Recebemos do leitor Marcelo Olaia uma longa mensagem, que estamos publicando e respondendo em partes. A primeira parte você pode ler aqui. A segunda parte aqui. Abaixo, a terceira parte da pergunta, seguida de nossa resposta:
Olá,
(...) A razão me diz que não é possível acreditar que apenas uma existência é suficiente para poder evoluir e ter direito a uma vida eterna. (...) Por que Deus se daria ao “luxo” de ficar observando tanta barbárie, se na média, em menos de 70 anos estaríamos mortos e seriamos acordados para ter uma vida plena na eternidade? Quantos bilhões de seres estariam esperando para acordar? Adão e Eva ou mesmo Abel, estão dormindo há mais de 6 mil anos? Se alguns forem para o inferno, então Jesus mentiu? Algumas ovelhas se perderam no meio do caminho. Por que não tenho liberdade de acreditar em uma doutrina que tem uma explicação muito mais racional? Que não dogma ou mistérios? Se tudo aquilo que ela me mostra é que preciso estar sempre me melhorando, sempre praticando o bem, ter pensamentos voltados para o bem de todos, jamais julgar alguém, mesmo aqueles que cometem crimes hediondos, pois eles estão doentes e precisam de ajuda, não de quem os condene, qual é o problema que isso pode me causar?
Acredito que ao invés de ficarmos procurando o que há de negativo em cada religião, sugiro que nos concentremos na busca por aquilo que é positivo. Uns precisam estudar mais, outros ser menos egoístas, mas afinal, se todas tem como base a melhora do ser humano, qual é a dificuldade em aceitar que cada um se sente melhor com determinada religião?
Abraços
- Nossa resposta
Prezado Marcelo Olaia,
Continuaremos respondendo às suas considerações ponto a ponto, já que o seu comentário é grande e contém diversos pontos-chave. Para facilitar a compreensão do texto, replicaremos os seus comentários em partes, em itálico, entre aspas. Deus nos ajude a sermos justos e fiéis à verdade. Segue:
"A razão me diz que não é possível acreditar que apenas uma existência é suficiente para poder evoluir e ter direito a uma vida eterna."
Quanto à crença na "evolução do espírito" através de uma imensa sucessão de "reencarnações", já começamos a responder na segunda parte desta longa resposta a esta longa sucessão de perguntas, mas nesta terceira parte aprofundaremos a questão partir de uma análise ética, lógica, moral e espiritual. Vejamos...
Imagine se num dia você ensinasse ao seu filho sobre o que é certo e o que é errado nesta vida. Além disso, nesse mesmo dia ele aprende, por experiência própria, que colocar a mão sobre a chama acesa do fogão é algo muito perigoso. Ele aprendeu coisas importantes nesse dia. Certo. Poderíamos então dizer que ele evoluiu enquanto pessoa consciente. Certo. Mas agora imagine se, no dia seguinte, ele acordasse sem se lembrar de nada. O que aconteceria? Simples: tal criança não seria capaz de nenhum progresso. Se a cada vez que ela acordasse, não se lembrasse do que aconteceu no dia anterior, viveria até o fim da vida repetindo sempre as mesmas experiências, cometendo os mesmos erros, de novo e de novo, sem nunca aprender nada. Mesmo que ele repetisse essa mesma experiência um milhão de vezes, ainda não seria capaz de aprender, se não houvesse memória. Simples.
Como é que podemos educar uma criança travessa? Pegando-a no ato da travessura e a repreendendo, falando firmemente com ela e explicando porque não deve fazer aquilo e como deve se comportar. Esse método funciona, simplesmente, porque a criança percebe o que está fazendo de errado. Com o tempo e a repetição, sua mente vai fixando o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que não é. Ela evolui moralmente. Mas se você vê a criança fazendo a travessura e espera até o dia seguinte para só então repreendê-la, sem explicar o motivo da repreensão, isso não vai funcionar. Ela não vai aprender, porque não sabe a razão de estar sendo repreendida. Puni-la dessa maneira seria perda de tempo, injustiça e crueldade.
Segundo a teoria da reencarnação, porém, todos nós estaríamos na mesma condição de uma criança repreendida um dia depois da travessura, que não sabe porque está sendo punida. Estaríamos sofrendo hoje por causa de erros que nem sabemos que cometemos, pois aconteceram numa outra vida, da qual não nos lembramos. Estamos pagando, sem saber porquê! Ora, se não nos lembramos de nada, tal situação seria totalmente cruel e injusta! Até mesmo alguém que tenha cometido um crime grave, se por incapacidade mental não é capaz de compreender a gravidade do seu ato, fica livre de responder criminalmente.
A ideia da reencarnação, porém, é exatamente esta: responder hoje por atos cometidos numa outra vida, os quais nem sabemos quais são, porque não nos lembramos deles. Seria possível evoluir dessa maneira? Claro e evidente que não. Seria completamente impossível evoluir "reencarnando", se nos esquecemos do que vivemos e fomos em nossas "vidas anteriores".
Se você tem uma aula sobre determinada matéria, mas depois esquece de tudo o que viu e ouviu, o aprendizado obviamente voltará à estaca zero, simplesmente porque a aprendizagem é um processo cumulativo[1]. Nenhum ser humano nunca poderia evoluir se continuasse perdendo a sua memória de uma existência para a outra.
O aprendizado é como um processo de somar: todo dia você vai acrescentando conhecimento e experiência, até chegar no ponto desejado. O total é o que você aprende, é o seu grau de evolução, seja intelectual, intuitiva ou moral. Sem memória ativa não pode haver aprendizado[2].
Assim, um indivíduo que viveu criminosamente por um tempo, pode, um dia, vivenciar uma retomada de consciência e mudar o seu proceder a partir daquele ponto; e se ele muda de atitude, sua vida tem grandes chances de mudar para melhor. O que possibilitou a mudança? Uma decisão pessoal: ele vinha agindo de uma determinada maneira, mas se arrependeu e reviu as suas atitudes. Mas esse tipo de mudança para melhor também só é possível quando o indivíduo faz uso da memória. Se você não se lembra de algo ruim que fez, como poderia optar pela mudança? Somente se você se lembrar do que fez de ruim e das consequências dos seus atos é que poderá se arrepender. É somente fazendo uso da memória que uma pessoa resolve procurar alguém que prejudicou, para se desculpar ou tentar compensar o mal causado, e se comprometer a não repetir o mesmo erro. Esta é a verdadeira evolução espiritual. Nós somos aquilo que lembramos que somos, e isso não é teoria, é um fato científico. É assim que, inevitavelmente, a teoria da reencarnação cai por terra.
_______________"A razão me diz que não é possível acreditar que apenas uma existência é suficiente para poder evoluir e ter direito a uma vida eterna."
Quanto à crença na "evolução do espírito" através de uma imensa sucessão de "reencarnações", já começamos a responder na segunda parte desta longa resposta a esta longa sucessão de perguntas, mas nesta terceira parte aprofundaremos a questão partir de uma análise ética, lógica, moral e espiritual. Vejamos...
Imagine se num dia você ensinasse ao seu filho sobre o que é certo e o que é errado nesta vida. Além disso, nesse mesmo dia ele aprende, por experiência própria, que colocar a mão sobre a chama acesa do fogão é algo muito perigoso. Ele aprendeu coisas importantes nesse dia. Certo. Poderíamos então dizer que ele evoluiu enquanto pessoa consciente. Certo. Mas agora imagine se, no dia seguinte, ele acordasse sem se lembrar de nada. O que aconteceria? Simples: tal criança não seria capaz de nenhum progresso. Se a cada vez que ela acordasse, não se lembrasse do que aconteceu no dia anterior, viveria até o fim da vida repetindo sempre as mesmas experiências, cometendo os mesmos erros, de novo e de novo, sem nunca aprender nada. Mesmo que ele repetisse essa mesma experiência um milhão de vezes, ainda não seria capaz de aprender, se não houvesse memória. Simples.
Como é que podemos educar uma criança travessa? Pegando-a no ato da travessura e a repreendendo, falando firmemente com ela e explicando porque não deve fazer aquilo e como deve se comportar. Esse método funciona, simplesmente, porque a criança percebe o que está fazendo de errado. Com o tempo e a repetição, sua mente vai fixando o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que não é. Ela evolui moralmente. Mas se você vê a criança fazendo a travessura e espera até o dia seguinte para só então repreendê-la, sem explicar o motivo da repreensão, isso não vai funcionar. Ela não vai aprender, porque não sabe a razão de estar sendo repreendida. Puni-la dessa maneira seria perda de tempo, injustiça e crueldade.
Segundo a teoria da reencarnação, porém, todos nós estaríamos na mesma condição de uma criança repreendida um dia depois da travessura, que não sabe porque está sendo punida. Estaríamos sofrendo hoje por causa de erros que nem sabemos que cometemos, pois aconteceram numa outra vida, da qual não nos lembramos. Estamos pagando, sem saber porquê! Ora, se não nos lembramos de nada, tal situação seria totalmente cruel e injusta! Até mesmo alguém que tenha cometido um crime grave, se por incapacidade mental não é capaz de compreender a gravidade do seu ato, fica livre de responder criminalmente.
A ideia da reencarnação, porém, é exatamente esta: responder hoje por atos cometidos numa outra vida, os quais nem sabemos quais são, porque não nos lembramos deles. Seria possível evoluir dessa maneira? Claro e evidente que não. Seria completamente impossível evoluir "reencarnando", se nos esquecemos do que vivemos e fomos em nossas "vidas anteriores".
Se você tem uma aula sobre determinada matéria, mas depois esquece de tudo o que viu e ouviu, o aprendizado obviamente voltará à estaca zero, simplesmente porque a aprendizagem é um processo cumulativo[1]. Nenhum ser humano nunca poderia evoluir se continuasse perdendo a sua memória de uma existência para a outra.
O aprendizado é como um processo de somar: todo dia você vai acrescentando conhecimento e experiência, até chegar no ponto desejado. O total é o que você aprende, é o seu grau de evolução, seja intelectual, intuitiva ou moral. Sem memória ativa não pode haver aprendizado[2].
Assim, um indivíduo que viveu criminosamente por um tempo, pode, um dia, vivenciar uma retomada de consciência e mudar o seu proceder a partir daquele ponto; e se ele muda de atitude, sua vida tem grandes chances de mudar para melhor. O que possibilitou a mudança? Uma decisão pessoal: ele vinha agindo de uma determinada maneira, mas se arrependeu e reviu as suas atitudes. Mas esse tipo de mudança para melhor também só é possível quando o indivíduo faz uso da memória. Se você não se lembra de algo ruim que fez, como poderia optar pela mudança? Somente se você se lembrar do que fez de ruim e das consequências dos seus atos é que poderá se arrepender. É somente fazendo uso da memória que uma pessoa resolve procurar alguém que prejudicou, para se desculpar ou tentar compensar o mal causado, e se comprometer a não repetir o mesmo erro. Esta é a verdadeira evolução espiritual. Nós somos aquilo que lembramos que somos, e isso não é teoria, é um fato científico. É assim que, inevitavelmente, a teoria da reencarnação cai por terra.
1. Como atestam PIAGET, VYGOTSKY, EMÍLIA FERREIRO e todos os grandes educadores / CARVALHO, Irene Mello. O processo didático. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getulio Vargas, 1976.
2. Divisão de População do Departamento de Assuntos Sociais e Econômicas da ONU (DESA).
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