RECEBEMOS HÁ ALGUNS dias, de um inscrito de nossa Formação Teológica Integral cujo nome não estamos autorizados a publicar, a seguinte pergunta:
– Por gentileza, poderiam me informar o que a tradição da Igreja diz a respeito da aparência física de Jesus?
Apesar de se tratar de uma questão acidental (secundária, que não tem importância doutrinal), essa é também uma dúvida ou curiosidade recorrente, que surge de tempos em tempos, em perguntas semelhantes que nos fazem via redes sociais ou por mensagens enviadas ao nosso e-mail. Assim, resolvemos postar aqui a nossa resposta, para que mais pessoas possam saciar essa curiosidade, que não deixa de ser interessante. Segue:
Em primeiro lugar, fique claro não há nenhuma definição da Igreja (Escrituras, Tradição e Magistério) que oriente a respeito dessa questão totalmente acidental. Sabemos que muitos Santos que tiveram visões de Nosso Senhor o descreveram com aparência próxima daquela que vemos nas pinturas clássicas, mas sabemos que, assim como no caso de Nossa Senhora, a maneira como Ele se manifesta a nós pode variar. O Corpo glorioso não está tão limitado à matéria como o nosso corpo físico atual, pelo que nos apontam as narrações das visitas do Cristo aos Apóstolos logo após a Ressurreição (quando atravessava paredes e parecia tão diferente que não foi reconhecido pelos próprios discípulos no caminho de Emaús) como também pelas visões de Nossa Senhora ao longo da História, nas quais assumiu formas bastante distintas.
Por exemplo, a Santíssima Virgem apareceu morena ao índio Juan Diego em Guadalupe, e loura aos videntes de La Salette. Certamente ela quer se parecer (identificar-se) com as pessoas locais às quais aparece, e assim também Nosso Senhor.
Hoje se crê que Jesus deveria ter a aparência típica dos povos semitas do deserto da sua época, e portanto nunca poderia ter olhos claros e a aparência que vemos na arte sacra tradicional. Aliás, cabe aqui lembrar a notícia relativamente recente de um antropologista que teria recriado o rosto de Jesus usando técnicas da antropologia forense a partir do crânio encontrado de um hebreu do primeiro século (veja). Muitos canais alardearam então que “a ciência” havia descoberto e provado, afinal, como era “a verdadeira face de Jesus Cristo”. Por algum motivo que nos escapa, o tal especialista fez questão de elaborar a imagem de um homem de aspecto extremamente bruto, com linhas assimétricas, cabelo mal cortado e até um pouco estrábico.
Há muitos problemas – realmente bem óbvios –, com essa suposta grande descoberta “científica”, que eu só vi serem esclarecidos pelo arqueólogo adventista Rodrigo Silva: primeiro, nunca se provou a idade nem a procedência do tal crânio, sendo altamente improvável a descoberta de um crânio humano totalmente íntegro com essa idade. Segundo, a reconstituição facial a partir de um crânio é bastante imprecisa para nos dar detalhes: não há como se definir, entre outras coisas, as formas e medidas de tudo o que é formado pelas cartilagens, assim como o formato do nariz e das orelhas, nem o tipo, cor, espessura e quantidade de cabelos, barba e sombrancelhas, nem as marcas de expressão desse rosto, nem o tom da pele e dos olhos, nem a espessura da pele e músculos faciais que vão definir formas, nem a conformação das pálpebras que moldam o olhar, etc, etc.
O máximo que se pode alcançar com técnicas a partir de um crânio é uma reconstituição aproximada do que seria a aparência de uma pessoa falecida há muito tempo, mas só em linhas gerais. Nos casos de identificação, é possível comparar principalmente a simetria com fotografias existentes, bem como certas proporções que permitam identificar, com certo grau de precisão (que não é absoluto) se tal crânio pertenceu a tal ou tal pessoa. Daí a se afirmar com certeza que aquela era em detalhes a aparência do dono daquele crânio é uma falsidade. Dar mais mil passos além disso e afirmar que assim era a face de Cristo, “comprovada pela ciência”, é um absurdo completo, simplesmente porque – ainda que realmente se trate do crânio de um hebreu do primeiro século e que a técnica empregada tenha permitido uma precisão total (o que não existe, como dissemos) –, mesmo assim, para aceitar essa conclusão teríamos que supor que todos os hebreus daquele tempo eram exatamente iguais, o que evidentemente não tem cabimento. Ora o tal crânio encontrado poderia ter sido o de Judas Iscariotes!
Por outro lado e com mais coerência, também se argumenta que entre os hebreus, por serem descendentes dos antigos habirus ou hapirus (como vimos em nosso curso de Sagradas Escrituras), povo que era um amálgama de muitas raças, havia muita diversidade étnica. Aliás, por isso mesmo é que o Rei Davi podia ser ruivo e ter olhos “belos”, provavelmente olhos claros (na descrição bíblica). Ora Maria Santíssima, de quem o Senhor quis tomar a carne humana, segundo a Tradição era da linhagem do Rei Davi; logo, Jesus bem poderia ter tais características, algo que parece se confirmar nos traços contidos no Santo Sudário (essa peça que, se autêntica, é sem dúvida o melhor e mais impressionante registro histórico da aparência do Salvador).
Encerramos por aqui, lembrando e insistindo, uma vez mais, que aqui tratamos de uma questão de mera curiosidade, pois a aparência física do Cristo quando caminhou sobre a Terra não importa absolutamente nada para a nossa Fé. No Céu, de algum modo seu Corpo glorioso transcende toda limitação étnico-racial, pois todos os tipos humanos refletem algum aspecto da Glória divina.
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