Testemunho de conversão do ex-protestante Marcos J. Siqueira

Segue abaixo mais um depoimento de ex-protestante que chega ao nosso conhecimento, que divulgamos com grande alegria.



Eu era presbiteriano... Esta é uma longa história… Não sei se conseguiria contar tudo aqui. Na verdade meu interesse pelo catolicismo começou quase na mesma época em que comecei a considerar a hipótese de entrar para o seminário presbiteriano.

Sempre gostei muito de teologia, de estudar as Sagradas Escrituras, a História da Igreja, e via nisso um sinal, uma espécie de chamado/vocação. Amava com sinceridade minha denominação e lá eu tive contato com muita literatura teológica. A cada dia eu tomava mais gosto pelo estudo, pelo conhecimento e é claro, pela oração.

O presbiterianismo (fundamenta-se) basicamente nas doutrinas formuladas por João Calvino, que junto com Martinho Lutero é um dos maiores expoentes da chamada Reforma Protestante. Calvino era virulentamente anti-católico e seus escritos são quase todos voltados ao ataque à Igreja Católica. Eu gostava muito desses escritos, principalmente pelo fato de que, em princípio, eram todos fielmente baseados na Bíblia, o que mais tarde descobri não ser verdade.

Apesar de gostar muito dessas leituras, o ataque quase obsessivo ao Catolicismo me incomodava, embora nesta época eu ainda nem sonhasse em um dia me tornar católico. Incomodava-me mais pela obsessão, pela tentativa contumaz de (tentar) destruir as bases sobre as quais se assenta a Igreja Católica.

Lembro que mais ou menos nessa época (2002/2003) recebi, vindos da Espanha, dezenas de livros para a formação de pastores, todos obviamente escritos em espanhol, o que de certa forma foi ótimo, pois neste período pude aperfeiçoar meus estudos desta língua, o que me é extremamente útil hoje em dia. Fiquei encantado, comecei a ler muito e a cada dia crescia em mim a vontade de servir mais e melhor a Deus.

Sempre que podia eu dirigia os cultos, pregava, ensinava... e tudo isso convencido de que fazia a vontade de Deus. Confesso que eu diferia um pouco dos demais membros do chamado “conselho de presbíteros”, primeiro porque eu era um simples leigo, nem diácono, nem “presbítero’, era apenas um aspirante ao seminário que estudava muito e que na verdade, modéstia a parte, se interessava mais do que o próprio pastor pelo bem-estar da igreja.

Nem preciso dizer que isso começou a gerar um certo desconforto, ciúmes talvez ou talvez inveja, na verdade não sei, nem posso afirmar, já que intenção só quem pode julgar é Deus Nosso Senhor. De qualquer forma, dei uma recuada e tentei passar mais desapercebido, mas não conseguia.

Fomos convidados (eu e minha família) a ocuparmos o apartamento pertencente à igreja, e como na época eu tinha que arcar com as despesas de um aluguel nada barato, acabei concordando e nos mudamos em seguida. Creio que esse episódio foi o começo da grande reviravolta que minha vida sofreria, em todos os aspectos.

No começo tudo correu bem, e eu tinha pedido muito a Deus que isso acontecesse, era um novo começo e uma ótima oportunidade de conseguir o que eu mais queria: ingressar no seminário. Mas as coisas não correram bem como eu esperava; eu faço os planos, mas a palavra final pertence à Deus, certo? Posso afirmar que meus primeiros contatos, ainda muito tímidos, com o catolicismo, começaram depois da Semana Santa de 2003. Aliás, o ano de 2003 foi um tanto conturbado para mim, em todos os sentidos.

Aos poucos, fui percebendo o que não posso deixar de qualificar como certa “má-vontade” por parte do Conselho em relação à minha entrada para o seminário; a alegação era que a igreja não podia arcar com as despesas (de fato muito altas), mas a verdade era outra e eu a descobriria posteriormente.

Provavelmente não deve haver alguém mais aficcionado em livros e em feiras de livros e “sebos’ do que eu. Na verdade, uma das minhas diversões prediletas é fazer aquilo que eu apelidei de “garimpo literário”, ou seja, procurar exaustivamente, em meio a dezenas, centenas de livros, algo que me interesse. No ano de 2003 minha ‘garimpagem” foi particularmente imensa, já que eu estava de certa forma “de pés e mãos amarrados” aguardando a resposta do conselho quanto à minha ida ou não ao seminário.

Aos poucos, fui perdendo a paciência e comecei a ponderar sobre a possibilidade de estudar em outro seminário, não necessariamente ligado à igreja presbiteriana, embora eu soubesse que não conseguiria ir muito longe, já que a mesma só aceita (ou pelo menos só aceitava) pastores formados em seu seminário. De qualquer forma, minhas leituras estavam me dando uma visão mais aberta, mais livre do pensamento fechado de Calvino e isso se revelou à mim como uma verdadeira primavera!


UM CALVINISTA ECUMÊNICO?

Posso dizer, sem medo de errar, que eu era um verdadeiro presbiteriano e que admirava e aderia com toda sinceridade às suas doutrinas, tanto que acabava me aborrecendo constantemente na igreja que eu frequentava, já que a mesma caminhava a passos largos para o que eu posso definir como um processo de pentecostalização.

Eu já frequentei (antes de ser presbiteriano), por pouco tempo, a "Assembleia de Deus" e a "Igreja Pentecostal de Nova Vida". Nas duas passei pouco tempo, não me acostumava com tantos “dons” e, para ser sincero não acreditava que todas aquelas manifestações pudessem suportar uma crítica mais profunda, baseada nas Escrituras. Na verdade, a minha ida para uma “igreja histórica” se deu justamente por estas razões. Eu procurava algo mais fiel às Escrituras e não um festival de pirotecnia pseudo-espiritual.

Não era a toa que eu estava me aborrecendo com os rumos que minha igreja ia tomando. Conversava com o pastor, mas este pouco me ouvia: não me censurava, mas também não coibia os abusos que iam cada vez mais se multiplicando. Aos poucos fui amadurecendo a ideia de entrar em outro seminário. A inércia do conselho e a minha sede de conhecimento de Deus me fizeram tomar uma decisão, e acabei me matriculando no "seminário Peniel" que na época era um seminário interdenominacional, ou seja, poderia ser cursado por “crentes’ de qualquer denominação.

Me empolguei, mas fiquei um dia só. Meu pastor interveio, primeiro mandou que eu desistisse (deste e do nosso seminário!) e me sugeriu que fizesse História, já que eu havia manifesto à ele este antigo desejo, que eu nutria desde minha infância. Nossa! que decepção! Foi terrível para mim, foi uma espécie de resposta não oficial do conselho e caiu como um balde de água fria sobre minha cabeça. Chorei muito, muitos dias.

Chegou, enfim, o dia da reunião do conselho. Aqueles senhores sentados diante de mim e eu, meio chateado meio esperançoso, aguardando uma resposta, que fosse qual fosse, seria para mim um grande alívio. Chegou à hora. Dentre os presentes, cinco ou seis, quase todos, se posicionaram contrários à minha reivindicação, sendo que um deles alegou que eu era “muito católico”. Ah! E por que ele disse isso? Bem, é justamente aí que entra a Semana Santa de 2003: na Sexta-feira Santa deste ano, eu propus ao nosso pastor que realizássemos um culto com “santa ceia” e que fizéssemos uma "liturgia" mais sóbria, sem músicas agitadas e só com o coral, e pedi à ele que me deixasse dirigir o culto.

Ele titubeou um pouco, mas acabei convencendo-o. Fiz isso por dois motivos: em primeiro lugar, para levar o povo à uma meditação mais profunda na dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; em segundo lugar, porque lendo um livro antiquíssimo chamado “Peregrinação de Etéria”, descobri que a comemoração da chamada Sexta-Feira da Paixão é uma prática que remonta aos primitivos cristãos: séculos III e IV. Então, percebi que não era uma ‘invenção” da Igreja Católica, mas uma prática bi-milenar! 

Pois bem, o culto foi realizado. Fiquei muito feliz! As pessoas pareciam mais piedosas e o pastor pregou enfim sobre a Paixão e Morte de Nosso Senhor e a santa ceia foi celebrada de forma muito bela. Infelizmente, poucos gostaram, e isso atentou contra mim, até o fim. Depois desse culto senti que eu não era o mesmo. Claro que ainda lia os “mestres da Reforma’, mas minha mente e meu coração já haviam mudado significativamente.

Voltando à reunião do Conselho, acabaram, sabe-se lá porque, concordando com que eu fizesse a prova, e me deram o dinheiro da matrícula. Sinceramente eu não esperava isso, o clima frio e nada cordial que me cercava na igreja não prenunciava uma decisão como essa, no entanto dei graças a Deus e decidi esperar.

Trabalho no centro do Rio de Janeiro. Um lugar tumultuado e cheio de gente, mas também muito belo e muito rico em obras de arte, monumentos, museus. Nem preciso dizer o quanto aprecio essas coisas. As igrejas católicas então… Sempre as achei belíssimas (evitava entrar nelas mas não posso negar que me atraíam).



Ainda nessa época, a questão das imagens me incomodava muito, embora eu já houvesse lido muitos argumentos à favor como por exemplo este, do papa Gregório Magno: “Tu não devias quebrar o que foi colocado nas igrejas, não para ser adorado, mas simplesmente para ser venerado. Uma coisa é adorar uma imagem, outra coisa é aprender, mediante essa imagem, a quem se dirigem as tuas preces. O que a Escritura é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes; mediante essas imagens aprendem o caminho a seguir. A imagem é o livro daqueles que não sabem ler” (Epist. XI 13 PL 77, 1128c).

Ora, eu havia aprendido no meio evangélico que o catolicismo promovia a idolatria e que adoravam imagens e principalmente a Virgem Maria. Resolvi então descobrir a verdade por mim mesmo. Se assim fosse, isso seria abominável e mesmo satânico. Resolvi ler o Catecismo da Igreja Católica, que é o ensino oficial sobre o assunto. Claro que hoje compreendo bem o porquê e o para quê das imagens, mas não pensem que foi fácil... Na verdade, foi uma luta terrível. Eu queria – e quero – fazer a vontade de Deus e por isso buscava-o intensamente. Precisava saber o que fazer.

Em relação a este assunto, uma das descobertas mais formidáveis que fiz foi a de que os cristãos, ainda no tempo das grandes perseguições, já utilizavam imagens! Nossa! Isso caiu como uma bomba sobre minha cabeça já um tanto atordoada! Foi uma descoberta que me desconcertou, e então resolvi deixar de lutar contra a minha consciência. Claro que não sai correndo e enchi minha casa de imagens de tudo quanto é santo; não era essa a questão e mesmo para a Igreja Católica isso é algo secundário e não fundamental. O que se precisa deixar claro, isso sim, é a finalidade que damos à elas, como as utilizamos. Aqui está o link com as imagens da Igreja primitiva: http://praelio.blogspot.com/2009/02/igreja-primitiva-x-protestantismo.html

Pois bem, a questão das imagens estava superada. Depois descobri que nem mesmo Lutero dava muita importância para elas, além do que, inúmeras igrejas protestantes possuem imagens em seus templos. Fiquei feliz ao perceber que havia superado essa questão, mas ao mesmo tempo me via cada vez mais desafiado pela Igreja, tantas descobertas feitas e eu ainda sem saber ao certo o que fazer ou como agir, afinal eu tinha uma convicção plena de que queria ser pastor, eu não me imaginava fazendo outra coisa, não me via em outro ofício senão o de cuidar das pessoas e ensinar à elas o caminho para Deus.


MINHA ESPOSA E A MISSA:

Ainda não falei sobre minha esposa! Bem, ela me acompanhou em todos os momentos. Também ela via meu potencial, sabia de minha “vocação”, de meu “chamado” e me dava muita força, embora andasse um tanto quanto descontente com a forma como era conduzida a nossa igreja. Eu sempre conversei franca e abertamente com ela e nunca, em momento algum, lhe escondi minhas hesitações. Ela, no entanto, ponderava e pedia que eu refletisse, tivesse muita calma e, sobretudo orasse com sinceridade por uma resposta.

Até então a sua opinião acerca da Igreja Católica não diferia em nada da opinião maioria dos evangélicos: idolatria e heresias, adoração à Maria etc. Lembro bem de quando tive a primeira noção do que era a Santa Missa, a Divina Eucaristia. Até então, tudo o que eu sabia sobre isso era fruto de minhas leituras de Lutero, Calvino e demais autores protestantes: John Stott, Martin Lloyd-Jones e outros não tão conhecidos. Claro que, devido a esta formação, eu pensava ser a Santa Missa uma blasfêmia, uma sacrílega “repetição” do Sacrifício Único do Calvário. Obviamente era uma noção errada ao extremo, mas infelizmente eu não tinha quem me esclarecesse, até então…

Aqui no Centro do Rio de Janeiro, existe uma igreja belíssima dedicada à São Basílio Magno, que é um dos chamados “Santos Padres”, primeiros teólogos da Igreja. Bem, não sei se você sabe, mas a Igreja Católica possui diversos ritos diferentes e esta pequena igreja adota o rito melquita, que é um rito oriental e por isso sua arquitetura é toda “orientalizada”, cheia de ícones, turíbulos e um Altar belíssimo. Pois bem, certa vez, indo para o meu trabalho resolvi passar por esta igreja para ver se ela estava aberta, já que sempre que eu passava estava fechada, por ser ainda muito cedo. Nesse dia, porém – providencialmente – ela estava aberta e dentro havia um padre de batina preta, barba longa, que me olhou curioso ao ver que eu havia entrado na Igreja àquela hora como se procurasse por algo (e bem que eu procurava!). Ele veio então falar comigo, perguntou se eu era católico e eu disse que não, que era presbiteriano e expliquei a ele onde ficava a nossa “catedral”, aliás ali bem perto.

Ele me disse já ter entrado lá para apreciar a arquitetura (a catedral presbiteriana é em estilo gótico). Eu confesso que fiquei sem graça, meio sem jeito para conversar com ele, até que me perguntou se eu gostaria de vir um dia à Missa ali na sua igreja. Eu fiquei sem reação e disse que sim, que iria sim, e ele me disse: "Venha, mas infelizmente você não poderá participar da Comunhão". Eu não tinha ideia do quanto aquilo significava, mas consenti e fui embora, não sem antes ser abraçado fortemente por este sacerdote e (devido aos seus costumes orientais – ele não era brasileiro) ter ganhado dois beijos no rosto!

Achei engraçado e acolhedor, além do que, suas palavras mexeram comigo. Pronto: aguçada minha curiosidade e tocado pela Graça de Nosso Senhor fui atrás de uma melhor explicação: afinal, o que é a Missa, o que é Eucaristia?

Pode-se dizer que a “santa ceia” celebrada pela grande maioria dos evangélicos e protestantes é na verdade fruto do entendimento daquilo que Lutero (e ainda mais Calvino) entendiam ter sido a última Ceia de N.S.J.C. com seus Apóstolos. Lutero passou boa parte de sua vida tentando “destruir” a Missa e Calvino dizia ser esta um sacrilégio, uma blasfêmia. Veja esta frase de Lutero: “Sim, eu digo: todas as casas de tolerância, que, entretanto Deus condenou severamente, todos os homicídios, mortes, roubos e adultérios, são menos prejudiciais que a abominação da missa papista.” (Werke, t. XV, 773-774)”

Pois é, este era o nível de argumentação de Lutero que nunca fez questão de esconder o seu ódio. Entretanto Lutero manteve a “sua missa”, que depois ficou comumente conhecida como “santa ceia”. Entretanto já não havia a crença no Sacrifício Propiciatório, não havia mais a Presença Real e Substancial de Cristo nas Espécies Consagradas sob a aparência do pão e do vinho, mas sim uma espécie de “empanação”: sim, Cristo estaria presente, mas somente de forma espiritual, junto com o pão e o vinho, e assim sendo não se poderia mais adorar a Hóstia Santa.

Lutero também suprimiu todas as orações do ofertório (tudo aquilo que demonstrava claramente ser a Santa Missa um verdadeiro Sacrifício) apesar de ter conservado o termo “sacrifício de louvor”, que, contudo, não abrange toda a extensão e essência da Santa Missa.

Tudo isso que escrevi acerca da Missa e da Eucaristia era uma novidade para mim. Sempre procurei participar da “santa ceia” da maneira mais digna possível e de preferência tendo “confessado” os meus pecados à Deus. Nesta altura dos acontecimentos eu já não me contentava em ler só livros evangélico-protestantes. Eu não queria aventuras e muito menos justificar tudo como sendo pura e simplesmente “vontade de Deus” apenas para esconder ou disfarçar meu conformismo. Claro que eu confio na Providência, claro que sei que é Deus Nosso Senhor que guia  nossas vidas e nos aponta o Caminho certo, afinal de Si mesmo disse Nosso Senhor Jesus: “Ego Sum, Via, Veritas et Vita”: Eu Sou o Caminho, A Verdade e a Vida (Jo 14,6).

Ora, Ele sendo o próprio Caminho, não haveria de me deixar sem respostas, muito menos desorientado. Uma coisa importante, aprendi nesta época: a recorrer sempre aos antigos escritores eclesiásticos, àqueles “Pais da Igreja". Ora, tendo muitos deles convivido com os próprios Apóstolos, seriam sem dúvida uma fonte fidedigna de informação, mas sinceramente, dentro do meu íntimo, eu tinha receio do que encontraria nestes escritos, era como se eu estivesse passando por uma lenta metamorfose.

Resolvi então procurar em sebos e mesmo na internet alguma coisa sobre a Missa. Afinal, era uma “invenção” romanista ou uma Verdade maravilhosa que remonta aos primeiros cristãos? Bem, a resposta que tive não poderia mesmo ser outra: TODA a estrutura da Santa Missa já é encontrada em documentos do I século! Veja por exemplo este breve texto, escrito por São Justino, que depois foi morto por causa de sua fé em Cristo Nosso Senhor:

“No chamado dia do Sol, (domingo) reúnem-se em um mesmo lugar todos os que moram nas cidades ou nos campos. Lêem-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas, na medida em que o tempo permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão sublimes ensinamentos.Depois, levantamo-nos todos juntos e elevamos as nossas preces; como já dissemos acima, ao acabarmos de rezar, apresentam-se pão, vinho e água. Então o que preside eleva ao céu, com todo o seu fervor, preces e ações de graças, e o povo aclama: Amém. Em seguida, faz-se entre os presentes a distribuição e a partilha dos alimentos que foram eucaristizados, que são também enviados aos ausentes por meio dos diáconos. Os que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada. O que se recolhe é colocado à disposição do que preside. “Este socorre os órfãos, as viúvas e os que, por doença ou qualquer outro motivo se acham em dificuldade, bem como os prisioneiros e os hóspedes que chegam de viagem; numa palavra, ele assume o encargo de todos os necessitados” (Justino – I Apologia Cap. 66-67 : PG 6,427 – 431).

Depois de descobertas como esta, resolvi “abrir o jogo” com minha esposa sobre a questão da Eucaristia e tive então uma das maiores surpresas de minha vida: já era tarde da noite e conversávamos sobre amenidades até que tomei coragem e falei sobre o assunto. Não precisei de muito tempo até que ela tomasse a palavra e me confidenciasse que nunca conseguiu se satisfazer plenamente com aquilo que sempre lhe ensinaram ser a “santa ceia’! Ela sempre esperou mais, sempre acreditou em algo mais do que aquilo, e isso sem que ela nunca houvesse estudado uma única linha do Catecismo Católico e desconhecesse completamente a doutrina Católica da Missa!

Eu entendi bem aonde ela queria chegar, e então conversamos durante longas horas sobre a Igreja, os Sacramentos, sobre Maria Ssmª , o Papa e etc. Claro que não dormimos protestantes e acordamos católicos, mas resolvemos ir à Santa Missa no domingo, mesmo tendo que participar do culto pela manhã.

Esqueci de dizer que pedi dispensa das aulas da EBD, não me sentia mais a vontade ensinando aquilo em que eu já não cria mais. No princípio, eu aproveitava as aulas para tentar me convencer que estava errado, que a “Reforma” foi “gloriosa” e que o verdadeiro cristianismo estava na “igreja evangélica”, mas minha resistência foi um verdadeiro fiasco, então, para ser coerente e honesto comigo mesmo, desisti das aulas.

Passamos então a ir às Missas das 18h numa pequena Capela que ficava perto de nossa igreja. Como trabalhávamos, ainda na igreja não podíamos ir juntos, então minha esposa ia uma semana com minha filha (então com 4 anos) e eu ia na outra. Foi um período de grandes descobertas e profundas modificações. Confesso que não compreendíamos muita coisa, mas sabíamos que estávamos em casa e pouco a pouco todas as dúvidas foram se dissipando.

Chegou o dia da prova do seminário e eu simplesmente não fui. Achei justo devolver o dinheiro, mas não quiseram aceitar, o que para mim foi uma humilhação, mas dei graças a Deus, afinal eu já não me importava muito com isso. Nessa época minha esposa descobriu uma grave lesão na coluna cervical e por conta disso ficou em licença médica durante mais ou menos dois meses, justamente quando nossa igreja sediou um congresso de pastores. Até hoje agradeço a Deus pelo seu modo de agir tão paternal, nos livrando de mais constrangimentos.

Nesse período em que minha esposa ficou doente, resolvemos pedir demissão, mas eles se anteciparam, já não havia clima para a nossa permanência e aqui – infelizmente – preciso falar de algo pessoal. O pastor simplesmente sumiu, se negou a conversar, não quis ouvir nossas razões e simplesmente, até o dia em que fomos embora, ele nunca mais se dirigiu a mim. Fiquei muito triste, é verdade, mas de certa forma já esperava por isso.

Alugamos uma casa e fomos embora sem maiores satisfações. Sentimos um grande alívio e, graças a Misericórdia infinda de Nosso Deus, estamos até hoje, e pela Misericórdia de Deus Nosso Senhor esperamos estar até o dia da nossa morte na Única Igreja fundada por Cristo, onde eu fui batizado aos 29 anos, onde recebemos o Corpo e o Sangue de Cristo, onde batizamos nossa filha e nos unimos verdadeiramente pelo Sacramento do Matrimônio.

* Marcos J. Siqueira

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Fonte:
"Spiritus Paraclitus"
vozdaigreja.blogspot.com

12 comentários:

  1. É como Santa Edith Stein dizia: "Quem busca a verdade busca, consciente ou inconscientemente, a Deus".

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  2. André disse:

    Como ex protestante convertido ao catolicismo, fico extremamente feliz com este relato. Deu-se comigo a mesma coisa. O Senhor um dia me disse que estava buscando suas ovelhas em outros apriscos. E estas ovelhas somos nós. Também me sentia atraído pela Igreja Católica e não sabia explicar. Que lindo relato deste nosso irmão !

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    1. Eu também era protestante da Igreja ass:de Deus nasci no meio evangélico, sempre ouvia inúmeros ataque a igreja católica mas mesmo assim eu tinha uma vontade tão grande de conhecer melhor a fé católica que eu resolvi ir em uma missa depois disso comecei a respeitar mais a igreja católica, mas minha convenção se deu na vinda do papa ao Brasil, depois disso comecei estudar a bíblia a historia da santa igreja e hoje não tenho a menor duvida de que a igreja católica é a igreja de Deus a verdadeira igreja e que as outras igrejas existente são apenas uma copia da igreja santa a primeira a mãe de todas.
      DEUS SEJA LOUVADO POR ISSO!

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  3. Eu também voltei para a Igreja Católica, fui protestante durante 14 anos, mas voltei. Estou passando ainda uma luta grande, pois minha esposa é evangélica e ainda não conseguiu aceitar o fato de eu ser católico, mas é assim mesmo, vou esperar que tudo se resolva.

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  4. A todos os cristãos, graça e paz.

    Como presbiteriano, me chamou a atenção o post. Nunca entrei em contato com algum presbiteriano que tenha se tornado católico, então foi interessante ler o relato. Sou muito feliz na Presbiteriana, mas respeito quem pensa diferente, embora discorde de certos pontos que o rapaz levantou.

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  5. Paz a todos!

    acrescentando ao que disse antes. Fui presbiteriano também, sempre fui interessado em leitura,tive acesso a autores reformados, como: Jonh Pipper, J. C. Ryle, John Murray, Spurgeon, Calvino,Geehardus Voss ,Charles Hodge e muitos outros...etc, li escritos desses e mais uma porção de livros que ainda tenho na minha biblioteca pessoal. Mas quando tive acesso a patrística e a história da igreja, aí o negócio mudou de rumo(rsrsrs). Comecei a ler Agostinho, Ambrósio, Irineu de Lião, Crisóstomo, Inácio de Antioquia, Atanásio, e descobri que todos eles eram católicos.

    Amigos o catolicismo é uma só fé, um só senhor, um só batismo, um só corpo, foi por causa da unidade que voltei ao catolicismo, e foi por causa da divisão protestante que saí dele, pois o protestantismo está desfalecido com tantas brigas, discórdias, facções, intrigas, divisões, cansei de tudo isso. O protestantismo já se dividiu em mais de 40.000 seitas, é uma verdadeira babilônia=confusão, e a Bíblia diz que Deus não é de confusão. Cristo não está dividido(1Co 1.13)

    Um abraço a todos, que Deus nos ilumine, e nos abençoe!

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    1. Adeilton, Graça e Paz.

      Como presbiteriano, achei interessante o fato de vc ser presbiteriano e depois ter se tornado católico. Não penso em fazer o mesmo, mas gostaria de discutir algumas ideias, se possível. Principalmente a respeito da Patrística da Igreja, Agostinho e outros pensadores cristãos.

      Obrigado

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    2. Felipe Santos, graça e paz!

      Sim, estou disposto a discutir algumas ideias, como faço? se vc quiser me procurar no facebook,https://www.facebook.com/Adeilton Dutra Gomes

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    3. Não tenho mais facebook! Mas me procure no e-mail: cafilipe@ibest.com.br. Obrigado!

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  6. Olá irmão!

    Este testemunho deu um nó em minha cabeça... achava que as igrejas orientais eram todas ortodoxas que não aceitam a autoridade do papa, mas pelo relato aceitam....será que vc pode fazer um post sobre a diferença entre as igrejas ortodoxas e orientais (é a mesma coisa?) e a romana? Algumas estão em comunhão com a igreja de roma? posso então frequentá-las? Ajude-me! rs....Obrigada e Parabéns pelo blog
    Deus lhe abençoe!

    Angela

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  7. Irmãos não há força maior que a verdade. Para aqueles que ainda resistem e lutam contra ela , rezemos sempre por eles , para que a verdadeira verdade seja revelada à eles e quebre todas as barreiras por mais resistentes que elas sejam. E que assim possam também eles fazer parte da imensa alegria que se sente no coração ao conhecer e estar em comunhão realmente com Jesus.

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