Grande Oração a São Miguel Arcanjo


Gloriosíssimo Príncipe da Milícia Celeste, São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate e na luta contra os dirigentes deste mundo de trevas, contra os espíritos malignos, espalhados pelos ares. Vinde em socorro dos homens que Deus criou à sua Imagem e Semelhança, e resgatou por grande Preço da tirania dos demônios.

A Santa Igreja vos venera como seu guarda e protetor; confiou-vos o Senhor a missão de introduzir na felicidade celeste as almas resgatadas. Rogai, pois, ao Deus da paz que esmague Satanás sob nossos pés, a fim de que ele não mais possa manter cativos os homens e fazer mal à Igreja.

Apresentai ao Altíssimo as nossas preces, a fim de que sem tardar o Senhor nos faça misericórdia, e contenhais vós o Dragão, a antiga Serpente, que é o Demônio e Satanás, e o lanceis acorrentado no abismo para que não mais seduza as nações. Amém.


Magnae Oratiae Sancte Michael Arcangele

Princeps gloriosissime caelestis militae, Sancte Michael Archangele, defende nos in praelio adversus príncipes et potestates, adversus mundi rectores tenebrarum harum, contra spiritualia nequitiae, in ad imaginem similitudinis suae fecit, et a tyrannide diaboli emit pretio magno.

Te custodem et patronum sancta veneratur. Ecclesia; tibi tradidit Dominus animas redemptorum in superna felicitate locandas. Deprecare Deum pacis, ut conterat Satanam sub pedibus nostris, ne ultra valeat captivos tenere homines, et Ecclesia nocere.

Offer nostras preces in conspectu Altissimi, ut cito anticipent nos misericordiae Domini, et apprehendas Draconem, serpentem antiquum, qui est diabolôs et Satanas, et ligatum mittas in abyssum, ut non seducat amplius gentes. Amen.

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Fonte:
LIMA, Pe. Antônio Lúcio da Silva, Orações do Cristão, Português - Latim. Paulus, 2012.
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Gloriosa História da Igreja - 9



A Essência da Igreja: o que é, afinal, a Igreja?

Assim, como judeu zeloso, bem formado, respeitado e influente, Saulo resolveu tentar tudo o que podia para conter o que ele via, - baseado na mais elementar lógica humana, - como uma terrível e absurda heresia. E começou a perseguir os cristãos, não esporadicamente, mas de forma bastante concreta. Adquiriu cartas do Sinédrio em Jerusalém e passou a percorrer várias cidades, saindo com cartas até a Síria, que fica fora de Jerusalém.

Vai então para Damasco, capital da Síria até hoje, sabendo que lá existe uma comunidade de cristãos. Vai com uma espécie de mandato judicial para encarcerar os cristãos. Por quê? Porque para ele os cristãos eram um grupo de fanáticos perigosos que seguem um louco blasfemo. E aqui se cumpre aquilo que Jesus havia previsto: "...Virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus. (Jo 16,2)". Por fidelidade a Deus, iriam perseguir e matar os cristãos.

E lá está Saulo no caminho para Damasco. - Não sabemos se ele está a pé ou a cavalo, apesar de tantas imagens tradicionais que lhe retratam, literalmente, caindo do cavalo. A narrativa dos Atos dos Apóstolos, no entanto, não o especifica. - Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” Saulo disse: “Quem és, Senhor?” Respondeu a voz: “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo” (At 9,4).

Estamos diante de uma revelação. Vemos um homem que estava convicto de que fazia o bem por seguir Jesus, perseguindo a sua Igreja. Agora ele encontra este mesmo Jesus ressuscitado, como Luz que ilumina sua vida, e uma Luz tão forte que lhe provoca cegueira. E a voz do Senhor lhe esclarece. E como se deu a conversão de Saulo?

Sua conversão não foi individual. Não foi ele sozinho quem teve um contato com Jesus e resolveu mudar de vida. Sua conversão foi eclesial, isto é: desde o começo, essa conversão ocorreu a partir da Igreja, no seio da Igreja, com e para a Igreja.

Jesus Cristo identifica-se com a Igreja. Mostra e declara a Saulo, claramente, que existe uma identificação direta e inexorável entre Jesus e sua Igreja, e este é um grande e fundamental mistério da fé cristã. O Senhor diz a Saulo: "Por que me persegues?” (At 9,4), mas Saulo evidentemente não perseguia Jesus, que já havia ressuscitado e ascendido aos Céus. Saulo perseguia a Igreja, homens e mulheres frágeis e pecadores como eu e você. Para Saulo, não era a Jesus que perseguia e lançava na prisão, mas a homens e mulheres comuns. O próprio Cristo, no entanto, lhe revela de modo maravilhoso que aquilo que se faz a Igreja se faz a Jesus; perseguir a Igreja é perseguir Jesus, pois a igreja é, num sentido essencial, o próprio Jesus Cristo. Existe aí uma identificação

Para estudar a história da Igreja, precisamos antes de qualquer coisa entender o que é a Igreja. Precisamos conhecer a sua identidade. A Igreja é, de alguma forma, uma continuidade do fenômeno Jesus. A Igreja é a continuidade do Mistério da Encarnação divina. Deus, na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, encarnou-se, fez-se homem, mas ao ascender aos Céus, deixou ainda seu Corpo no mundo e na História. Esse corpo chama-se Igreja.



Em sua primeira carta aos coríntios, capítulo 11, S. Paulo fala do Corpo de Cristo na Eucaristia, sendo oferecido na Santa Missa. No capítulo 12, ele deixa de falar no Corpo de Cristo na Eucaristia e começa a falar do Corpo de Cristo que somos nós, membros da Igreja, como a explicar o que entendeu naquela tremenda experiência de sua conversão:

“Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito. Assim o corpo não consiste em um só membro, mas em muito (...) Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros.”


A Igreja, portanto, é:

# O Corpo de Cristo, sendo a Cabeça é o próprio Cristo (1Cor 12,12-27);

# A porta de entrada para a vida cristã, pois é por meio dela que recebemos o Batismo que nos qualifica como filhos e filhas de Deus e, portanto, a entrada para o Caminho da Salvação, que é Jesus, além de todos os Sacramentos;

# A coluna e o sustentáculo da Verdade (1Tm 3,15);

# Aquela que possui autoridade para ligar e desligar no Céu e na Terra (Mt 16,17-19 e 18,18);

# Aquela que possui autoridade para perdoar ou para reter os nossos pecados (Jo 20, 22ss);

# Aquela que produziu, canonizou, traduziu e preservou a Bíblia Sagrada, dede o princípio até hoje;

# Una, reconhecendo um só Senhor, professando uma só fé e um só Batismo (Ef 4,4-5);

# A "Casa do Deus Vivo..." (1Tm 3,15);

# A Assembléia dos Santos reunida, o Povo de Deus, e muito mais...

** Compreendemos, assim, o supremo absurdo daqueles que proclamam que a Igreja não tem importância, e que cada um pode, individualmente, interpretar as Sagradas Escrituras para criar novas igrejas a qualquer tempo, conforme seus desejos e interesses, segundo apenas o seu próprio entendimento, independentemente da Igreja Una e Indivisível que foi instituída por Nosso Senhor e Deus.
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Catequese básica: os vivos e os mortos, o Céu e a Terra, a Imaculada Conceição


Uma leitora
que se identifica como "Vanessa" enviou ao post "Os santos podem interceder por nós?" um longo comentário, que reproduzimos abaixo, resumido:

"Quanto aos mortos ouvirem nossas orações: A bíblia descreve o céu como um lugar onde não haverá mais lágrima, pranto, lamento ou dor. é um paraiso preparado por Deus para os que o amam. Estar num lugar assim, maravilhoso, de paz, e ficar ouvindo as dores dos que amamos na terra, isso seria um paraiso? teríamos paz?Com certeza nao.

Quanto a oração dos santos: toda vez que encontrar essa palavra, saiba que ela está se referindo ao povo de Deus, e não aos 'santos' da igreja católica. os santos descritos na bíblia sao o povo de Deus, que estão (ou estavam à época) VIVOS. diz que esses vivos sim, devem orar uns pelos outros.

Além do mais, somos chamados de santos porque se confessarmos nossos pecados a Deus, Ele é fiel e justo para nos perdoar, de forma a nao se lembrar mais deles. Somos justificados por meio do sacrifício de Cristo na cruz. Jesus recomendou: 'SEDE SANTOS COMO EU SOU SANTO' (1Pe 1:16). A santidade é algo que devemos buscar a cada dia, mas sabemos que só houve um que viveu nessa terra que nao teve pecado, seu nome é JESUS! Só Ele é o criador. Todos os demais que vivem ou que já morreram sao criaturas, que precisam portando de perdão, pois já nasceram em pecado...

(...)Deus abeçoe!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"


** Leia a nossa resposta em nosso novo endereço: OFielCatólico.Blogspot.Com
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Sem a fé cristã é difícil militar por valores cristãos

Assim como tudo que Bento XVI fazia ou dizia era distorcido para que cheirasse a intolerância e reacionarismo, agora, tudo que o Santo Padre Francisco fala é distorcido para que pareça revolucionário, "modernoso", liberal. A situação é difícil e muito complexa, por várias razões. O texto do "Frei Clemente Rojão", que reproduzimos abaixo, ajuda a lançar luz sobre esta questão...


Como na brincadeira do telefone sem fio...

O Papa Francisco é adulto, mais velho e mais sábio que eu. Portanto não ouso ser seu porta-voz. Porém, apesar de com modos errados, há um certo senso no que ele falou. O duro é que enquanto é necessário uma única frase para lançar um erro influente na mídia, é necessário dez páginas de texto denso que ninguém lerá para negá-lo. Um tolo lança uma pedra no buraco, mil sábios não conseguem retirá-la. Apesar de ser uma bela e majestosa mulher, a Verdade não consegue correr tanto quanto a horrorosa Mentira, que tem asas nos pés.

A cruzada laicista para eliminar todo e qualquer valor cristão da sociedade está ganhando de lavada porque a sociedade já anda pós-cristã. É fato.

Vou dar um exemplo mais claro ainda: como se prova que Deus existe? Pode-se usar os argumentos filosóficos, inclusive os de São Tomás e Santo Anselmo, ou a aposta de Pascal. Porém eles são densos e não-definitivos, é fácil com retórica hábil os obscurecer, inclusive porque estes "argumentos" não tem esta pretensão. A aposta de Pascal, por exemplo, não prova nem "desprova" a existência de Deus, é apenas um hábil argumento para uma vida virtuosa. Como o Aquinate tão bem colocou, o caminho racional da filosofia para chegar a Deus é tão complexo e tão sujeito à erros que se Deus o propusesse como o único caminho ele não seria trilhado por grande parte dos homens, o que é injusto. Pascal, o matemático, também sabia que o único argumento racional no sentido estrito eram os milagres de Jesus para os que eram contemporâneos a ele. A fé, sendo um dom de Deus, é uma potente mão que ergue o homem comum acima das querelas sofísticas e filosóficas. E a fé é universal, vai desde o doutor ao analfabeto.

Ou seja, quem quiser demonstrar a Existência de Deus sem a fé será como quem quer chegar à Lua: tecnicamente é possível, mas é necessário um grau de excelência em recursos de engenharia vedados à grande maioria dos homens. Graças a Deus há a fé, então a maioria crê, sendo a racionalidade apenas um reforço da fé sobrenatural.

Vamos a um assunto mais prosaico nesta guerra de valores, o casamento gay, esta coisa tão cafona que faria Oscar Wilde e Marcel Proust borrarem as calças de tanto rirem do fetiche. Se pensarmos no casamento no sentido estritamente laico do código civil, um contrato, não há objeções nenhuma ao casamento gay. Qualquer outra argumentação será feita em pedacinhos pelos filósofos e intelectuais do regime.

A questão é que o casamento civil não é casamento. O casamento civil está para o casamento religioso assim como a sombra projetada de u'a mão formando uma sombra em forma de cachorro está para um cachorro. O casamento religioso é um Sacramento. O casamento civil é um contrato de vontades. O religioso é sobrenatural, é indissolúvel, é místico, é acima de nossa vã filosofia. O civil é uma porcaria mesmo, que só serve para dar emprego a inúteis juízes de paz e advogados especializados de divórcio para a guerra. O casamento civil é tão contrato quanto uma compra e venda de imóveis, quanto um consórcio, quanto um aluguel, quando um financiamento e ai das famílias que se baseiam no Código Civil e não no Decálogo. Tanto que adultério é pecado mortal pelo Decálogo, e nem mais crime pelo Código Penal. Por que não romper um contrato?

Sendo assim, uma sociedade estritamente laica, que não entenda o valor de um Sacramento por consequencia não entende o casamento. (Digo laica, porque casamento religioso háem outras religiões). Assim como não há eucaristia para os que não crêem, apenas pão e vinho. Assim como não há sucessão apostólica nem vocação para os que não crêem, apenas masoquistas bispos e padres que se auto-mutilam num voto de castidade anacrônico. E assim vai com todos os Sacramentos. Sem fé cristã, sem Sacramentos. E o casamento é um Sacramento, não? Sem fé cristã, sem santidade do casamento. Se o Código Civil permitir o casamento com uma abóbora ou com uma cabra não há nenhum argumento inválido aí (citei a cabra de propósito para lembrar o linchamento moral da gaystapo ao articulista J. R. Guizzo por ter citado o exemplo de uma cabra). E antes tivesse sido o Código Civil alterado! Como vocês sabem, o Conselho Nacional de Justiça, exorbitando de suas funções, obrigou a fórceps os cartorários a reconhecerem o casamento gay. O CNJ não tem este poder, não é Parlamento para passar leis. Pelo menos se a coisa se mudasse no Congresso ainda haveria um mínimo debate de representantes do povo. Mas não, lobbys no STF e no CNJ enfiam goela abaixo da sociedade estas mudanças. E pior, causando uma lei esquizofrênica, que no papel fala no casamento entre homem e mulher mas na prática permite homem e homem, mulher e mulher, sem estar escrito! Algo bem brasileiro, digno da sub-mediocridade de nossos tribunais superiores e seus processes eternos.

Não sei se o leitor conhece a filosofia do utilitarismo, a que a moralidade de uma ação é determinada pelo bem e prazer que advém dele. Elementos de utilitarismo permeiam a ditadura laica como as espinhas permeiam a carne de peixe. Pelo utilitarismo não é imoral, muito pelo contrário, que um embrião seja condenado para pesquisas tomando suas células-tronco. Afinal, as pesquisas com células-tronco beneficiariam muito mais gente que um embrião que "nem se desenvolveria", né? Pois bem, utilitaristas, quantos aleijados foram curados com células-tronco embrionárias? Eu digo sem medo de errar, nenhum. Em contrapartida, células-tronco embrionárias já foram usadas para desenvolver adoçantes e cosméticos. Pois é. Nosso utilitarista ainda diria que virar refrigerante zero e creme anti-rugas ainda é mais útil que ser um aborto, não? Ok, meu amigo utilitarista, o utilitarismo é uma faca de muitos gumes. O utilitarismo levou ao Gulag soviético e seu irmão menos eficiente, o campo de extermínio nazista. Afinal, se era para prender os elementos indesejáveis do regime, porque não usá-los de maneira útil para fazer o Canal Belomor, a Transiberiana, a bomba atômica soviética?

O utilitarismo levou às confissões nos Processos de Moscou: já que vou ser morto, por que não ser útil ao Partido justificando a minha morte? Finalmente, o utilitarismo leva à solução final: se o Reich é bom, porque não exterminar os inimigos do Reich para conseguir o bem maior, que é ter uma terra "judenfrei"? Decida o que é seu bem maior e mate filosoficamente. Que bem maior que é a juventude, não? Muito melhor que morra o velho Sócrates que corrompa a juventude! Não foi Caifás quem disse que era melhor que Jesus morresse do que morresse o povo?

É muito fácil um tribunal decidir em cima do utilitarismo, como o nosso STF tem feito reiteradamente. Ah, sim, a angústia da mãe de um anencéfalo vale mais que a vida do anencéfalo. Diga-me que estou errado, neoPilatos Celso de Mello! Ou como o suposto cientista e suposto filósofo Singer, que estabelece toda uma lógica utilitarista em cima de dor, jogando embriões e baratas no mesmo balde, porque não sentem dor. Proponho fornecermos analgésicos pesados ao Sr. Singer e fazermos experiências com ele. Por que seria errado, leitor utilitarista singeriano? Ele não vai sentir dor!

São os valores cristãos que dizem, NÃO! Não e não e não! A vida humana é sagrada, sagrada ao ponto de Deus se fazer carne e morrer para salvar os homens. São os valores cristãos que dizem que não se deve matar nem o embrião de uma célula nem o Sr. Singer sob morfina.

Portanto, se a sociedade se descristianizou, se as pessoas perderam a fé, é uma batalha grandemente perdida lutar por nossos valores. A velha Roma só largou a idolatria, o divórcio, o aborto, a sodomia quando as pessoas se tornaram cristãs. Nossa fé baseia valores.

Esta é uma leitura do que o Papa disse. Dom Henrique Soares da Costa, em uma publicação no Facebook, disse algo semelhante: "O que o Santo Padre quis afirmar foi que a doutrina da Igreja sobre o aborto, o matrimônio e a sexualidade deve ser colocada no contexto do anúncio do Cristo como salvação enviada pelo Pai! Imagine uma Igreja que só fizesse falar sobre temas morais, sem anunciar Jesus... ". 

A grande questão é que o povo brasileiro ainda é cristão. Portanto, se for colocado dentro das instâncias democráticas, estes programas perdem. É por isso que o ativismo anticristão se reveste com decisões cartoriais. Fossem colocar o casamento gay ou o aborto num plebiscito, ou mesmo sob o voto da Câmara, seria perdido. É por isso que precisaram das decisões fechadas e iluminadas dos esbirros do STF e do CNJ, onde muito menos gente pode empurrar goela abaixo uma decisão que não é desejada por todos. Finalmente, vem uma geração nova que já foi jumentalizada pelas escolas, e que vê essas coisas como natural. E assim se muda a sociedade.

A evangelização é a areia que vai emperrar esta engrenagem bem azeitada do Anticristo. Inculcaremos valores mais profundos e transcendentes que o lixo marxista que a criança e o jovem vê nas escolas. O diabo é que o Anticristo é esperto, e colocou a Teologia da Libertação na Igreja justamente para que nós mesmos duvidássemos dos valores cristãos, para que a Igreja se envergonhasse de seus valores e de sua responsabilidade de dizer NÃO ao Mundo. Sim, eu disse Anticristo. Porque quem milita contra os valores do Cristo é o Anti-Cristo. São João no Apocalipse descreve o Anticristo como um monstro tendo sete cabeças e dez chifres. Já vimos pelo menos umas três cabeças aí. E todo este concerto organizado por descristianizar a sociedade é a obra por excelência do Anticristo. Até chegar ao limite que ninguém poderia comprar ou vender sem ter a marca da besta. E a marca da besta, meus caros, se faz nos valores do homem.


Do blog Frei Clemente Rojão
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O Silêncio e o Canto - música e liturgia

A participação dos fiéis no autêntico espírito da liturgia - Mons. Guido Marini

Por Wescley Luís de Andrade

* “Introdução ao espírito da liturgia” é o tema da conferência que o Mestre das celebrações litúrgicas pontifícias, Mons. Guido Marini, pronunciou no dia 14 de Novembro, em Gênova (Itália), a um grupo diocesano de animadores musicais da liturgia. Publicamos abaixo alguns trechos da intervenção.


Mons. Guido Marini
É urgente reafirmar o autêntico espírito da liturgia, do modo como está presente na ininterrupta tradição da Igreja e tem sido testemunhado, em continuidade com o passado, no magistério mais recente: a partir do Concílio Vaticano II até Bento XVI. Usei a palavra “continuidade”: é um termo querido ao atual Pontífice, que fez dele competentemente o critério para a única interpretação correta da vida da Igreja e, em particular, dos documentos conciliares, assim como dos propósitos de reforma a todos os níveis neles contidos. E como poderia ser diferente? Porventura, podemos imaginar uma Igreja antes e outra depois, como se tivesse sido produzida uma suspensão na história do corpo eclesial? Ou então, podemos afirmar que a Esposa de Cristo entrou, no passado, num tempo histórico no qual o Espírito não a tenha assistido, de modo que este tempo deva ser quase esquecido ou apagado?

E no entanto, às vezes, algumas pessoas dão a impressão de que aderem àquela que é justo definir como uma verdadeira ideologia, ou seja, uma ideia preconcebida, aplicada à história da Igreja e que nada tem a ver com a fé autêntica.

É fruto dessa ideologia, desviante, por exemplo, a repetida distinção entre Igreja pré-conciliar e Igreja pós-conciliar. Tal linguagem pode até ser legítima, contanto que não se compreendam deste modo duas Igrejas: uma – a pré-conciliar – que nada teria a dizer ou dar porque está irremediavelmente superada; e a outra – a pós-conciliar – que seria uma realidade nova nascida do Concílio e de um seu presumível espírito, em ruptura com o seu passado.

O que se afirmou até agora acerca da “continuidade” tem algo a ver com o tema que fomos chamados a enfrentar? Sim, de maneira absoluta. Porque não pode existir o autêntico espírito da liturgia se não nos aproximarmos dela com ânimo sereno, não polêmico acerca do passado, quer remoto quer próximo. A liturgia não pode nem deve ser terreno de conflito entre quem encontra o bem só naquilo que estava antes de nós e quem, ao contrário, no que estava antes encontra quase sempre o mal. Só a disposição para olhar o presente e o passado da liturgia da Igreja como um patrimônio único e em desenvolvimento homogêneo pode conduzir-nos a haurir com júbilo e gosto espiritual o autêntico espírito da liturgia. Por conseguinte, é um espírito que devemos receber da Igreja e que não é fruto das nossas invenções. Um espírito, acrescento, que nos leva ao essencial da liturgia, ou melhor, à oração inspirada e guiada pelo Espírito Santo, na qual Cristo continua a vir até nós contemporâneo, a fazer irrupção na nossa vida. Deveras o espírito da liturgia é a liturgia do Espírito.

Na medida em que nos assemelhamos ao autêntico espírito da liturgia, tornamo-nos também capazes de entender quando uma música ou um canto podem pertencer ao património da música litúrgica ou sacra. Noutras palavras, capazes de reconhecer a única música que tem direito de cidadania no rito litúrgico, porque é coerente com o seu espírito autêntico. Então, se no início deste curso falámos sobre o espírito da liturgia, fizemo-lo porque só a partir dele é possível identificar quais são a música e o canto litúrgico.

Em relação ao tema proposto não pretendo ser cabal. Nem tratar todos os temas que seria útil enfrentar para um panorama completo da questão. Limito-me a considerar alguns aspectos da liturgia com referência específica à celebração eucarística, assim como a Igreja os apresenta e do modo como aprendi a aprofundá-los nestes dois anos de serviço ao lado de Bento XVI: um verdadeiro mestre de espírito litúrgico, quer através do seu ensinamento, quer do exemplo da sua celebração.


A participação ativa

Os santos celebraram e viveram o ato litúrgico participando concretamente nele. A santidade, como êxito da sua vida, é o testemunho mais bonito de uma participação deveras viva na liturgia da Igreja. Portanto, de modo justo e providencial, o Concílio Vaticano II insistiu muito sobre a necessidade de favorecer uma participação autêntica dos fiéis na celebração dos santos mistérios, no momento em que recordou a chamada universal à santidade. Esta indicação competente encontrou confirmação e relançamento pontuais nos inúmeros documentos sucessivos do magistério até aos nossos dias.

Contudo, nem sempre houve uma compreensão correta da “participação ativa”, da maneira como a Igreja ensina e exorta a vivê-la. Certamente, participa-se ativamente inclusive quando se realiza, dentro da celebração litúrgica, o serviço que é próprio a cada um; quando se tem uma compreensão melhor da Palavra de Deus ouvida e da oração recitada; quando se une a própria voz à dos outros no canto coral… Entretanto, tudo isto não significaria participação verdadeiramente ativa se não conduzisse à adoração do mistério de salvação em Jesus Cristo morto e ressuscitado por nós: porque só quem adora o mistério, acolhendo-o na própria vida, demonstra ter compreendido o que se está a celebrar e, por conseguinte, ser autenticamente partícipe da graça do ato litúrgico.

A verdadeira ação que se realiza na liturgia é a ação do próprio Deus, a sua obra salvífica em Cristo a nós participada. Esta, entre outras, é a verdadeira novidade da liturgia cristã em relação às outras ações cultuais: o próprio Deus age e realiza o que é essencial, enquanto o homem é chamado a abrir-se à ação de Deus, com a finalidade de permanecer transformado nela. O ponto essencial da participação ativa, consequentemente, é que a diferença entre o agir de Deus e o nosso seja superada, que nos possamos tornar um só em Cristo. Eis porque não é possível participar sem adorar. Escutemos ainda um trecho da Sacrosanctum concilium: “É por isso que a Igreja procura, solícita a cuidadosa, que os cristãos não assistam a este mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, piedosa e ativamente, por meio de uma boa compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos na Palavra de Deus; se alimentem na mesa do Corpo do Senhor; dêem graças a Deus; aprendam a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, que não só pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que dias após dia, por Cristo Mediador, progridam na unidade com Deus e entre si, para que finalmente Deus seja tudo em todos” (n. 48).

Em relação a isto, o restante é secundário. Em particular, refiro-me às ações exteriores, não obstante importantes e necessárias, previstas sobretudo durante a Liturgia da Palavra. Cito-as porque se se tornarem o essencial da liturgia e forem reduzidas a um agir genérico, então o autêntico espírito da liturgia ficará subentendido. Consequentemente, a verdadeira educação litúrgica não pode consistir simplesmente na aprendizagem e no exercício de atividades exteriores, mas na introdução à ação essencial, à obra de Deus, ao mistério pascal de Cristo pelo qual se deixar alcançar, envolver e transformar. E não se confunda a realização de gestos externos com o justo envolvimento da corporeidade no ato litúrgico. Sem nada subtrair ao significado e importância do gesto externo que acompanha o ato interior, a Liturgia exige muito mais do corpo humano. De fato, requer o seu total e renovado empenho na quotidianidade da vida. É o que Bento XVI chama “coerência eucarística”. Justamente o exercício pontual e fiel dessa coerência é a expressão mais autêntica da participação inclusive corpórea no ato litúrgico, na ação salvífica de Cristo.

Acrescento ainda. Estamos certos de que a promoção da participação ativa consiste em tornar tudo o mais possível e imediatamente compreensível? Será que o ingresso no mistério de Deus às vezes pode ser acompanhado melhor pelo que sensibiliza as razões do coração? Em alguns casos, não acontece que se dá um espaço desproporcionado à palavra, maçadora e banalizada, esquecendo que à liturgia pertencem palavra e silêncio, canto e música, imagens, símbolos e gestos? E, porventura, a língua latina, o canto gregoriano e a polifonia sacra não pertencem a esta múltipla linguagem que introduz no centro do mistério e, portanto, na verdadeira participação?


Qual música para a liturgia

Não compete a mim aprofundar o que concerne à música sacra ou litúrgica. Outros, com mais competência, tratarão o temo no decurso dos próximos encontros.

Entretanto, o que eu gostaria de realçar é que a questão da música litúrgica não pode ser considerada independe do autêntico espírito da liturgia e, por conseguinte, da teologia litúrgica e da espiritualidade que deriva dela. Então, o que se afirmou – ou seja que a liturgia é um dom de Deus que a Ele nos orienta e que, mediante a adoração, nos permite sair de nós mesmos para nos unir a Ele e aos outros – não só procura fornecer alguns elementos úteis para a compreensão do espírito litúrgico, mas também elementos necessários ao reconhecimento do que música e canto verdadeiramente podem dizer à liturgia da Igreja.

A propósito, permito-me uma breve reflexão orientativa. Poder-se-ia perguntar o motivo pelo qual a Igreja nos seus documentos, mais ou menos recentes, insiste em indicar um determinado tipo de música e de canto como especialmente conformes com a celebração litúrgica. Já o Concílio de Trento interviera no conflito cultural então em ato, restabelecendo a norma pela qual na música a aderência à Palavra é prioritária, limitando o uso dos instrumentos e indicando uma clara diferença entre música profana e música sacra. Com efeito, a música sacra nunca pode ser entendida como expressão de pura subjetividade. Ela está ancorada nos textos bíblicos ou da tradição, e deve ser celebrada na forma de canto. Em época mais recente, o Papa São Pio X interveio de modo análogo, procurando afastar a música operística da liturgia e indicando o canto gregoriano e a polifonia da época da renovação católica como critério da música litúrgica, para que fosse diferenciada da música religiosa em geral. O Concílio Vaticano II afirmou as mesmas indicações, assim como as intervenções magisteriais mais recentes.

Por que, então, a insistência da Igreja em apresentar as características típicas da música e do canto litúrgico, de tal modo que permaneçam distintos de todas as outras formas musicais? E por que o canto gregoriano como a polifonia sacra clássica resultam ser formas musicais exemplares, à luz das quais continuar hoje a produzir música litúrgica, inclusive popular?

A resposta a esta pergunta está exatamente naquilo que procuramos afirmar a propósito do espírito da liturgia. São precisamente aquelas formas musicais – na sua santidade, bondade e universalidade – que traduzem em notas, melodia e canto o autêntico espírito litúrgico: orientando para a adoração do mistério celebrado, favorecendo uma participação autêntica e integral, ajudando a compreender o sagrado e, portanto, a primazia essencial da ação de Deus em Cristo, permitindo um desenvolvimento musical não desligado da vida da Igreja e da contemplação do seu mistério.

Permiti-me uma última citação de Joseph Ratzinger: “Gandhi evidencia três espaços de vida dos cosmos e mostra como cada um destes três espaços vitais comunica também um modo próprio de ser. No mar vivem os peixes, que se calam. Os animais sobre a terra gritam, mas os pássaros, cujo espaço vital é o céu, cantam. Calar é próprio do mar; gritar, da terra; cantar, do céu. Contudo, o homem participa nos três: ele traz em si a profundidade do mar, o peso da terra e a elevação do céu; por isso são suas também as três propriedades: calar, gritar e cantar. Hoje (…) vemos que ao homem sem transcendência permanece apenas o gritar, porque quer ser só terra e procura fazer tornar-se terra inclusive o céu e a profundidade do mar. A verdadeira liturgia, a liturgia da comunhão dos santos, restitui-lhe a própria totalidade. Ensina-lhe de novo o calar e o cantar, abrindo-lhe a profundidade do mar e ensinando-lhe a voar, a essência do anjo; ao elevar seu coração, faz ressoar de novo nele aquele canto que se tinha quase adormecido. Aliás, podemos dizer até que a verdadeira liturgia se reconhece exatamente pelo fato que nos liberta do agir comum e nos restitui a profundidade e a elevação, o silêncio e o canto. A verdadeira liturgia reconhece-se pelo fato que é cósmica, não sob medida para um grupo. Ela canta com os anjos. Cala-se com a profundidade do universo em expectativa. E assim, redime a terra” (Cantate al Signore um canto nuovo, PP. 153-154)

Concluo. Já há alguns anos, na Igreja fala-se sobre a necessidade de uma renovação litúrgica. De um movimento, de qualquer modo semelhante ao que lançou as bases para a reforma promovida pelo Concílio Vaticano II, que seja capaz de atuar uma reforma da reforma, ou melhor ainda, um passo em frente na compreensão do autêntico espírito litúrgico e da sua celebração: levando a cabo dessa maneira a reforma providencial da liturgia que os Padres conciliares começaram, mas que nem sempre, na atuação prática, encontrou uma realização pontual e satisfatória.

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Fonte:
L’Osservatore Romano
Do site "Salvem a Liturgia"

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A matança de cristãos na Nigéria e o silêncio da mídia

Extremistas muçulmanos recebem 98 reais por cada cristão morto





Boko Haram faz da Nigéria o país com maior índice de cristãos martirizados em 2013 - por Jarbas Aragão

Quanto vale a vida de um cristão? Na Nigéria, muçulmanos pagam aos membros do Boko Haram, em média, 7000 nairas por cada cristão morto, quantia que equivale a 98 reais no câmbio atual. O grupo cristão Jubilee Campaign têm feito graves denúncias sobre isso ao governo nigeriano, mas o próprio presidente admitiu que não consegue controlar o exército do Boko Haram, sustentado e equipado pela Al-Qaeda, cujo desejo manifesto é estabelecer um Estado islâmico governado pela sharia, num país onde quase 50% da população professa a fé cristã.

A região norte, hoje, é quase totalmente controlada pelos extremistas. É onde ocorre a maioria dos assassinatos e ataques a igrejas. Embora recentemente tenha se divulgado imprecisamente o massacre de cristãos na Síria, os números são indefinidos, e não há nenhuma ação concreta organizada para parar o massacre.

A rede de TV muçulmana Al Jazeera entrevistou recentemente Ibrahim Mohammed, um soldado do Boko Haram que está preso. Ele foi enfático: “Nós escolhemos pegar em armas contra as pessoas que não querem a sharia. Deus me pediu que lutássemos”. O repórter questionou sobre os outros muçulmanos e as crianças que acabaram mortas durante os ataques. “Quem morre sendo inocente, não tem com o que se preocupar. Além disso, nós somos perdoados por Deus, pois é uma guerra santa [jihad]“.


Crianças de pais cristãos não são poupadas

Massimo Introvigne, coordenador do Observatório da Liberdade Religiosa na Itália chamou atenção do mundo para essa situação no final do ano passado. “Estima-se que em 2012 morreram 105 mil cristãos por motivos religiosos(!)". 

Em outras palavras, uma pessoa é assassinada a cada 5 minutos. Professor de sociologia e pesquisador do Vaticano, Introvigne explica que as vítimas são tanto protestantes quanto católicos, ortodoxos ou coptas. Para ele, as áreas de maior risco são as que possuem grupos muçulmanos jihadistas, que desejam implantar as leis islâmicas à força. “As zonas de risco são muitas, mas podemos identificar basicamente três países onde é consequência do fundamentalismo islâmico: Nigéria, Somália e Mali”, disse.

O direito de praticar livremente a própria religião é um dos direitos fundamentais reconhecidos no artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. É impossível, reconhecidamente, uma estimativa precisa do martírio. Contudo, a ONG World Watch Monitor, que luta pelos direitos humanos, afirma que metade das pessoas mortas por motivos religiosos este ano viviam na Nigéria.

Com informações de Jubilee e Campaign, Christianity Today e AINA
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Gloriosa História da Igreja - 8

Para dar continuidade ao nosso estudo da história da Igreja, vamos analisar um testemunho histórico fundamental: a história da conversão de São Paulo Apóstolo. Essa história nós já apreciamos na quarta parte desta nossa série (veja aqui).

Saulo de Tarso, isto é, Paulo, foi educado na cultura helenística, e como era filho de pais judeus devotos, foi levado a Jerusalém para estudar na escola de Gamaliel. Esse homem culto e devoto percebeu que havia um fenômeno importante e estranhíssimo ocorrendo no judaísmo de sua época: este fenômeno não era um movimento nem uma doutrina. Era uma pessoa. Alguém a quem chamavam Jesus de Nazaré.

As transformações em curso não estavam somente no que este homem dizia ou mesmo no que Ele fazia, nem sequer na beleza do que Ele pregava, pois haviam muitos candidatos a Messias com belas palavras e propondo doutrinas revolucionárias nessa época. O fenômeno estava na Pessoa, no Homem em si.



Uma questão de simples coerência

De forma geral, qualquer pessoa que fala em Jesus o faz com respeito. Mesmo os não cristãos, e até aqueles que não têm fé alguma, em sua grande maioria, ao se referirem ao personagem Jesus o retratam pelo menos como um grande sábio, como um iluminado, um dos maiores pensadores da História. Acontece, porém, que se formos analisar a questão um pouco mais a fundo, somente aqueles que têm fé em Jesus como o Cristo, isto é, como o Filho de Deus e Salvador do mundo, é que podem considera-lo um sábio. Ora, para os que não têm essa fé, não há como considerar Jesus um “sábio”. Por quê? Porque Jesus, em todo seu discurso, apresentou-se e proclamou-se como Filho de Deus. Este é o ponto central de toda a sua mensagem, desde o começo até o final.

Sim. Aquilo que encontramos nos Evangelhos é algo de escandaloso. Ao observarmos o Sermão da Montanha, que é também apreciado enquanto obra literária até por aqueles que não têm fé, Jesus insistentemente diz: “Ouvistes o que foi dito (por Deus a Moisés); eu, porém, vos digo...” (Mt 5,21-22). Jesus afirma, simplesmente, que o que Ele diz tem a mesma autoridade do que aquilo que Deus disse a Moisés no Antigo Testamento! Ele está reformulando a Lei, está acrescentando “vírgulas”, esclarecendo a Palavra de Deus com autoridade divina. Jesus diz de si mesmo, literalmente: “Eu sou a Verdade”. Não diz apenas que diz a Verdade, que sua doutrina é verdadeira, que aponta para a Verdade. Ele diz, categoricamente: “Eu sou a Verdade!”.

Sendo assim, você precisa escolher, de duas, uma: ou você crê no que Jesus diz, que Ele é Deus, aceitando-o como Deus que se fez homem, ou então você precisa, - necessariamente, considerá-lo como uma louco varrido, alguém que não merece o menor respeito. Não há outra alternativa.

E aqui precisamos entrar numa questão bem específica. Ocorre que alguns chegam a dizer que Jesus nunca se declarou Deus. – uma afirmação completamente absurda, desprovida de qualquer sentido, que só pode partir de quem nunca leu os Evangelhos. - Por essa razão, apresentamos abaixo um breve estudo sobre a divindade de Jesus, segundo as Escrituras.


Jesus declarou-se Deus?

É possível crer nas Sagradas Escrituras e nos Evangelhos e não crer na divindade de Jesus, como fazem, por exemplo, os espíritas? Vejamos...

• O Evangelho segundo S. João já se inicia com a afirmação, - logo nos seus primeiros versículos, - de que Jesus é o Verbo de Deus, e que “o Verbo é Deus que se fez carne” (Jo 1, 1-5) . Encontramos ali a afirmação direta e textual que Jesus é Deus feito carne.

• Jesus diz de si mesmo: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30), - e a reação dos judeus foi, imediatamente, a de apedrejá-lo: “’Não te apedrejamos por alguma boa obra, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo” (Jo 10,33).

• Ainda no Evangelho segundo S. João (8,58), vemos: “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade, vos digo: antes que Abraão existisse, Eu Sou”. - O “Eu Sou” (אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה - Ehyeh-Asher-Ehyeh, contraído no Português ‘Eu Sou’) é um dos Nomes atribuídos a Deus pelos judeus, que mais uma vez tomaram pedras para apedrejar Jesus (Jo 8,59), por se declarar Deus.

• Jesus usou vinte e três vezes a expressão “EU SOU” nos Evangelhos.

• Dentro deste contexto, provavelmente não exista declaração mais importante do que aquela que Jesus fez aos judeus, no Evangelho segundo S. João 8,24: “Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque se não crerdes que Eu Sou, morrereis em vossos pecados”.

• O Livro de Atos diz: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que Ele resgatou com seu próprio Sangue.” – A Escritura mais uma vez afirma, sem nenhum rodeia, que foi Deus Quem comprou a igreja com Seu próprio Sangue, isto é, Jesus, que é Deus.

• S. Tomé, o discípulo, declara a Jesus ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28), e Jesus não o corrige, ao contrário, o estimula a perseverar na fé.

• O Apóstolo S. Paulo, em sua carta a Tito, encoraja: “Na expectativa da nossa esperança feliz, a aparição gloriosa de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo“ (2,13).

• A segunda carta de São Pedro começa assim: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, àqueles que, pela justiça do nosso Deus e do Salvador Jesus Cristo, alcançaram por partilha uma fé tão preciosa como a nossa...”.

• A carta aos Hebreus afirma que o próprio Deus Pai declara ao Filho, Jesus Cristo: “Ó Deus, o teu Trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu Reino!” (1,8).

• Jesus declarou ainda: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6,47), e diversas outras afirmações semelhantes (Jo 6,35; 11,25 e outros). Nenhum profeta declarou tais consequências para quem não acreditasse nEle, diretamente. Ao contrário, todo profeta na Bíblia fala em Nome de Deus, e não em seu próprio nome, como fez o Cristo.

• "Eu sou a Luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a Luz da vida!” (Jo 8,12) / “Eu sou a Porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens!” (Jo 10,9) - Mais uma vez, em toda a Bíblia, somente Jesus pode dizer coisas como essas desta maneira, na primeira pessoa.

• “Disse-lhe Jesus: Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. (Jo 11,25). – Observe-se que Ele não diz: “Sou aquele que conduz à ressurreição e à vida” ou “vou ensinar como alcançar a ressurreição e a vida”. Jesus afirma categoricamente que É Ele próprio a Ressurreição e a Vida.

• Jesus diz de si mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!” (Jo 14,6) – Mais uma vez, ele não diz que aponta o Caminho ou leva ao Caminho, nem que conduz à Verdade e à Vida. Afirma que É Ele mesmo o Caminho, a Verdade e a vida.

Demonstrado está que não se pode, ao mesmo tempo, crer nas Sagradas Escrituras e não crer na divindade de Jesus. Se eu não creio que Jesus é Deus, nego a Escritura. Simples assim.



Escândalo para os homens

Assim, retomando a nossa linha de raciocínio inicial, somos forçados a compreender e aceitar que um sujeito que se declara Deus ou diz a verdade, e é Deus de fato. ou mente e é um completo maluco, que só merece a nossa piedade. Se esse homem diz a verdade, então sim, é um sábio e muito mais do que isso, - pois só Deus é de fato plenamente Sábio. É por isso que não é legítimo admirar Jesus apenas como um sábio, um grande homem, um pensador importante.

É preciso compreender, então, que a figura de Jesus de Nazaré é completamente polêmica. Com Ele, não há meios termos, não há como acreditar numa parte do que Ele diz e descartar outras partes. E também não há como não crer nEle e mesmo assim considera-lo um grande homem, sábio, filósofo ou o que quer que seja. Se não admito que Ele era Deus, então só posso vê-lo como louco.

Saulo de Tarso sofreu com essa polêmica. Foi movido por ela. Achava que inadmissível que aquele sujeito estranho, de estranhas palavras, que foi humilhado pelos homens e morreu crucificado, de modo ultrajante, fosse Deus! E precisamos reconhecer que Paulo não estava sendo imprudente, ao contrário: ele estava sendo até bastante coerente e sensato!

Assim, como judeu zeloso, bem formado, respeitado e influente, ele resolveu tentar tudo o que podia para conter o que ele via, - baseado na mais elementar lógica humana, - como uma terrível e absurda heresia.

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Fontes e referência:
LENZENWEGER, Josef et. al. História da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2006.
"Continuidade Histórica da Encarnação de Cristo". Aula do curso de História da Igreja do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr., disponível em
[http://padrepauloricardo.org/aulas/igreja-continuidade-historica-da-encarnacao-de-cristo]
Acesso 13/9/013.
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Gloriosa História da Igreja - 7

A Entrega das Chaves a S. Pedro - Perugino
(1446-1523) Capela Sistina, Vaticano

A compreensão da autêntica história da Igreja é de fundamental importância para todo cristão, em especial nos tempos atuais, em que temos a impressão de que a crítica infundada à Igreja Católica tornou-se uma espécie de hobby para muitos professores de História, sejam do ensino médio ou universitários. A Igreja Católica é como um boneco em que todos gostam de bater. Metaforicamente falando, qualquer pedaço de pau serve para malhar a Igreja, e esse professor ainda é visto como um sujeito inteligente, crítico, moderno, de pensamento livre, etc.

A Igreja é muitas vezes apresentada como uma instituição muito poderosa, uma ditadora que comanda os usos e costumes das nações com mão de ferro, impondo regras aos pobres cidadãos ignorantes, e quem pensa assim invariavelmente gostaria de ver todo o poder nas mãos do Estado. No entendimento dessas pessoas, ao Estado “laico” é que caberia o poder de decisão sobre absolutamente todas as coisas: o Estado é que deveria mandar, por exemplo, na educação dos nossos filhos, ditando a todos o que é moralmente certo e o que é errado, aquilo que cada um de nós deve ou não fazer... E não a religião. Curioso é que essa experiência já foi feita por muitas nações, em diversas ocasiões, e o resultado foi sempre desastroso. A receita mais certa para o desastre de um país é não saber olhar para o passado e aprender com ele.

Ocorre que a religião é uma parte intrínseca do ser humano. Hoje sabemos que, no sentido mais puro da palavra, não ter fé é impossível para os seres humanos, e os místicos já o haviam entendido bem antes de a antropologia descobrir que, além de racional, psíquico, social, político e inacabado, o homem é um ser religioso. Se formos fundo na questão, perceberemos que negar as formas religiosas é apenas mais uma forma religiosa. - Uma forma religiosa negativa. - O sobrenatural e o divino estão relacionados ao ser religioso que é o homem; neles o homem busca respostas e soluções para os seus problemas existenciais, e isso sempre foi assim. Escavações arqueológicas não cessam de encontrar vestígios de rituais religiosos praticados nos tempos das cavernas. Por isso é que a religião tem uma dimensão ética fundamental nas sociedades, bem captada pelo historiador inglês Arnold Joseph Toynbee, que disse: “A religião leva a notar que há no mundo a presença de algo espiritual maior do que o próprio ser humano”.

Nessa relação homem e Divindade, no que se pode chamar transcendência e imanência, o homem corresponde a esse grande Mistério, que é superior às suas possibilidades e conhecimentos, usando de orações, gestos, cerimônias e rituais para manifestar a sua reverência, gratidão e comprometimento, estabelecendo dessa maneira um contato com o Sagrado.

É por isso que nunca, em tempo algum, um governo poderá podar do ser humano aquilo que lhe é intrínseco, que está na sua própria essência e natureza. Mais do que isso, o conceito torto de "laicismo" que temos hoje, se examinado bem “de perto”, revela-se bastante difuso, subjetivo. Ora, todo governo é regido por pessoas, e toda pessoa tem suas próprias ideologias, seu próprio sistema de crenças, acalenta ideais, tem princípios, códigos de moral. O socialismo, por exemplo, é uma ideologia bem definida, quase religiosa, com seus próprios dogmas e até ritos, por assim dizer. O mesmo podemos dizer do capitalismo ou de qualquer outro sistema político-econômico. Então, quando excluímos o fator Deus desse esquema, estamos apenas mudando prioridades.

Um país que proíbe a exposição de crucifixos e Bíblias nos seus tribunais, por exemplo, mas incentiva a ostentação de um retrato do presidente da república, está apenas redefinindo quem é a autoridade última naquele lugar: não se espera mais o auxílio divino, universal e transcendente para se fazer justiça, e sim confia-se na autoridade humana. Não mais manifestamos confiança em Deus, mas sim no Estado. Não mais reverenciamos Deus, mas sim o homem.

Além de tudo, nada mais ridículo e ilusório do que ver a Igreja como uma grande ditadora, já que há muito tempo, - infelizmente, - a Igreja não exerce mais poder praticamente nenhum sobre as sociedades humanas. O poder que a Igreja tem é sobre as almas, é inspirar corações, mas se existe uma instituição que foi relegada à irrelevância dentro do quadro de poder que hoje compõe o establishment mundial é a Igreja Católica. A Igreja é, - ainda, - tolerada, exatamente devido à sua relevância junto aos sentimentos da população, mas não junto à classe política e dominante. E é por isso que esses professores tão "moderninhos" e "descolados", que se colocam como inimigos declarados da Igreja, em sua profunda ignorância prestam um enorme desserviço às consciências dos nossos jovens.

O estudo da História da Igreja, portanto, requer de nós um esforço especial, diferente. O sujeito a ser investigado é uma realidade impossível de ser compreendida apenas intelectualmente, Não é a mesma coisa que estudar, por exemplo, a História Antiga, a História da Europa, a História da Medicina, etc. O estudo da História da Igreja, para ser frutuoso, exige um certo preparo prévio. Isso porque a Igreja não é apenas um grupo de pessoas, unidas em sociedade, para obter um fim. A Igreja é mais do que isso. Existe um verdadeiro Mistério que é intrínseco à ela, não enquanto instituição, mas ontologicamente falando (ontologia é a ciência do ser, que estuda o ser em geral e sua essência, com suas propriedades transcendentais 1).

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Fontes e referência:
LENZENWEGER, Josef et. al. História da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2006.
"Continuidade Histórica da Encarnação de Cristo". Aula do curso de História da Igreja do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr., disponível em
[http://padrepauloricardo.org/aulas/igreja-continuidade-historica-da-encarnacao-de-cristo]
Acesso 13/9/013.
Artigo "Homem: um ser religioso", do seminarista Sebastião Gustavo Siqueira de Andrade, da Diocese de Santarém, para o curso Filosofia e Ciência da Religião.

1. MICHAELIS Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2009.

Princípios morais - um desabafo


A crônica abaixo é atribuída ao jornalista e crítico Arnaldo Jabor, embora existam pelo menos duas versões ligeiramente diferentes do mesmo texto circulando na internet. De todo modo, o desabafo é mais do que válido. Segue...

Quando eu era pequeno, mães, pais, professores, avós, tios e até vizinhos eram autoridades dignas de respeito e consideração. Quanto mais próximos ou mais velhos, mais afeto. Inimaginável responder de forma mal educada aos mais velhos, professores ou autoridades… Confiávamos nos adultos porque todos eram pais, mães ou familiares das crianças da nossa rua, do bairro ou da cidade. Tínhamos medo apenas do escuro, dos sapos, dos filmes de terror… Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo que perdemos. Por tudo o que meus netos um dia enfrentarão.

Pelo medo no olhar das crianças, dos jovens, dos velhos e dos adultos. Direitos humanos para os criminosos, deveres ilimitados para os cidadãos honestos. Não levar vantagem em tudo significa ser idiota. Pagar dívidas em dia é ser tonto. Anistia para corruptos e sonegadores. O que aconteceu conosco? Professores maltratados nas salas de aula, comerciantes ameaçados por traficantes, grades em nossas janelas e portas... E quando surge uma voz lúcida propondo (finalmente) reduzir a maioridade penal, são os bispos, que deveriam representar o desejo dos cristãos honestos, que se posicionam contra! Que valores são esses?

O que vais querer em troca de um abraço, meu filho? Automóveis valem mais que abraços, celulares de última geração estão nas mochilas de crianças, filhas adolescentes querem uma cirurgia estética para colocar bunda ou peito como presente por passar de ano... Uma tela gigante vale mais que uma boa conversa. Uma criança prefere um estojo de maquiagem do que um sorvete.

Repentinamente, mais vale parecer do que ser. Quando foi que tudo desapareceu ou se tornou ridículo? Os jovens protestam pelo direito de se prostituirem, de se drogarem, as meninas se orgulham de serem chamadas de "vadias"...

Quero arrancar as grades da minha janela para poder tocar as flores! Quero me sentar na varanda e dormir com a porta aberta nas noites de verão! Quero a honestidade como motivo de orgulho. Quero a vergonha na cara e a solidariedade. Quero a retidão de caráter, a cara limpa e o olhar olho-no-olho. Quero a esperança, a alegria, a confiança! Quero calar a boca de quem diz: "temos que estar ao nível de…", ao falar de uma pessoa. Abaixo o "TER", viva o "SER".

E viva o retorno da verdadeira vida, simples como a chuva, limpa como um céu de primavera, leve como a brisa da manhã! E definitivamente bela, como cada amanhecer. Quero ter de volta o meu mundo simples e comum. Onde existam amor, solidariedade e fraternidade como bases. Vamos voltar a ser "gente". Construir um mundo melhor, mais justo, mais humano, onde as pessoas respeitem as pessoas. Utopia? Quem sabe? Precisamos tentar… Quem sabe comecemos a caminhar transmitindo essa mensagem… Nossos filhos merecem e nossos netos certamente nos agradecerão!
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Qual o valor do tomismo hoje?


Por Prof. Pe. João Batista de A. Prado Ferraz Costa

Outro dia um aluno do curso de filosofia perguntou-me se a ciência moderna anulava ou contradizia alguma das teses da filosofia de Santo Tomás, um pensador medieval.

A referida pergunta procede e versa sobre um assunto a ser investigado. Mas deve-se dizer que, para analisar tal problema, é preciso logo de princípio fazer uma distinção entre o campo estrito da metafísica e outros tratados filosóficos. Sendo a metafísica o estudo do ser enquanto ser, separado das qualidades sensíveis e da quantidade (terceiro grau de abstração), não compete às ciências físicas imiscuir-se em seu terreno e querer aplicar aí seu método de investigação. Deus, Ato Puro, Ser Absoluto, Causa Primeira, nunca será objeto de investigação científica, se por ciência se entendem apenas as ciências empíricas. A legitimidade da metafísica consiste justamente em provar que as outras ciências são subalternas em relação a ela na medida em que suas conclusões e respostas não são exaustivas, mas, ao contrário, sempre se limitam àquilo que é contingente e não se explica por si mesmo e, por conseguinte, é dependente do Ser Necessário.

Como se sabe, há três graus de abstração. O primeiro grau deixa de lado as características particulares dos fatos e fenômenos, considerando as naturezas universais e as leis universais dos fenômenos físicos. Neste primeiro grau de abstração fundam-se as ciências experimentais. O segundo grau de abstração deixa de lado as propriedades físicas e sensíveis das coisas e nelas só lhe interessam a quantidade e o cálculo entre as quantidades. É a abstração própria da matemática. O terceiro grau de abstração deixa de lado as quantidades como propriedades físicas e sensíveis, considerando nas coisas apenas o que nelas há de primeiro, o mais fundamental, isto é, o ser.

O pensador tomista francês, Jean Daujat, observa que cada um desses três graus de abstração tem sua maneira própria de conceber e raciocinar e que se pode cair em graves confusões se se passa de um a outro sem atenção. Daujat dá como exemplo a noção de causalidade que não é absolutamente a mesma para o físico e para o metafísico. Para o físico, a causalidade é uma regularidade na sucessão dos fenômenos sensíveis: ele dirá que um fenômeno A é a causa de um fenômeno B se fenômeno A é sempre acompanhado ou seguido pelo fenômeno B. Para o metafísico, a causalidade é uma dependência na existência: ele dirá que A é causa de B se o ser de B depende do ser de A ( Cf. Jean Daujat, Y a-t-il une verité?, Paris, Pierre Téqui Éditeur, 2011).
Na referida obra Daujat explica também que pode haver ciências mistas, que participam de dois graus de abstração. É o caso da física moderna que é materialmente física e formalmente matemática.

Para resolver a questão que nos ocupa, a relação entre a metafísica de São Tomás e as ciências empíricas modernas, é útil ainda acrescentar outra consideração de Daujat atinente à pretensão do neopositivismo de recusar a legitimidade da física moderna, que não obteria um conhecimento objetivo do mundo mas se reduziria a um método matemático para organizar a ação do homem no mundo. Diz Daujat que o conhecimento das quantidades medidas é verdadeiro. E este conhecimento limitado ao quantitativo é importante, pois, sendo a quantidade o acidente fundamental das substâncias corpóreas e o sujeito de seus outros acidentes, o conhecimento quantitativo poderá fornecer as indicações para um conhecimento ontológico que os atinja em seu ser mesmo, de modo que o sábio pode passar de um conhecimento a outro sem dar-se conta (o. c. p. 150-151).

Portanto, como se vê, o questionamento da validade da metafísica tomista envolve, na verdade, o questionamento da ciência moderna. O cientificismo, inimigo da metafísica, não destrói apenas a filosofia primeira mas toda a ciência.

Contudo, cumpre dizer que as investigações filosóficas de Santo Tomás em outras áreas, como, por exemplo, na antropologia e na cosmologia, podem, eventualmente, oferecer alguma dificuldade ou exigir outras explicações, estimulando os estudiosos mais competentes a aprofundar suas pesquisas por meio de um diálogo fecundo com as diversas ciências contemporâneas. Aliás, o papa Leão XIII, na famosa encíclica Aeterni Patris, de 1879, em que recomenda um retorno ao estudo de Santo Tomás, diz que, se na antiga escolástica houver alguma coisa inconciliável com o avanço da ciência moderna, não seja tal ensinamento reproposto. A propósito de semelhante problema o respeitado professor de filosofia, Henrique Cláudio de Lima Vaz SJ, em seu auto-retrato filosófico, conta que em seu tempo de seminário havia uma interessante disciplina voltada justamente para esse escopo de investigar os pontos de contato entre a filosofia e a ciência moderna.

Da minha parte, posso dizer que, dirigindo os seminários da disciplina Síntese Filosófica, que visa precisamente a estabelecer um confronto entre a filosofia perene e as correntes modernas de pensamento, pude observar em um trabalho apresentado por um aluno que Santo Tomás, aplicando ao problema da união corpo e alma no homem a teoria do hilemorfismo, não só dá uma reposta muito mais satisfatória que o dualismo cartesiano, mas também se coaduna com as investigações mais recentes da neurociência, que tanta empolgação tem causado. Com efeito, embora rejeitando o emprego do conceito clássico de “alma” como princípio vital e forma substancial que assegura ao homem a sua unidade e seu único ato de ser, e apesar de um emprego impróprio do conceito de consciência em lugar de alma, vários neurocientistas, não obstante ressaibos de materialismo, querem dizer quase a mesma coisa que disse Santo Tomás na explicação do homem com base na unidade substancial entre corpo e alma. Se tiverem boa vontade, esses cientistas, estudando Santo Tomás, hão de concluir que o sistema nervoso superior não pode explicar cabalmente a consciência humana, mas é preciso admitir uma forma substancial.

Entretanto, não é apenas a obra de Santo Tomás de Aquino que se apresenta de uma atualidade espantosa, mas também sua vida santa e admirável constitui uma lição atualíssima. Tendo vivido no século XIII, em uma sociedade estamental, pertencente à alta nobreza, foi educado, como se sabe, por monges beneditinos. Naqueles tempos, a vida religiosa abraçada dentro de mosteiros (que eram feudos rendosos) ou nas aristocráticas congregações de cônegos regulares podia reverter em benefício e prestígio de toda estirpe. Por isso, a decisão de Santo Tomás de ingressar em uma ordem mendicante, a Ordem dos Pregadores, fundada por São Domingos Gusmão, a qual era ainda vista com certa desconfiança, foi um ato de virtude do nosso santo e frustrou interesses mesquinhos de alguns de seus familiares. Em nosso mundo de hoje, mais que nunca dominado pela ambição de bens materiais, a vida santa do Doutor Angélico, inteiramente dedicada à busca e ao ensino da sabedoria, deve ser meditada e imitada.

Muito mais poderia ser dito sobre santo Tomás. Que o seja por quem tem mais competência. Ficam aqui estas mal traçadas linhas à guisa de breve panegírico e como um testemunho de quem tenta abeberar-se nas fontes límpidas do Doutor Comum da Igreja para manter a integridade da fé. Não é à toa que a Igreja determina, no cânon 252 do Código de Direito Canônico, que os estudos teológicos sejam desenvolvidos à luz da doutrina de Santo Tomás ( S. Thoma praesertim magistro). Sem a luz do tomismo, toda a teologia, inclusive o magistério eclesiástico, perde seu rigor e precisão, reduzindo-se a um discurso livre em que cada um dirá o que quer. Não é à toa tampouco que o papa Leão XIII, querendo, nas pegadas de seu predecessor Pio IX, restaurar sociedade segundo princípios cristãos, viu que tal empresa era inútil sem a restauração da inteligência cristã e, por isso, escreveu a encíclica Aeterni Patris.

Anápolis, 10 de agosto de 2013.
Festa de São Lourenço, diácono e mártir

Do site Santa Maria das Vitórias, disponível em
http://santamariadasvitorias.org/qual-o-valor-do-tomismo-hoje
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Reflexão sobre o Evangelho segundo S. Lucas, cap. 14, vs. 25 a 33

Leitura do Evangelho do 23º Domingo do Tempo Comum



No capítulo 14 do Evangelho segundo S. Lucas, vemos Jesus que quer preparar a todos os seus seguidores para o seu Sacrifício na Cruz, bem como para as consequências que implicam da decisão de segui-lo. O Senhor, com imensa decisão, resolve partir para Jerusalém, mesmo sabendo que caminha para a sua própria morte.

No versículo 25, Jesus vê que não está sozinho: grandes multidões o acompanhavam. O texto original em grego enfatiza que aquelas pessoas “caminhavam junto” com Ele. Aquelas pessoas vão com o Senhor, e Ele quer alertá-las, torná-las conscientes de para onde estão indo e em que implicará a decisão de acompanhá-lo. Parando no meio da jornada, Ele se volta para essas pessoas e lhes diz algo como: “Vocês querem ir comigo, mas vocês sabem qual é a realidade de ser meu discípulo?”.

Aquilo que devemos dar a Deus Pai, conforme descreve o capítulo 6 do Livro do Deuteronômio, ficamos sabendo que devemos dar também a Deus Filho: “Amarás o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças!” (Dt 6,5). Em outras palavras, devemos preferir Jesus a tudo; nada devemos antepor a Cristo. Devemos preferir Cristo a tudo.

É esta a ideia que está no centro deste Evangelho. Para ensinar que devemos amá-lo sobre todas as coisas, com o total das nossas capacidades, das nossas forças e de nossa consciência, Jesus usa de duas parábolas. Primeiro, Ele diz: “Qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com o que acabá-la?” (Lc 14,28). - Você quer seguir Jesus, mas você é capaz de arcar com os custos?

Em seguida, contra outra parábola: “Qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho, sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz” (Lc 14,31-32). - Jesus pede que aqueles que caminham com Ele sentem-se primeiro, como a dizer: “Parem um pouco e sentem-se; parem e pensem bem, pois para caminhar comigo é preciso amar-me mais que tudo, é preciso abrir mão de tudo”.

O texto original em grego é totalmente semítico, isto é, não há um estilo de escrita grego: é praticamente o texto aramaico transliterado para o grego, e esta é uma maneira de sabermos que essas palavras foram realmente ditas por Jesus. A tradução literal do aramaico para o grego chega a dificultar a compreensão do sentido do texto. O que este trecho do Evangelho realmente diz, ao pé da letra, é: “Se alguém vem a Mim, mas não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo”.

A tradução “suavizada” dos folhetos da Missa em português usou a tradução “se alguém não 'se desapega' de seu pai, de sua mãe...” em lugar de “odeia seu pai, sua mãe...”. Mas a ideia original do Evangelho não tem muito a ver com "desapego", simplesmente. A questão se dá porque, no aramaico, não há o comparativo elaborado que usamos costumeiramente. No aramaico bíblico, para alguém dizer que gosta de uma pessoa mais do que outra, por exemplo, diz que ama uma e “odeia” outra. Comparativamente, imaginemos alguém que lhe pergunta se você prefere pudim ou sorvete. Em aramaico, se você prefere pudim, diria: “amo pudim e odeio sorvete”. Não significa, literalmente, que você odeia sorvete, no sentido que lhe daria o português atual; quer dizer que você gosta mais, que prefere o pudim. Como não há o comparativo, alguém dizer “amo uma coisa e odeio outra” quer dizer que prefere a primeira coisa. Não tem a ver, portanto, com “desapegar-se” de algo, e sim com preferir algo, dar preferência a alguma coisa, dar prioridade a essa coisa que é mais querida e mais valorizada.

O versículo 27 mostra essa realidade com clareza: preferir Jesus implica sacrifício, "tomar a sua cruz". De alguma forma, quem escolhe Jesus tem que "morrer" para o mundo. Na sequência do texto, no versículo 33, o Senhor completa o sentido da exortação, dizendo: “Qualquer de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33).

Se somos realmente sinceros, - se nossa busca por Deus é sincera, - precisamos então nos perguntar se tudo isso não seria radical demais, um radicalismo exagerado. E aqui abro parênteses para uma confissão pessoal: por um longo tempo, este que vos escreve sofreu sem compreender a ideia de amar a Deus sobre todas as coisas. Em minha juventude, parecia-me uma exigência impossível de se atender! Para mim, parecia-me que Deus estaria sendo injusto ou exigente demais, ao dar uma ordem que ser humano algum seria capaz de cumprir... Como alguém poderia amar a Deus mais que aos seus pais, seus irmãos, sua esposa(o), seus filhos?..

Mas a resposta para a questão que parecia insolúvel me veio, de maneira tranquila e bem antes do que eu poderia imaginar, conforme eu pedia em oração, quando resolvi que não havia outra escolha a não ser, simplesmente, confiar em Deus, esforçando-me sincera e serenamente para compreender. E a resposta foi esta: como eu poderia amar a alguém mais do que a Deus, se foi Deus Quem me deu a oportunidade de conhecer todas as pessoas que conheço? Como poderia amar alguma coisa mais do que a Deus, se foi Deus Quem me deu tudo o que eu tenho, que eu tive ou que algum dia poderei ter? Se foi Deus Quem me deu saúde física e mental para usufruir de tudo o que já tive, que já vi, já vivi, experimentei? Como amar absolutamente qualquer coisa mais do que a Deus, se, em última análise, foi Deus Quem me fez, e fez também todas as coisas? Se foi Deus Quem me deu a vida, e deu a todos e a todas as coisas a existência?

Se eu creio verdadeiramente que Deus é a própria Vida, e que Deus é Amor, então a resposta já está dada...

Carregar a cruz, como Jesus exige, antes de qualquer coisa é renunciar a tudo, por dar preferência total e absoluta a Deus. E assim Jesus diz: “Você, que quer ser meu seguidor, pare, sente-se e pense um pouco. Faça as suas contas: você está mesmo pronto para renunciar a tudo e a todos por amor a Mim?”.

A Sabedoria divina nos leva à única conclusão possível, e nos faz responder assim: “sim, estou pronto, Senhor, porque, antes de tudo, Vós sois o doador de tudo, e sois o doador da minha própria vida e existência! Ajuda-me a enxergar essa verdade todos os dias, a cada instante, a cada novo desafio, a cada passo da minha vida, porque assim, - e somente assim, - eu serei feliz!".

E devemos pedir a Deus por luz e sabedoria com a certeza de que seremos atendidos, pois é Ele mesmo Quem nos diz: "Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e a porta vos será aberta. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á. Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente? Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem” (Mt 7,7-11).

A chave é pedirmos coisas boas, porque o Pai Celeste quer o nosso bem. Se pedirmos coisas que nos parecem boas, mas que de algum modo poderão nos fazer mal, então não seremos atendidos. Comece pedindo, como eu pedi, pela Graça inefável de entender como amar a Deus sobre todas as coisas. Todo o resto virá por acréscimo. E realmente virá!

Deus sobre todas as coisas. Antes de todas as coisas. Verdadeiramente. Isto significa, por consequência, libertar-se de tudo o que lhe afasta de Deus.



Como eu poderia amar a alguém mais do que a Deus, se foi Deus Quem me deu a oportunidade de conhecer todas as pessoas que conheço? Como poderia amar alguma coisa mais do que a Deus, se foi Deus Quem me deu tudo o que eu tenho, que eu tive ou que algum dia poderei ter? Se foi Deus Quem me deu saúde física e mental para usufruir de tudo o que já tive, que já vi, já vivi, experimentei? Como amar absolutamente qualquer coisa mais do que a Deus, se, em última análise, foi Deus Quem me fez, e fez também todas as coisas? Se foi Deus Quem me deu a vida, e deu a todos e a todas as coisas a existência?

* Inspirado na homilia do Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Jr., disponível em:
vozdaigreja.blogspot.com

Jovem norte-americano testemunha ter recebido cura milagrosa por intercessão de Bento XVI


Conheço pessoalmente um padre da Ordem dos Scalabrinianos, já idoso, que foi curado instantaneamente de uma inflamação reumática crônica (artrite reumatóide), - que é considerada incurável pela medicina e lhe fazia sofrer com dores terríveis, - após receber uma benção do Papa Bento XVI. Acredito muito na santidade do nosso Papa Emérito, injustiçado pela mídia e por "católicos" que não compreenderam a grandeza do seu pontificado. Abaixo, reproduzimos a matéria veiculada no portal UOL Notícias.


O momento inesquecível foi registrada nesta imagem

O jovem norte-americano Peter Srisch, de 19 anos, alega que foi curado de um câncer após ter sido tocado pelas mãos do papa emérito Bento XVI.

Sua mãe, Laura Srisch, explicou, em entrevista à emissora local, TV Kusa, que Peter foi diagnosticado com um linfoma não-Hodgkin em fase IV, que é bastante agressivo, aos 17 anos de idade. A primeira coisa que disse ao ser diagnosticado com um tumor maligno "do tamanho de uma bola de softball" foi que precisava se encontrar com o então Papa em Roma.

No Vaticano, Joseph Ratzinger ouviu Peter e recebeu do jovem uma pulseira com a inscrição "Orando por Peter". Em seguida, o religioso colocou a mão no peito do jovem, mesmo sem saber que esta era a localização do tumor. Um ano mais tarde, Peter estava completamente curado. Em seu segundo ano da faculdade, o jovem agora quer se tornar padre.

Para a família de Peter, não foi uma bênção qualquer. "Ele pôs sua mão justamente no tórax, onde estava o tumor. Não podia saber onde ele se encontrava, mas colocou sua mão justamente aí", conta Peter.

Para Peter, a renúncia do Santo Padre só reforçou ainda mais a sua visão do encontro. Ele crê que Bento XVI colocou Deus e a Igreja acima de si mesmo e de suas exigências pessoais, um gesto de enorme humildade. "Sempre me lembrarei dele como um dos homens mais humildes do mundo e, em particular, pelo ato que acaba de cumprir", disse Peter.

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Fonte:
Notícias UOL
Agência ANSA
Christo Nihil Praeponere
vozdaigreja.blogspot.com
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