Espiritismo, busca pela Verdade e catolicismo - parte 3


Recebemos
do leitor Marcelo Olaia uma longa mensagem, que estamos publicando e respondendo em partes. A primeira parte você pode ler aqui. A segunda parte aqui. Abaixo, a terceira parte da pergunta, seguida de nossa resposta:


Olá,
(...) A razão me diz que não é possível acreditar que apenas uma existência é suficiente para poder evoluir e ter direito a uma vida eterna. (...) Por que Deus se daria ao “luxo” de ficar observando tanta barbárie, se na média, em menos de 70 anos estaríamos mortos e seriamos acordados para ter uma vida plena na eternidade? Quantos bilhões de seres estariam esperando para acordar? Adão e Eva ou mesmo Abel, estão dormindo há mais de 6 mil anos? Se alguns forem para o inferno, então Jesus mentiu? Algumas ovelhas se perderam no meio do caminho. Por que não tenho liberdade de acreditar em uma doutrina que tem uma explicação muito mais racional? Que não dogma ou mistérios? Se tudo aquilo que ela me mostra é que preciso estar sempre me melhorando, sempre praticando o bem, ter pensamentos voltados para o bem de todos, jamais julgar alguém, mesmo aqueles que cometem crimes hediondos, pois eles estão doentes e precisam de ajuda, não de quem os condene, qual é o problema que isso pode me causar?
Acredito que ao invés de ficarmos procurando o que há de negativo em cada religião, sugiro que nos concentremos na busca por aquilo que é positivo. Uns precisam estudar mais, outros ser menos egoístas, mas afinal, se todas tem como base a melhora do ser humano, qual é a dificuldade em aceitar que cada um se sente melhor com determinada religião?
Abraços


- Nossa resposta

Prezado Marcelo Olaia,

Continuaremos respondendo às suas considerações ponto a ponto, já que o seu comentário é grande e contém diversos pontos-chave. Para facilitar a compreensão do texto, replicaremos os seus comentários em partes, em itálico, entre aspas. Deus nos ajude a sermos justos e fiéis à verdade. Segue:


"A razão me diz que não é possível acreditar que apenas uma existência é suficiente para poder evoluir e ter direito a uma vida eterna."

Quanto à crença na "evolução do espírito" através de uma imensa sucessão de "reencarnações", já começamos a responder na segunda parte desta longa resposta a esta longa sucessão de perguntas, mas nesta terceira parte aprofundaremos a questão partir de uma análise ética, lógica, moral e espiritual. Vejamos...

Imagine se num dia você ensinasse ao seu filho sobre o que é certo e o que é errado nesta vida. Além disso, nesse mesmo dia ele aprende, por experiência própria, que colocar a mão sobre a chama acesa do fogão é algo muito perigoso. Ele aprendeu coisas importantes nesse dia. Certo. Poderíamos então dizer que ele evoluiu enquanto pessoa consciente. Certo. Mas agora imagine se, no dia seguinte, ele acordasse sem se lembrar de nada. O que aconteceria? Simples: tal criança não seria capaz de nenhum progresso. Se a cada vez que ela acordasse, não se lembrasse do que aconteceu no dia anterior, viveria até o fim da vida repetindo sempre as mesmas experiências, cometendo os mesmos erros, de novo e de novo, sem nunca aprender nada. Mesmo que ele repetisse essa mesma experiência um milhão de vezes, ainda não seria capaz de aprender, se não houvesse memória. Simples.

Como é que podemos educar uma criança travessa? Pegando-a no ato da travessura e a repreendendo, falando firmemente com ela e explicando porque não deve fazer aquilo e como deve se comportar. Esse método funciona, simplesmente, porque a criança percebe o que está fazendo de errado. Com o tempo e a repetição, sua mente vai fixando o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que não é. Ela evolui moralmente. Mas se você vê a criança fazendo a travessura e espera até o dia seguinte para só então repreendê-la, sem explicar o motivo da repreensão, isso não vai funcionar. Ela não vai aprender, porque não sabe a razão de estar sendo repreendida. Puni-la dessa maneira seria perda de tempo, injustiça e crueldade.

Segundo a teoria da reencarnação, porém, todos nós estaríamos na mesma condição de uma criança repreendida um dia depois da travessura, que não sabe porque está sendo punida. Estaríamos sofrendo hoje por causa de erros que nem sabemos que cometemos, pois aconteceram numa outra vida, da qual não nos lembramos. Estamos pagando, sem saber porquê! Ora, se não nos lembramos de nada, tal situação seria totalmente cruel e injusta! Até mesmo alguém que tenha cometido um crime grave, se por incapacidade mental não é capaz de compreender a gravidade do seu ato, fica livre de responder criminalmente.

A ideia da reencarnação, porém, é exatamente esta: responder hoje por atos cometidos numa outra vida, os quais nem sabemos quais são, porque não nos lembramos deles. Seria possível evoluir dessa maneira? Claro e evidente que não. Seria completamente impossível evoluir "reencarnando", se nos esquecemos do que vivemos e fomos em nossas "vidas anteriores".



Se você tem uma aula sobre determinada matéria, mas depois esquece de tudo o que viu e ouviu, o aprendizado obviamente voltará à estaca zero, simplesmente porque a aprendizagem é um processo cumulativo[1]. Nenhum ser humano nunca poderia evoluir se continuasse perdendo a sua memória de uma existência para a outra.

O aprendizado é como um processo de somar: todo dia você vai acrescentando conhecimento e experiência, até chegar no ponto desejado. O total é o que você aprende, é o seu grau de evolução, seja intelectual, intuitiva ou moral. Sem memória ativa não pode haver aprendizado[2].

Assim, um indivíduo que viveu criminosamente por um tempo, pode, um dia, vivenciar uma retomada de consciência e mudar o seu proceder a partir daquele ponto; e se ele muda de atitude, sua vida tem grandes chances de mudar para melhor. O que possibilitou a mudança? Uma decisão pessoal: ele vinha agindo de uma determinada maneira, mas se arrependeu e reviu as suas atitudes. Mas esse tipo de mudança para melhor também só é possível quando o indivíduo faz uso da memória. Se você não se lembra de algo ruim que fez, como poderia optar pela mudança? Somente se você se lembrar do que fez de ruim e das consequências dos seus atos é que poderá se arrepender. É somente fazendo uso da memória que uma pessoa resolve procurar alguém que prejudicou, para se desculpar ou tentar compensar o mal causado, e se comprometer a não repetir o mesmo erro. Esta é a verdadeira evolução espiritual. Nós somos aquilo que lembramos que somos, e isso não é teoria, é um fato científico. É assim que, inevitavelmente, a teoria da reencarnação cai por terra.

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1. Como atestam PIAGET, VYGOTSKY, EMÍLIA FERREIRO e todos os grandes educadores / CARVALHO, Irene Mello. O processo didático. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getulio Vargas, 1976.
2. Divisão de População do Departamento de Assuntos Sociais e Econômicas da ONU (DESA).
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Dois mil anos de Igreja


Não
existe, em toda a história da humanidade, instituição que tivesse duração tão longa quanto a Igreja Católica. Estudando a História, vemos que todos os grandes impérios surgiram, cresceram e depois de algum tempo desapareceram: assim foi a era dos grandes faraós do Egito, o poderoso império romano, o império mongol, o assírio, o persa... Todas essas grandes instituições humanas surgiram com muita força, prosperaram... e desapareceram. Mas a Igreja, desde que nasceu, há dois mil anos, instituída por Jesus Cristo, continua crescendo e se fortalece cada vez mais.

O Anuário Pontifício de 2013, apresentado ao Papa Francisco em maio deste ano, mostra que a Igreja Católica cresce em todo o mundo, agora sobretudo na África e na Ásia, continentes em que o Evangelho de Jesus, até há poucas décadas, ainda era pouco conhecido e proclamado. Em 2010, eram 1 bilhão e 196 milhões de católicos no mundo; em 2011, 1 bilhão e 214 milhões: isso representa um aumento de 1,51%, crescimento superior ao da população mundial (1,23%), o que prova que a presença de católicos no mundo continua aumentando. Esse crescimento constante, em dois mil anos de história, é algo que nunca aconteceu, em nenhuma outra época, em toda a História!

Pela fé que professamos, cremos que isso acontece porque a Igreja não é apenas uma instituição humana, como algum grande império ou sociedade do passado: a Igreja é o Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo (CIC §771), e este é um grande mistério. Mistério porque a Igreja é ao mesmo tempo humana e divina. Da parte humana podem surgir falhas, porque os filhos da Igreja também estão sujeitos ao erro. Mas há um Fundamento divino que não deixa que a Igreja se perca, que ensine errado, que se desvie da fé autêntica. Os modos de interpretar a fé podem ter mudado com o passar dos séculos, mas a essência dessa fé não muda jamais, pois está fundamentada sobre a rocha firme que é o Evangelho.

A Igreja é a reunião de todos os batizados em Cristo. Cada pessoa, ao ser batizada, é como se fosse enxertada num mesmo Tronco, e esse Tronco é o Corpo do Senhor. Em jardinagem, quando se enxerta uma muda num tronco, a seiva daquela árvore, isto é, a vida da árvore maior, passa a alimentar aquela pequena muda, que ganha força e cresce, até frutificar. Da mesma maneira são os cristãos na Igreja de Cristo. Jesus instituiu sua Igreja para continuar a sua obra na face da Terra. Podemos dizer que a Igreja é, de alguma forma, o braço estendido e prolongado do Cristo no mundo e na história: onde a Igreja chega, com a sua fé, suas obras, sua história, chega Cristo.



Os grandes Padres da Igreja, como São Basílio, São Gregório de Nissa, que foram gigantes dos primeiros séculos, diziam que “onde está Pedro (o Papa) está a Igreja, e onde está a Igreja está Jesus Cristo”. A Igreja, assim, cumpre a missão que o Senhor lhe deu, de levar o Evangelho a todos os lugares, em todos os tempos, até que Ele volte.

A história da Igreja não é uma história só de coisas bonitas, porque ela não é formada somente por santos, mas também por pecadores. Mesmo assim, a história da humanidade mostra que a Igreja, onde chegou, soube construir uma civilização mais justa do que aquela que existia antes dela: levou o progresso às nações; instituiu a caridade; evangelizou ao povos bárbaros, extinguiu seitas que praticavam o sacrifício humano... Houve também um lado negativo, de filhos da Igreja que não souberam viver o Mandamento do Senhor na prática. Existiram, sim, sombras, mas é fácil notar que as luzes superam essas sombras, e as superam de longe. E até mesmo essas sombras nos levam a fortalecer a nossa fé, pois cremos que foi da Vontade do Senhor que a história da Igreja se desse por meio de dificuldades e lutas.

Mas é interessante notar que toda vez que tudo indicava que a Igreja iria perecer em meio às dificuldades, perseguições, heresias de clérigos infiéis... Todas as vezes em que a situação ficou difícil, a Igreja novamente renasceu, e nunca deixaram de surgir santos e heróis, grandes homens e mulheres que não deixaram a fé morrer. Depois de cada inverno, houve sempre uma primavera de luz e cores; depois de cada noite escura, nasceu um novo dia ensolarado na rota da Barca de Pedro, que é a Casa de Deus, a Igreja Santa, como diz um antigo hino da Igreja:

“Reunidos em torno dos nossos pastores... Professando todos uma só fé... Armados com a força que vem do Senhor... Sob o impulso do Espírito Santo... Com nossas irmãs e irmãos nos claustros... Com os nossos irmãos sofredores... Com os padres que sobem ao Altar... Com os padres que partem em missão... Nós iremos a Ti! Igreja Santa, Templo do Senhor ! Glória a Ti, Igreja Santa, ó cidade dos cristãos! Que Teus filhos hoje e sempre vivam todos como irmãos!” (Hino da Igreja - Canto de entrada para ocasiões especiais, como visita do Bispo diocesano, Crisma, ordenações, dedicação de uma igreja, beatificação e outros)

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1. Conf. Anuário Pontifício 2013, disponível em:
http://www.news.va/pt/news/santa-se-apresentou-o-anuario-pontificio-2013
Acesso14/6/013.
vozdaigreja.blogspot.com

Sagrado Coração de Jesus, símbolo do Amor infinito


Assim como o mês de maio é consagrado a Nossa Senhora, junho o é ao Sagrado Coração de Jesus.

O dicionário Aurélio, no verbete “coração”, define: “Órgão muscular situado na cavidade torácica que, nos vertebrados superiores, é constituído de duas aurículas e dois ventrículos, e que recebe o sangue e o bombeia por meio dos movimentos ritmados de diástole e de sístole”.

Mas, além de designar um órgão vital do corpo humano, “coração” também significa, num sentido analógico, valores de ordem moral. Assim, metaforicamente se diz: fulano tem um “coração de ouro”; sicrano tem um “coração de pedra”. No primeiro caso, significando que fulano é bondoso, generoso, etc.; no segundo, que sicrano é insensível, mesquinho, etc. Pode-se dizer também que sicrano tem o “coração aberto”, e beltrano, “coração fechado”. E assim por diante, poder-se-iam fazer inúmeras correlações simbólicas a propósito de “coração”.

Na Sagrada Escritura, encontramos quase mil vezes a palavra “coração”. Vejamos um só exemplo extraído do Antigo Testamento: “Eu lhes darei um só coração e os animarei com um espírito novo: extrairei do seu corpo o coração de pedra, para substituí-lo por um coração de carne” (Ez 11, 19); e um exemplo do Novo Testamento: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão verão Deus!”.(Mt 5, 8)


Sacratíssimo Coração de Jesus: símbolo do infinito Amor de Deus

Nosso Senhor pediu a Santa Margarida Maria Alacoque que fosse instituído o excelente costume da Comunhão reparadora das primeiras sextas-feiras de cada mês.

Sumamente vinculada ao símbolo que o coração representa, está a devoção ao Sagrado Coração de Jesus (Vide Catolicismo, junho/2003). Em primeiro lugar, simbolizando o infinito Amor de Deus pelo gênero humano: “O Sagrado Coração de Jesus faz parte de sua adorável pessoa. Entre os elementos integrantes da pessoa de Cristo, nenhum há tão apropriado como o coração para ser objeto de um culto especial. Porque simboliza a obra do Amor infinito levada ao extremo, em nosso obséquio, pelo Verbo feito homem, no mistério da Encarnação e Redenção. Portanto, o culto tributado ao Sagrado Coração de Jesus é culto tributado a Jesus Cristo na qualidade de amante do homem”.(1)

A encíclica de Pio XII, Haurietis Aquas (1956) — considerada por excelência o documento sobre o culto ao Sagrado Coração de Jesus, e leitura indispensável a respeito — foi escrita com a finalidade de expor os fundamentos teológicos desse culto, e publicada no centenário da extensão para toda a Igreja da festa litúrgica do Coração de Jesus. Esse memorável documento pontifício ensina:

“O Coração do nosso Salvador reflete de certo modo a imagem da Divina Pessoa do Verbo, e, igualmente, das suas duas naturezas: humana e divina; e n´Ele podemos considerar não só um símbolo, mas também como que um compêndio de todo o mistério da nossa Redenção. Quando adoramos o Coração de Jesus Cristo, nele e por ele adoramos tanto o Amor incriado do Verbo divino como o seu amor humano e os seus demais afetos e virtudes, já que um e outro moveram o nosso Redentor a imolar-se por nós e por toda a Igreja, sua Esposa”.(2)


O primeiro e maior de todos os mandamentos

A Santa Margarida se deve — com o apoio de seu diretor espiritual, São Cláudio la Colombière — a grande expansão da devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Um escriba de Jerusalém, doutor da lei, perguntou a Jesus qual era o primeiro de todos os mandamentos. Eis a resposta de Nosso Senhor: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente, e com todas as tuas forças” (Mc 12, 30).

Se de todo coração uma pessoa ama a Deus, estará disposta a sacrificar-se por Ele; estará pronta a combater aqueles que atacam e desprezam seus divinos ensinamentos, e tudo fará para reparar as ofensas que se fazem contra Deus. Qualquer ofensa a Ele, tomará como se fosse mais grave que uma ofensa pessoal, e desejará ardentemente consolá-lo pelo ultraje recebido.

Exemplo admirável desta disposição foi a vida de Santa Margarida Maria Alacoque (1647 - 1690), enaltecida por Nosso Senhor como “discípula dileta de meu Coração”. A ela se deve — com o apoio de seu diretor espiritual, São Cláudio la Colombière — a grande expansão no século XVII, e nos seguintes, da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, principalmente sob dois aspectos: o amor e a reparação àquele Coração, ofendido pelos pecados dos homens de “coração duro”, “fechado” para a graça divina. A ela Nosso Senhor pediu (em Paray-le-Monial – França) que fosse instituído o excelente costume da comunhão reparadora das primeiras sextas-feiras de cada mês.

Sobre esta grande santa mística, Catolicismo tem publicado diversas matérias (vide, por exemplo, a edição de julho/2004), e poder-se-ia aludir a muitas outras almas santas que difundiram atos de piedade para desagravar o Divino Coração. Um exemplo é o de uma simples menina, Jacinta, a quem Nossa Senhora, no ano de 1917, apareceu em Fátima. Com apenas 10 anos, ela já tinha uma clara noção disso. Pouco antes de seu falecimento, disse à sua prima Lúcia: “Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito, a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!”. Palavras singelas, mas que revelam o quanto uma menina inocente se abrasava de Amor de Deus e se compadecia daqueles Corações ofendidos.


Muitos católicos vivem como se Deus não existisse

O mundo atual sofre os abalos de um terrível terremoto moral. Todas as instituições da sociedade e do Estado encontram-se flageladas por profundas crises. Certamente porque o Criador e Redentor do gênero humano deixou de estar no centro das cogitações, até mesmo no centro dos corações daqueles que se dizem católicos. Ele é ultrajado de todos os modos, tendo sido destronado na sociedade neopagã de nossos dias.

Como remediar essa catastrófica situação? O Papa São Pio X indicou-nos uma solução: “Se alguém pedir uma palavra de ordem, sempre daremos esta e não outra: Restaurar todas as coisas em Cristo”. Para isso, há necessidade de reentronizar o Sagrado Coração de Jesus nas almas, nas famílias, nas instituições, em todas as nações. Numa palavra: restaurar a realeza social e divina d’Aquele que é “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap 19, 16). Para isso, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus é o remédio por excelência.


“Fazei meu coração semelhante ao vosso”

Não sejamos surdos e ingratos a essa sublime devoção, correspondendo ao Divino Amor de Deus por nós. Como corresponder? Procurando, por exemplo, fazer tudo conforme seus divinos preceitos, e evitar tudo o que os contraria. Assim, estaremos purificando nossos corações e assemelhando-os ao Sacratíssimo Coração.

Uma breve aplicação: por obra da funesta Revolução Francesa, o Rei Luís XVI foi condenado à guilhotina. Subiu ao patíbulo com toda paciência, mas quando o carrasco quis atar-lhe as mãos, num gesto enérgico ele não permitiu, dizendo que não aceitaria tal humilhação. Seu último confessor, o Pe. Edgeworth de Firmont, então disse-lhe: “Senhor, esta humilhação será ainda mais um traço de semelhança entre Vossa Majestade e Nosso Senhor Jesus Cristo”. Ao que Luís XVI respondeu: “Se isso agrada a Jesus, estou pronto para ser amarrado”.

Tal resposta do soberano francês poderia ser aplicada em todas as circunstâncias de nossa vida: estarmos prontos para fazer tudo o que agrada a Jesus; e nada, absolutamente nada que O desagrade. Para chegar a essa prática habitual, é muito aconselhável uma jaculatória que se encontra no final da Ladainha do Sagrado Coração: “Jesus, manso e humilde de coração. Fazei nosso coração semelhante ao vosso”.

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Fonte:
Revista Catolicismo, em http://www.catolicismo.com.br/index.cfm - acesso 5,6/013

vozdaigreja.blogspot.com

Espiritismo, busca pela Verdade e catolicismo - parte 2


Recebemos do leitor Marcelo Olaia uma longa mensagem, que estamos publicando e respondendo em partes. A primeira parte você pode ler aqui. Abaixo, a segunda parte da pergunta e nossa resposta:

Olá,
(...) A razão me diz que não é possível acreditar que apenas uma existência é suficiente para poder evoluir e ter direito a uma vida eterna. Se isso fosse verdade qual o sentido em nascerem crianças deficientes? De algumas crianças serem estupradas? De tanta gente viver na miséria enquanto tão poucos têm tudo o que quiser? Por que Deus se daria ao “luxo” de ficar observando tanta barbárie, se na média, em menos de 70 anos estaríamos mortos e seriamos acordados para ter uma vida plena na eternidade? Quantos bilhões de seres estariam esperando para acordar? Adão e Eva ou mesmo Abel, estão dormindo há mais de 6 mil anos? Se alguns forem para o inferno, então Jesus mentiu? Algumas ovelhas se perderam no meio do caminho. Por que não tenho liberdade de acreditar em uma doutrina que tem uma explicação muito mais racional? Que não dogma ou mistérios? Se tudo aquilo que ela me mostra é que preciso estar sempre me melhorando, sempre praticando o bem, ter pensamentos voltados para o bem de todos, jamais julgar alguém, mesmo aqueles que cometem crimes hediondos, pois eles estão doentes e precisam de ajuda, não de quem os condene, qual é o problema que isso pode me causar?
Acredito que ao invés de ficarmos procurando o que há de negativo em cada religião, sugiro que nos concentremos na busca por aquilo que é positivo. Uns precisam estudar mais, outros ser menos egoístas, mas afinal, se todas tem como base a melhora do ser humano, qual é a dificuldade em aceitar que cada um se sente melhor com determinada religião?
Abraços


- Nossa resposta

Prezado Marcelo Olaia,

Continuaremos respondendo às suas considerações ponto a ponto, já que o seu comentário é grande e contém diversos pontos-chave. Para facilitar a compreensão do texto, replicaremos os seus comentários em partes, em itálico, entre aspas. Deus nos ajude a sermos justos e fiéis à verdade. Segue:


"A razão me diz que não é possível acreditar que apenas uma existência é suficiente para poder evoluir e ter direito a uma vida eterna."

A Fé genuína, meu prezado Marcelo, transcende a razão, embora não a contrarie, nem seja com ela incompatível. Por isso São Paulo Apóstolo diz: "O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, pois para ele são loucuras. Nem as pode compreender, porque é pelo Espírito que se devem ponderar" (1Cor 2, 14). Além disso, Deus não nos dá a vida eterna porque "temos direito" a ela, isto é, não por nossos méritos, mas por Amor e por Graça. Ganhamos a vida eterna por Graça Divina, pelo Amor Divino, e não porque merecemos, porque nos depuramos numa gigantesca sucessão de mortes e renascimentos. O perdão e a salvação nos são dados de Graça, por Amor, mediante o Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, e não porque nós fizemos por merecer. Nascemos já com o Pecado Original, por isso, um milhão de vidas não seriam suficientes para que "evoluíssemos" e nos tornássemos perfeitos, merecedores do Céu. Mais adiante, desenvolveremos essa verdade.


"Qual o sentido em nascerem crianças deficientes? De algumas crianças serem estupradas? De tanta gente viver na miséria enquanto tão poucos têm tudo o que quiser? De tanta gente viver na miséria enquanto tão poucos têm tudo o que quiser? "

Aqui você lança mão do argumento mais comum dos espíritas: dizer que a reencarnação "explica" todas as diferenças, todo o sofrimento, toda a dor do mundo. Este é considerado pelos reencarnacionistas como o mais forte argumento da sua doutrina. E explicações são tudo que uma mente questionadora procura. Mas responda-me: qual deve ser o objetivo de um autêntico buscador espiritual? Explicações reconfortantes ou a Verdade, mesmo que num primeiro momento ela não pareça confortável? Vejamos essa questão mais a fundo...

Para alcançar uma compreensão melhor, precisamos recorrer às origens da civilização humana: ocorre que o ser humano primitivo, quando queria algo, simplesmente tomava, e foi assim até que ele passou a viver em sociedade. As sociedades humanas, por sua vez, foram sofrendo mutações e experimentações, até surgir um sistema que funcionasse, e este permaneceu. Trata-se do chamado modelo ou sistema hierárquico, isto é, o grupo com um chefe. Isso funciona, porque sem um chefe (o mais forte, mais capaz ou mais persuasivo do grupo), os indivíduos lutam o tempo todo entre si. O chefe apareceu para manter a paz e garantir a partilha dos recursos. Arqueólogos encontraram sepulturas de deficientes físicos, do período da pré-história humana, que foram enterrados com cuidados cerimoniais, evidência de que os seres humanos já ajudavam aqueles que eram incapazes de caçar e/ou executar as tarefas essenciais do dia-a-dia. Antes da existência das estruturas sociais e do líder, porém, esses desafortunados não tinham chance de sobreviver, pois a vida humana era disputa e lutas constantes.1

O que isso tem a ver com a teoria da reencarnação? Tudo, porque o próprio modelo social levou ao seu surgimento. O tempo passou, eras se sucederam e o intelecto humano foi se aprimorando. E então, um dia, o inevitável aconteceu: algum filósofo primordial, há muito tempo, perguntou: "porque uns são mais felizes do que outros? Por que uns nascem dotados e outros embotados? Porque um nasce belo, saudável e rico, enquanto outro nasce feio, doente e pobre? Isso é injusto!"... Aí, motivado unicamente pela sua incapacidade de compreender os mistérios da natureza, começou a desenvolver uma teoria baseada na mais elementar lógica humana para explicar todas as aparentes injustiças do mundo. Ora, se a vida atual parece injusta, nada mais reconfortante do que acreditar que haverá uma nova vida, aqui mesmo nesta Terra, onde tudo será diferente: nessa nova oportunidade, os fracos serão fortes, os pobres serão ricos, os pequenos serão grandes. Aquele que nasceu doente ou  deficiente, sem esperança de cura, pode sonhar com o dia em que renascerá saudável e gozará de pleno vigor... Numa outra vida.

A teoria da reencarnação surge exatamente assim, para "explicar a (suposta) injustiça" das diferenças de nascimento.

Observe que o modelo hierárquico, explicado mais acima, sempre funcionou perfeitamente entre todos os grupos humanos, e também entre os grupos dos animais sociais, como mostram a História e a Biologia. Os mais aptos se destacam no grupo, assumindo a liderança e tomando decisões para o bem comum. Se examinarmos o modelo hierárquico, comparando vários grupos humanos, - e até animais, - veremos que é um fator positivo, que resolve muitos problemas. Mas, para os seres humanos, especificamente (e apenas para eles), a realidade biológica parece injusta, porque, além de seres sociais, somos racionais e espirituais, logo, questionadores. Entretanto, a realidade observável da natureza é que, mesmo sendo inegavelmente especial em muitos aspectos, num particular o ser humano é semelhante às espécies animais: alguns nascem mais espertos, mais fortes, aptos e/ou belos, enquanto outros nascem intelectualmente embotados, fracos, ineptos e/ou carentes de beleza estética.

As disparidades sempre ocorreram e ocorrem em todo o universo dos seres vivos, seja vegetal ou animal, incluindo os seres humanos. A racionalidade e a sensibilidade humanas, no entanto, relutam em aceitar esse fato inexorável. Todos nascemos com determinadas qualidades e desprovidos de outras, e nesse sistema existem superdotados e embotados em todos os níveis. Por que uma roseira produz flores maravilhosas, enquanto outra, da mesma espécie e criada no mesmo tipo de solo, submetida às mesmas condições e cultivada igualmente, não floresce com a mesma exuberância? O mesmo se dá com as árvores frutíferas: dentro do mesmo pomar, alguns espécimes produzem mais frutos do que outros, e alguns simplesmente não se desenvolvem, não "vingam", no linguajar do lavrador. No caso das plantas ornamentais, algumas crescem belas e exuberantes, enquanto outras não se desenvolvem ou se tornam retorcidas e feias. Será que isso acontece porque essas plantas, na sua "encarnação anterior" foram más? Uma flor nasceu defeituosa porque na outra vida foi perversa e agora está "evoluindo", para que numa próxima "encarnação" possa vir bonita e viçosa?

E quanto aos animais? Na criação de carpas de um conhecido meu, uma nasceu com nadadeiras defeituosas, algo relativamente comum. Ela tem dificuldades para subir à superfície e buscar alimento. As outras comem toda a ração rapidamente, e ela não consegue acompanhar o mesmo ritmo; assim, espera as migalhas que descem ao fundo do tanque para comer. Por conta disso, o seu desenvolvimento foi comprometido e ela cresceu menos que suas irmãs. Por que isso aconteceu? Na outra vida ela foi uma carpa ruim? Ou será que na próxima vida ela vai nascer uma carpa mais bonita e saudável do que as outras, para compensar o sofrimento desta vida?

Claro e evidente que não há sentido nessa linha de pensamento! A genética explica todos essas questões, e no caso dos seres humanos não é diferente. O fato é que sempre existiram e tudo indica que sempre existirão pessoas diferentes neste mundo, sendo que umas superam outras, num ou noutro aspecto. Este, que aqui vos escreve, não seria um grande jogador de futebol. Não tenho talento algum para esse esporte. Mas sempre tive jeito para as letras e para as artes. Na escola, a maioria dos meninos me superava de longe na arte de tratar uma bola com os pés; mas eu sempre escrevi e li mais e melhor do que a maioria deles. Essa superioridade de uns sobre outros, neste mundo, é individual, não racial, ainda que cada classe biológica possua características distintas. Os africanos possuem talento natural para a dança, os asiáticos para as artes marciais. Mesmo assim, existem pessoas intelectualmente deficientes e geniais em todas as raças, assim como existem "feios" e "bonitos" em todas, e assim por diante.

Você, que lê esse texto agora, fisicamente é o resultado de muitos fatores genéticos combinados. Quais seriam as chances de a Gisele Bündchen alcançar tanto sucesso nas passarelas e na publicidade se ela tivesse nascido com uma forte tendência genética para a obesidade? E se ela tivesse nascido no Zimbabue? Bem, é quase certo que num desses casos ela nunca seria famosa, porque o padrão de beleza que impera no mundo, hoje, é “branco e magro”. Mas isso já foi diferente no passado. Hoje sabemos que Cleópatra, considerada a mulher mais bela do mundo na Antiguidade, era uma mulher de pele escura, nariz avantajado e nada magra. No período renascentista, as mulheres que sucesso eram as mais “rechonchudas”. O padrão atual é Gisele Bündchen, mas isso pode mudar no futuro. Sorte dela ter nascido nesta época, porque, simplesmente, sua condição física natural lhe valeu fama e fortuna.

Agora, dizer que Gisele Bündchen nasceu assim porque foi melhor numa outra encarnação do que alguém que nasceu no Zimbabue e/ou com tendência genética à obesidade, isso é puro preconceito e elitismo. Dizer isso é afirmar, ainda que indiretamente, que a Gisele é melhor do que uma criança do Zimbabue ou do que uma pessoa obesa, e não só por causa de circunstâncias, mas também moralmente! Você está dizendo que ela é rica, bonita e famosa porque é moralmente superior as pessoas que nascem no Zimbabue. Ora, quem nasce no país mais miserável do mundo, para viver sujeito às piores injustiças sociais possíveis, segundo a teoria da reencarnação, é porque mereceu; está sofrendo hoje por algo que fez numa vida passada, e o pior: sem se lembrar de nada! Você pode tentar negar, dar voltas, mudar o foco do assunto (especialidade dos reencarnacionistas quando se toca nesses pontos-chave), mas é exatamente isso que a doutrina da reencarnação ensina. Que uma pessoa saudável, rica e bela, é moralmente superior a uma pessoa deficiente, feia e pobre.

É por isso que "a ideia da reencarnação é o pensamento mais preconceituoso, excludente, elitista e arrogante que eu conheço para explicar fatos naturais" (Profº José Moreira da Silva).

Mas há um exemplo ainda mais claro para abordarmos a mesma questão: por que um ser humano sente compaixão por outro? Por causa de um fator chamado empatia ou compaixão. Porque se põe no lugar do próximo, e assim pode sentir o que ele sente, num certo nível. Mas a empatia depende muito da sensibilidade de cada um. Tem gente que tem dificuldade em se ver no lugar do próximo. Estes se mostram bastante insensíveis, na maior parte do tempo. A teoria da reencarnação, então, procura mostrar que os insensíveis ainda terão que nascer e renascer muito para desenvolver a sensibilidade para com o sofrimento alheio.

Mas a verdade é que as diferentes sociedades também influenciam nesse grau de sensibilidade. Quanto mais avançada uma civilização, maior à capacidade de seus indivíduos se colocarem no lugar do outro. Quanto mais avançada é a cultura de um indivíduo, mais sensível ele é. Os europeus estão entre os que mais se preocupam com os direitos dos animais, por exemplo. Naqueles países acontecem até protestos públicos e grandes passeatas nas ruas em defesa dos direitos dos ratos de laboratório. Isso acontece, entre outras razões, porque as suas necessidades básicas já foram supridas. Eles não precisam se preocupar com o que vão comer hoje à noite e nem com o que vestir ou onde morar. O sistema de saúde pública funciona bem, o sistema educacional é muito bom e o transporte público eficiente. Fica mais fácil praticar a compaixão.

Mas as crianças dos países miseráveis sofrem tanto com a carência dessas necessidades essenciais, que não conseguem pensar em ninguém, a não ser nelas mesmas. A capacidade de se importar com a dor do outro fica naturalmente reduzida. Se eu não tenho o que comer ou onde morar, fica difícil me indignar com os maus tratos que os ratinhos brancos sofrem nos laboratórios. Agora, se a reencarnação fosse real, e tivesse por finalidade a evolução moral da alma, ninguém nasceria em condições que promovessem a insensibilidade e a violência, em sociedades menos evoluídas.

Evidentemente, alguém que nasceu miserável, com uma aparência fora dos padrões estéticos, numa família desajustada, tem mais motivos para se tornar um ser humano pior. Não afirmamos que isto seja uma regra, porque não é. Mas estamos aqui falando de estatística. É facilmente demonstrável estatisticamente que nos países onde a desigualdade social é maior, os índices de criminalidade são maiores. Nos países onde a justiça social é satisfatória, os índices de violência são muito menores.

Só que aí, - segundo a teoria da reencarnação, - alguém que cometeu crimes, por ter nascido num meio propício para tanto, sujeito a condições genéticas e psicológicas que o favoreceram a isso, na próxima encarnação vai ter que enfrentar dificuldades ainda maiores, por causa dos erros cometidos nesta vida. Ou seja, mais uma vez, as chances dele piorar mais ainda vão se tornando cada vez maiores, e assim num crescente infinito! É um círculo vicioso sem fim, e o contrário também vale: alguém que nasceu no seio de uma família rica e compreensiva, num país onde há justiça social e os direitos do cidadão são respeitados, tem muito mais chances de se tornar uma pessoa boa (às vezes uma pessoa dessas se torna um criminoso também, indo contra todas as probabilidades, mas esses casos representam minoria no quadro geral). Com isso ela ganharia oportunidades cada vez maiores para "reencarnar" cada vez melhor, até finalmente alcançar os planos mais elevados. Onde está a justiça da reencarnação?

Um sistema como esse simplesmente não funcionaria. A única maneira dele funcionar seria se a memória fosse preservada. Se eu me lembrasse porque estou sofrendo agora, se soubesse que é tudo por causa das minhas ações em outras vidas, aí sim me esforçaria para melhorar. A esse respeito, dizem alguns que "Deus nos tira a memória por misericórdia, pois seria insuportável lembrar o que fomos e do mal que fizemos"... Mas, ora, permitir que sofrêssemos, fazendo-nos esquecer de quem somos e do porquê do sofrimento? Que tipo de misericórdia seria essa?

Novamente, a reencarnação mostra-se elitista. Ela está dizendo, de fato, que quem é mais sensível é mais evoluído moralmente do que quem não é. Ignora todos os fatores sociais, naturais, genéticos e biológicos que levam uma pessoa a ser como é. Porque o que você é, em boa parte, é determinado pelo seu corpo físico, sua família, sua sociedade e sua história pregressa. Não por alguma coisa ocorrida em outra vida que foi apagada da sua memória.

Continua...

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1. DIOP, Cheikh Anta. Civilization Or Barbarism: An Authentic Anthropology, New York: Lawrence Hill Books, 1991 (o mesmo para todo o parágrafo).
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