fúteis, que prefere gozar as alegrias do mundo do que buscar a realização eterna. Mas Jesus não pede muitas coisas aos pecadores, somente duas que são fundamentais para quem quer ser sinal vivo do Senhor:
Penitência, isto é, atos concretos de despojamento, de morte ao mal em nós. A determinação de assumir uma vida nova. Toda mudança exige esforço e persistência, como um treinamento. Quantos sacrifícios e renúncias fazem os atletas, visando um prêmio ou uma medalha? S. Paulo lembra disso ao dizer: “Não sabeis que os que correm no estádio correm todos, mas só um alcança o prêmio? Correi, pois, de modo que o alcanceis” (1Cor 9, 24). Penitência é um meio para chegar à meta: a vida eterna em Cristo. Compromisso de não pecar mais: O perdão é gratuito, mas depende do seu sincero compromisso de não pecar mais, de não repetir os mesmos erros. É assim que Jesus orienta depois de perdoar, como no caso da mulher adúltera: “Teus pecados estão perdoados; vá em paz e não peques mais.” É uma exigência fundamental. Não devemos ter medo do nosso passado, e sim do nosso futuro. Diz Jesus: “Não peques mais, para que não te aconteça coisa ainda pior” (Jo 5,14). Não é maldição, é advertência, um aviso carinhoso de quem se preocupa conosco e nos ama.
São três os meios penitenciais principais:
1. Oração
A oração vista como forma de penitência. Nem sempre é fácil rezar, é necessária a renúncia de outras atividades, que às vezes achamos muito mais agradáveis.
2. Esmola
A verdadeira esmola não é o “supérfluo, o inútil”. Quem faz limpeza em sua casa, dando aos pobres o que está atrapalhando, não faz caridade, simplesmente faz de um irmão um “cesto de lixo”. É necessário, na caridade, dar “o que está dentro do nosso prato”, o que é bom, e não o descartável. Reveja a sua atitude de caridade e de esmola como virtude da “penitência”. Todos sabemos como é difícil se privar de algo que gostamos para fazer alguém feliz, mas é isto que Deus espera de nós.
3. O jejum
O jejum é a forma mais tradicional da “penitência”. Atualmente os jejuns são extremamente reduzidos, não chegam a sacrificar ninguém. Mas jamais a Igreja poderá tirar da prática cristã o espírito penitencial do jejum, que é participar da paixão de Cristo, sermos solidários com os sofrimentos do Senhor e dos que sofrem ao nosso lado, dividir o que, temos. São atitudes necessárias no seguimento de Jesus.
-
Estou passando por momentos de tortura psicológica e sofrendo pelo sentimento da culpa. Agradeço ao autor da publicação, pois por um breve momento, o texto aliviou minha alma.
ResponderExcluir