Simbolismo e significados do Apocalipse - parte 6

A Importante Questão da Datação do Livro do Apocalipse



Por Jack Van Deventer / Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

A datação do livro do Apocalipse desempenha um papel central para todo estudante que deseja saber como este livro pode ser corretamente interpretado. O Apocalipse foi uma advertência às igrejas sobre a perseguição iminente, anterior à destruição de Jerusalém no ano 70 dC? Ou a perseguição ocorreu depois, em 95-96 dC, após Jerusalém ser destruída? Dentro dos estudos da Escatologia, - disciplina da Teologia que estuda as "últimas coisas", entre as quais o Juízo Final, o Reino Messiânico, a Parusia (Volta gloriosa de Cristo no final dos tempos), etc., - grupos distintos apresentam pontos de vista diversos. Entenda essa questão um pouco melhor...

O preterismo é um ponto de vista escatológico que defende que os eventos previstos no Livro do Apocalipse já ocorreram, especialmente durante a destruição de Jerusalém em 70 dC. Esse ponto de vista, evidentemente, depende de o Livro de o Apocalipse ter sido escrito antes dessa data. 

Já os pré-milenistas, que crêem que as profecias de destruição são ainda para o futuro, afirmam uma data posterior.

Uma pesquisa significante sobre a datação do Apocalipse foi feita por Kenneth L. Gentry Jr., em sua pesquisa de doutorado contida no livro Before Jerusalem Fell e num excelente resumo (menos técnico) intitulado The Beast of Revelation, Gentry descreve a história da opinião erudita como oscilando quanto à datação do Apocalipse. À medida que o liberalismo cresceu nos anos de 1800, houve uma considerável pressão para determinar datas mais recentes para muitos dos livros do Novo Testamento. Isso fortaleceu o argumento dos liberais que os redatores tinham adicionado, modificado ou deletado porções da Bíblia. Contudo, no final dos anos 1800, a evidência para uma data mais antiga do Apocalipse foi considerada tão convincente que a grande maioria dos eruditos a adotaram. 

Desde então, contudo, a opinião tem mudado para uma data mais recente, com pouca razão aparente para fazê-lo. Gentry lista 145 eruditos que advogam uma data mais antiga para Apocalipse, incluindo o grande historiador da igreja, Philip Schaff, e outros tais como Jay Adams, Greg Bahnsen, F.F. Bruce, Alfred Edersheim, John A. T. Robinson e Milton Terry. O versículo tema do Apocalipse é: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!” (Ap 1,7).

Essa vinda poderia se referir ao pronto julgamento sobre os inimigos de Deus (Sl 18,7-15; Jl 2,1,2, Zc 1,14,15); que, nesse caso, são “os mesmos que o traspassaram”. Os judeus eram pactualmente responsáveis pela morte de Cristo: eles buscaram sua morte, pagaram sua captura, trouxeram falsas testemunhas, o condenaram, submeteram-no à autoridade civil romana e declararam: “Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!” (Mt. 27:25).5 A palavra grega para “terra” pode ser traduzida como “nação”; assim, a referência aqui é às doze “tribos da nação [prometida]”, os judeus.

Assim, o julgamento que Cristo profetizou contra os judeus (Mt 21,40-45; 23,32-24,2, Lc 23,23-30) é ecoado por todo o livro do Apocalipse. Enquanto Cristo advertiu que essas profecias se cumpririam dentro daquela geração (Mt. 12,41-45, 23,36, 24,34), similarmente, João em Apocalipse adverte que esses eventos ocorrerão “em breve” (1,1), “o tempo está próximo” (1,3), “a hora... que está para vir” (3,10), Cristo está vindo “sem demora” em julgamento (22,7), e “as coisas que em breve devem acontecer” (22,6). Esses julgamentos culminaram na destruição de Jerusalém por diversos exércitos sob o comando romano. Um milhão de judeus foram assassinados, centenas de milhares de outros foram escravizados, a cidade deixada em ruínas, e o grande Templo foi totalmente destruído dentro daquela geração (40 anos) da profecia de Cristo (Mt. 24,2).

Os defensores da data mais recente, que crêem que o Apocalipse foi escrito por volta do ano 95-96 d.C, têm um grande problema diante deles. O autor do Apocalipse, João, repetidamente alude a uma “grande cidade”, muito provavelmente Jerusalém, e descreve o Templo como se ele ainda estivesse de pé (Ap 11,2). Os defensores de uma data mais recente não explicam satisfatoriamente tais menções a uma cidade que a história registra que foi deixada em ruínas (em 70 dC). Citam uma declaração feita por Irineu de Lyon em sua obra Adversus Haereses (Contra as Heresias), que parece associar João ou o livro do Apocalipse com Domiciano, mas há vários problemas de tradução, interpretação e históricos que nos acautelam contra uma dependência dessa passagem algo ambígua.

Bahnsen e Gentry citam evidência externa para uma data mais antiga: “Clemente de Alexandria (...) afirma que toda Revelação cessou sob o reinado de Nero. Segundo o Cânon Muratoriano1 (170 dC aprox.) tinha João completado o Apocalipse antes de Paulo ter escrito às "sete igrejas" (Paulo morreu entre 67 e 68 dC). Tertuliano (160-220 dC) data o banimento de João em conjunção com o martírio de Pedro e Paulo (67/68 dC). Epifânio (315-403 dC) afirma duas vezes que Apocalipse foi escrito sob o reinado de ‘Cláudio (Nero) César’. A versão síria da Bíblia (sexto século) tinha o seguinte cabeçalho
para o Apocalipse: "escrito em Patmos, onde João foi enviado por Nero César”.2 - Visto que Nero morreu em 68 dC, a escrita do Apocalipse deve ter precedido essa data, tendo sido escrito muito provavelmente em algum período entre 64 e 67 dC.

Como vemos, existem muitas e concretas evidências apontando a data da redação do Apocalipse para antes da destruição de Jerusalém, embora isso não seja certo. Se for realmente assim, é bem provável que boa parte das profecias contidas no último livro da Bíblia já tenham se cumprido, principalmente à ocasião da destruição do Templo sagrado.


1. Canon Muratoriano - Fragmento que leva o nome do seu descobridor, L. A. Muratori, considerado o mais antigo Cânon (ou lista) dos Livros do NT, atualmente preservado na Biblioteca Ambrosiana de Milão. Sendo um manuscrito do séc. VIII, é de alta importância na história do Cânon Bíblico. Foi redigido em Roma, ou arredores, provavelmente em grego e traduzido para o latim. Mais do que lista, este Cânon consiste de uma pesquisa que supre, ao mesmo tempo, informações históricas relacionadas a cada livro; não há, até o presente, hipótese concreta sobre a sua autoria. Este fragmento considera o Evangelista Marcos, judeu palestino que falava grego e que não era Apóstolo, chamado pelo nome completo João Marcos pela primeira vez em Atos 12,12, testemunha ocular do que escreve a respeito da Última Ceia, e que o Cenáculo seria a sua própria casa, o mesmo lugar do Pentecostes cristão em Jerusalém.


** Leia este estudo a partir do começo

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Fontes:
BAHNSEN, Greg L. & GENTRY, Kenneth L. Jr. House Divided, The Break-Up of Dispensational Theology. Tyler, TX: Institute for Christian Economics, 1989, p. 259-260.
GENTRY, Kenneth L. Jr. Before Jerusalem Fell: Dating the Book of Revelation. Fountain Inn: Victorious Hope Publishing. 2010.
HUNT, Dave. Whatever Happened to Heaven? Oregon: Harvest House, 1988, p. 249.
GENTRY, Kenneth L. Jr. The Beast of Revelation, Tyler, Texas: Institute for Christian Economics, 1989.
vozdaigreja.blogspot.com

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