A Oração do Senhor: um breve estudo

A mais perfeita das orações nos foi ensinada pelo próprio Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Os estudos e reflexões sobre sua forma e conteúdo, a partir de pontos de vista religiosos, teológicos, psicológicos e filosóficos, são inúmeros. Apresentamos abaixo mais uma apreciação, esta exclusiva do Apostolado Voz da Igreja, menos científica e mais humana-espiritual. Que seja útil.

“Pai nosso, que estais nos Céus, santificado seja o vosso Nome...”

A Oração do Senhor é como um resumo de tudo o que devemos crer, pedir e esperar de nosso Criador e Salvador, a começar pelas primeiras palavras: chamar ao Deus Todo-Poderoso, Criador do Universo, o temido Deus do Antigo Testamento, simplesmente de Pai. Embora a maioria das pessoas, hoje, não imagine,  esta foi uma das maiores transformações do pensamento humano provocadas por Jesus. Até então, a ideia de usar a expressão “Abba” para se referir ao poderoso “Senhor dos Exércitos”, o Deus “Vingador de Israel”, soaria como blasfêmia para a maioria das correntes religiosas reinantes entre o povo judeu.

Para ser mais específico, a palavra Abba, no hebraico bíblico, representa a maneira como as crianças chamam seus pais, significando algo assim como “papai”. Uma demonstração inacreditável de intimidade, da parte de Jesus, para com o Deus Absoluto que os judeus tanto temiam. Antes de Cristo, em escritos do Antigo Testamento, o espaço reservado para escrever a palavra com que designar Deus era deixado em branco, tamanho o temor que sentiam de sequer escrever o Santo Nome.

Assim, criaram muitas formas, títulos e ideogramas parar se referir ao Senhor, porque se consideravam indignos de pronunciar o seu Nome ou sequer de escrevê-lo. Surge então um Galileu muito simples e humilde, mas que ensinava os mestres na sinagoga, e chamava a este mesmo Senhor temível de Papai. Muito além disso, ensinou-no que deveríamos também nós, povo fiel a Ele, chamá-lo assim! Deu-nos o direito de sermos chamados filhos de Deus. Isto é o que podemos chamar de uma profunda transformação espiritual, verdadeiramente; porque é uma transformação interior, do tipo que muda, de dentro pra fora, toda a essência do pensamento, e consequentemente, todo o comportamento humano. Ou assim deveria ser quando a adesão a Jesus Cristo e ao seu Reino é verdadeira.

"Considerai com que Amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato. Por isso, o mundo não nos conhece, porque não O conheceu. Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como Ele é." (1Jo 3,1-2)

Depois, temos a questão de santificar o Nome de Deus: logo na frase seguinte, Jesus diz "santificado seja o vosso Nome". - Logo depois de nos dar a incomensurável Graça de sermos filhos de Deus, o Senhor ressalta a separação entre Deus e nós, em Poder, Santidade, Glória. Não somos iguais a Deus, como não somos autossuficientes, mas dependemos dEle: "Sem Mim, nada podeis fazer" (Jo 15,5).

Os Dez Mandamentos, dados a Moisés, começam condenando a comparação de Deus Todo-Poderoso com os falsos deuses e ídolos pagãos, e o uso do Nome de Deus em vão. Jesus começa ratificando este primeiro Mandamento. Mantendo este conceito bem firme em nossas mentes, jamais permitiremos que nossa imaginação corrompa quem é Deus.

"Santificado seja…" - Santificar é separar de tudo o que é comum e profano; estimar, prezar, honrar, reverenciar e adorar como divino e abençoado. Ao dizê-o, estamos reconhecendo a veracidade da Santidade absoluta de Deus. Estamos expressando nossa total reverência, respeito, admiração e louvor pela Grandeza de Deus. Estamos necessariamente contrastando o Nome de Deus com todos os outros nomes. "Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos" (At 4,12). É em seu Nome que esperamos. Este Nome separamos, e não pomos nenhum outro no mesmo nível de reverência, respeito, admiração, louvor.

Quando rezamos, não estamos conversando informalmente com um colega igual a nós. Ainda que as nossas orações possam refletir a bem-aventurada intimidade que temos desenvolvido com Deus, precisamos sempre reconhecer que estamos nos aproximando de nosso Criador, o Autor da Vida, que é infinitamente poderoso, santo e justo, e o fazemos somente por causa do acesso possibilitado pelo Sangue de Cristo.

"…o vosso Nome" - No Velho Testamento, os judeus receberam um Nome especial para Deus. Em Êxodo 3,13-14, Moisés disse que os filhos de Israel perguntariam a respeito do Deus que o enviou: "Qual é o vosso Nome?" Deus mandou Moisés dizer-lhes, "Eu Sou me enviou a vós outros". A palavra traduzida como "Senhor" (a transliteração mais próxima seria Iahweh, embora haja discordância entre os especialistas) vem da palavra-raiz para "Eu Sou". Portanto, um Nome foi usado para Deus, e de modo algum se pode usar este Nome de modo vão (Lv 24,16).

A pesquisa histórica leva a crer que os antigos judeus estavam tão temerosos de usarem o Nome de Deus em vão que a pronúncia deste Nome foi perdida no correr da História. Mas ainda que eles tomassem grande cuidado no uso do Nome de Deus, o respeito pelo próprio Deus deixou a desejar. Na oração de Jesus, a ênfase não está em separar uma designação específica para Deus, em cultuar a pronúncia e a grafia deste Nome, e sim na atitude dos filhos de Deus para com a Pessoa de Deus. Evidentemente, Deus, enquanto Ser infinito, não se limita ou se sujeita a um determinado nome.

Hoje, a todo momento vemos alguém dizer algo como: "só por Deus!", ou "ai meu Deus!", ou "em nome de Jesus", a todo momento e por qualquer motivo, nos momentos mais corriqueiros... Isso torna profano o que é sagrado e santo. Está errado. Aproximemo-nos de Deus com reconhecimento da sua Grandeza e Glória, dizendo isso! Santificado seja o vosso Nome!

“...Venha a nós o Vosso Reino...”

Aqui Jesus nos convida à reflexão sobre o significado do termo “Reino de Deus”, algo realmente muito profundo, mas está claro nos Evangelhos que ele não se referia somente a um plano superior em algum Lugar/Estado mais elevado, mas sim a um estado interior do ser humano - "O Reino de Deus está no meio(ou dentro) de vós" (Lc 17, 21).

Não entraremos em longas explicações a respeito do sentido do Reino de Deus segundo Jesus Cristo, mas convidamos nossos leitores a meditarem, contemplarem e refletirem sobre este princípio fundamental da fé cristã: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas as coisas vos serão dadas em acréscimo" (Mt 6,33). O Reino de Deus é a Vontade de Deus, a Graça, a nova ordem de valores e de coisas, que se manifesta no coração e na alma do ser humano e se reflete no seu pensar, no seu modo de ser e de viver, a cada dia, a cada instante. Vivemos o Reino de Deus já agora, já aqui, e o viveremos em plenitude ao lado do Senhor e dos seus santos.

“...Seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como nos Céus...”

O cristão é chamado a anular seu próprio ego, se despir de todo orgulho e se entregar, com humildade e confiança, diante da Sabedoria do Criador. Fazer a minha própria vontade costuma me levar quase sempre ao engano e, não raro, à destruição. Faça-se na minha vida a vossa Vontade, meu Pai, porque só Vós é que sabeis o que é melhor para mim. A perfeição do cristão acontece quando ele fez de suas próprias vontades e a Vontade de Deus uma só coisa.

“...O pão nosso de cada dia dai-nos hoje...”

Viver no hoje, no agora. Preocuparmo-nos menos com o dia de amanhã. Deixarmos de nos angustiar e de nos ocuparmos demasiadamente dos planos para o futuro, enquanto esquecemos o presente. Confiar em Deus, a cada novo dia, e entender que há nessa vida mais do que o pão de cada diz, o comer e o beber, que representam, aqui, todas as nossas necessidades materiais.

“Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo (Mt 6,25 a 34)”.

Segundo uma infinidade de mestres, psicólogos e doutores da mente de toda espécie, este é o maior segredo para a serenidade e um grande remédio para muitos males: Viver o hoje, o agora! O Senhor nos quer tranquilos quando às coisas do mundo, e empenhados em buscar o Reino de Deus.

"...Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores...”

Deus é Amor (1Jo 4,8). E Deus é justo. Não há Regra mais perfeita do que a justiça, não há melhor caminho para a paz. Minhas falhas serão perdoadas, sim, se eu souber perdoar também às falhas alheias. Alguém poderá discordar da perfeita justiça deste princípio cristão?

"...E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”.

Ao finalizar, pedimos ajuda para nos mantermos no Caminho, que é o próprio Cristo, e proteção contra todo o mal. Perfeita. Irretocável. Esta é a Oração das orações, e além de tudo é uma aula da verdadeira Doutrina do Cristo.

vozdaigreja.blogspot.com