“Não existe um Deus católico”?


Por Pe. João Batista de Almeida Prado Ferraz Costa

Confesso que fiquei perplexo lendo esta frase ontem: “Não existe um Deus católico”.

Embora a expressão “Deus católico” seja insólita, negá-la no contexto em que foi negada tem consequências desastrosas. Realmente.

O Antigo Testamento está repleto da expressão o Deus de Israel, o Deus de Abraão, Isac e Jacó... atestando que o Deus vivo e verdadeiro se revelava ao povo eleito, depositário de suas promessas e ensinamentos, e se distinguia dos ídolos dos falsas religiões que aterrorizavam os povos pagãos.

Completando-se com a encarnação do Verbo de Deus a Revelação Divina, a qual se encerra com a morte do último apóstolo, e sendo a Igreja Católica a depositária de tal revelação, dizer que não se crê em um “Deus Católico” parece-me favorecer a heresia monolátrica, isto é, a crença em um deus único concebido pela mente humana, distinto do Deus Uno e Trino que se revelou, encarnou e fundou a Igreja Católica para perpetuar a sua obra de salvação do mundo.

Dizer “não existe um Deus Católico”, no ambiente atual de ecumenismo maçônico e diálogo interreligioso sem fronteiras, só contribui para a demolição da fé católica e reforça a marcha do mundo contemporâneo rumo ao deísmo (sistema dos que creem em Deus mas rejeitam a Revelação, isto é, Jesus Cristo), ao panteísmo, à gnose universal. Afirmar “não existe um Deus Católico” é um convite dirigido aos “irmãos” pedreiros livres e aos “homens de boa vontade” para trabalharem todos juntos na fundação de uma nova religião de uma nova era da humanidade, em que o homem será a sua própria lei.

A infelicidade de tal afirmação cresce ainda mais quando se tem presente que nos dias de hoje o Deus da Metafísica, o Ser Absoluto, o primeiro Motor Imóvel, a Causa Primeira incausada, o Ato Puro dos estudiosos da Ontologia, que serve de base para uma exposição racional do mistério da Revelação Divina, desapareceu completamente da cultura contemporânea. De modo que negar o “Deus Católico” não significa ceder lugar ao Ser Absoluto na mente dos homens de hoje, mas sim ceder lugar à “energia cósmica” que alguns imaginam como um demiurgo.

Acresce que na mesma entrevista o bispo de Roma disse que “cada um tem a sua própria concepção de bem e mal e deve escolher seguir o bem e combater o mal como concebe". Ora, isto equivale a proclamar a soberania absoluta da consciência individual, que já não terá sua autoridade e legitimidade à proporção em que aplica fielmente a lei de Deus na direção da vida humana.

Sinceramente, estou convencido de que a chave para entender o drama dos nossos tempos não está tanto em meditar as promessas de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja, quanto na meditação da passagem do Evangelho segundo Lucas: “Mas, quando vier o Filho do homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?" (Lc. 18, 8). Sim, as portas do inferno não prevalecerão, mas os homens maus têm um poder enorme de corromper a fé e desfigurar a Igreja e reduzi-la a frangalhos.

Se se dispensa um “Deus Católico”, se cada um pode seguir o bem como o concebe, será necessária a Igreja para a salvação? [Se é assim, Igreja para quê?] No máximo, será um auxílio para aqueles que querem construir uma utopia de um mundo novo, de um mundo melhor de liberdade, igualdade e fraternidade. Em tal perspectiva, que restará da Igreja? Restarão grupos esparsos de homens que conservam a fé imutável no Deus Uno e Trino.

Que Deus tenha misericórdia de nós. As tentações são muitas. Que Nossa Senhora das Vitórias, neste mês do Rosário, esmague as esquadras do modernismo, como em Lepanto esmagou o inimigo infiel.


Anápolis, 2 de outubro de 2013,
Festa dos Santos Anjos Custódios
Fonte: SantaMariadasVitorias.Org
vozdaigreja.blogspot.com

7 comentários:

  1. Leonardo S. de Oliveira.8 de outubro de 2013 às 10:58

    Liberdade, igualdade e fraternidade é o maior engodo até hoje criado.Foi sob essas bandeiras que a Revolução Francesa criou a guilhotina e milhares de católicos foram mortos.
    Foi marchando sob à égide da liberdade fraternidade e igualdade que os tolerantes soldados de Volteire e tuti quanti, promoveram os massacres de Vendéia em 1794.
    Infelizmente existem católicos enganados por essas falsas promessas de liberdade, fraternidade e igualde que acaba dizendo que não existe um Deus Católico, esquecendo que o mundo jaz no maligno.

    Sancte Michael Archangele, Defende nos praelio!!

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  2. José Osivan Barbosa de Lima8 de outubro de 2013 às 23:09

    Eu também sou sincero, não gostei dessa entrevista do Papa Francisco. Acho que o verdadeiro cristão tem que dizer a verdade mesmo que para isso seja preciso perder gente. A igreja católica tem que ser antes de tudo uma igreja profética.

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  3. Sou novo na fé, antes era um Católico "não praticante", encontrei Jesus a pouco tempo, mas o que me levou a ele foi o amor, se repararem bem, o Papa não rechaçou os ensinamentos proféticos, ser profeta em síntese, e segundo o que eu aprendi, é "denunciar o que esta errado, anunciar a boa nova, e (aqui que me encaixo) acolher a quem precisa". A igreja não é exclusivas dos santos, ele pertence aos pecadores (e não ao pecado), são estes últimos que precisam da mãe igreja, e uma mãe dá amor (acolhe), educa (anuncia a boa nova), e chama a atenção quando precisa (denuncia), por favor, quero saber mais, não falo italiano, e sei pouco coisa sobre a tal entrevista, só sei o que li por aí, mas tudo o que li e vi é perfeito, e condiz com o catolicismo que vivo. Ah, antes que eu esqueça, amar a todos, independentes de religião, não é ser relativista, é ser católico e estar preparado para dar a mão quando os pecadores necessitarem.

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    1. O papa poderia falar as coisas de um jeito que não dê margem para confusões. Ele solta muitas frases desse tipo, que as pessoas usam para atacar a própria igreja. Com todo respeito vejo esse papa querendo ser muito amigo do mundo, da imprensa, dos ateus, dos feiticeiros... parece que é amigo de todo mundo, menos dos católicos mais sérios. Nunca me esqueco quando ele não deu a benção na entrevista para respeitar os que não acreditavam. Acho muito estranho isso, temos que rezar muito por esse papa.

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    2. Realmente temos que rezar muito pelo Papa, ele mesmo nos pediu isso. Mas não acho que o Papa queira ser amigo do mundo e não queria ser amigo dos "católicos mais sérios" (imaginei aqui os conservadores), acredito que ele sabe que os católicos de verdade não abandonam a Igreja de Cristo por quaisquer notícias que saem na mídia, ou por não concordarem com tudo que o Papa diz/faz. Penso que ele acredita que somos pessoas de fé e também obedientes, sabemos que por mais que a pessoa do Papa erre, O Espírito Santo de Deus é que está conduzindo a Sua Igreja.
      Por outro lado, acredito que ele queira acabar com essa caricatura, pintada pelos inimigos da Igreja (talvez até com uma colaboração nossa), de que a Igreja não está aberta ao diálogo (aqui não é agradar, mas o aproximar-se com amor) com os não-católicos, para assim mostrar-lhes a Verdade.

      Sou jovem e meio sem conhecimento de algumas coisas. posso estar errado e se estiver, por favor alguém me corrija (:

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    3. GMA, Graça e Paz!

      Eu não tenho acompanhado muito as entrevistas do Papa, mas vejo nele uma pessoa muito humilde e simpática. Creio que ele está promovendo uma imagem mais popular da Igreja Católica. Os tempos são outros e talvez ele tenha julgado uma necessidade de melhor convivência com outros e maior alcance da evangelização. Eu mesmo sou protestante calvinista e tenho buscado um diálogo com outras religiões, pois aprendo muito com isso e creio que o que nos une é maior do que o nos separa! Vejo a todos como cristãos.

      Deus o abençoe!

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  4. Claro que Deus não é literalmente católico -- como se alguém pensasse tal coisa. Mas essa observação superficial, tão agradável aos ouvidos modernos e entregue por ninguém menos que um Papa nas mãos de um veículo anti-católico, prejudica a causa do Evangelho porque obscurece a verdade de que Deus Encarnado realmente fundou a Igreja Católica, "Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu inspetores, para apascentardes a Igreja de Deus, que Ele fez sua com o seu próprio sangue." (At 20:28) A Igreja que Deus fundou e comprou com Seu Sangue chama a si própria de Católica, assim conferindo um sagrado e inalterável significado à palavra, que pertence ao próprio Credo que começa assim: "Creio em Deus." Declarar que "não há um Deus católico" é separar o Evangelho de sua guarda, divinamente decretada, pela Igreja Católica, para o grande prazer do mundo. Como é perturbador ver um sucessor daquela Pedra na qual a Igreja foi fundada descer a tal banalidade!

    [Excerto de Romam vado iterum crucifigi, de Christopher A. Ferrara.]


    Blog do Angueth

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