O básico do básico sobre Teologia: o problema da Fé

HÁ ALGUNS ANOS anos houve um crescimento do interesse do leigo comum pelos conhecimentos teológicos. Havia um grande e geralmente honesto desejo de aprender sobre as coisas de Deus e da Igreja. Com a invasão das seitas protestantes e os constantes ataques que o católico comum sofria contra as suas crenças, ele enxergava nitidamente a necessidade de estar preparado para "responder a todo aquele que pedir a razão da sua esperança", como recomendou o primeiro Papa (1Pd 3,15).


Começaram a pipocar cursos livres de Teologia em diversas paróquias e instituições de ensino, com grande procura dos fiéis. Infelizmente, salvo raríssimas exceções, o que esses bons católicos em busca de formação encontravam era a mais cruel deformação da doutrina, do estudo das Sagradas Escrituras, da hermenêutica, da história de Israel e da Igreja, da espiritualidade... Como quase sempre acontece em muitas situações, os esquerdistas se anteciparam, ocuparam os espaços e tomaram a frente em praticamente todas essas iniciativas. E os tais cursos de Teologia não passavam de uma criminosa deformação marxista da Fé da Igreja, fato que hoje já é bem conhecido pela maioria daqueles realmente interessados em aprender.

Isso tudo aconteceu como consequência da pavorosa crise que assombra a Igreja desde o Vaticano II (começou bem antes, mas agigantou-se e assumiu proporções catastróficas a partir desse evento) e que terminou por resultar em divisões terríveis. Muita confusão, muitas opiniões e muita arrogância, porque temos hoje muitos "sabichões de internet" que tomam partido desta ou daquela posição sem o devido cuidado, sem conhecimento de causa e sem o necessário temor a Deus que obriga a procurar primeiro fazer o que é certo, isto é, cumprir a Sua vontade.

Pobres de nós, que só queremos manter a nossa Fé cristã e católica.

Mas então o que é isso, afinal, a tal da Fé? Ora, responder a essa pergunta fundamental e primária é uma das tarefas centrais da boa Teologia. E embora tenha decrescido — em grande parte por conta de tantas decepções —, o interesse em aprender sobre a Religião ainda subsiste nas almas dos honestos buscadores da Verdade. E o que a verdadeira Teologia propõe, afinal, é o conhecimento da própria Fé.

Como já vimos em nossa Formação, o célebre axioma de Santo Anselmo que bem define a Teologia — fides quaerens intellectum —, significa que essa ciência nada mais é que o esforço da fé em busca da compreensão racional das coisas que crê. Porém...

...porém, acontece que antes de compreender, é preciso crer.

A Fé é a base de tudo. Por isso mesmo é que, nesta formação, optamos em utilizar inicial maiúscula para grafar a palavra: em Teologia, dizer “ter Fé” não trata de acreditar em qualquer coisa, assim como acreditamos que o pão que compramos na padaria não está envenenado. Ter Fé, em Teologia, é o que fará a diferença entre obter uma eternidade de felicidade perfeita, inesgotável e inimaginável, no Céu, ou o Inferno de sofrimentos indizíveis, que nunca cessam. Ter Fé, em Teologia, é o que faz ser a pessoa enquanto tal. Não ter a Fé leva à dissolução e, por fim, à perdição final.

Ter Fé é a premissa mais básica e mais necessária da Teologia. Sem Fé não se pode fazer Teologia.

Por quê?

Porque o estudante de Teologia vai se deparar, simplesmente, com um conjunto de asserções que lhe serão colocadas como verdade absoluta, tais como:

Deus existe. Ponto. Deus é onipotente, onisciente e onipresente. Ponto.

Deus é nosso criador e criador de tudo o que existe. Ponto. Deus é a fonte de todos os bens e o Sumo Bem Ele mesmo. Ponto.

O homem foi feito para servir e adorar a Deus. Ponto. A perfeita e única felicidade possível ao homem está na contemplação de Deus. Ponto.

O homem se encontra num estado de miséria que é irreversível por suas próprias forças, separado de Deus pelo pecado da desobediência de seus primeiros pais. Ponto.

Deus é um só, mas nós o conhecemos em Três Pessoas iguais e distintas, que são a Santíssima Trindade. Ponto.

Para resgatar a humanidade, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Deus Filho e Deus Ele mesmo, fez-se homem e se deu em sacrifício, em satisfação pelo pecado do homem, como a Justiça divina exigia. Ponto.

Deus Filho veio ao mundo tomando carne e sangue da Santíssima Virgem Maria, que fora para esse fim preparada, concebida sem pecado. Ponto.

Etc, etc.

Mas qual é a prova que a Teologia apresenta de todas essas verdades que afirma? Qual a garantia que nos dá de que tudo isso é realmente certo?

A prova e a garantia estão no fato de tudo ter sido tudo revelado por Deus, Verdade infalível, que se serve da santa Igreja para o revelar.

Por isso mesmo, conforme essas verdades, nessa Fé infalível devemos querer viver e morrer, como professamos.

Segundo a Teologia, então, ter Fé é crer essas verdades superiores ou esse conjunto de verdades (mistérios), porque Deus o revelou, ainda que não possam ser confirmadas empiricamente (embora essas verdades não contrariem a razão).

Ora, quando um pregador expõe essas verdades da Fé, depara-se invariavelmente com duas reações básicas: alguns apenas creem, aceitam e mudam suas vidas a partir dessa adesão da vontade, em maior ou menor grau; enquanto que outros resistem e questionam: “Por que devo acreditar? Quem disse que é assim?”. E a resposta da Teologia para essa pergunta é exatamente aquela: “Você deve acreditar porque Deus disse, e Deus não se engana nem pode enganar (como disse o dogmático Concílio do Vaticano I na Constituição dogmática Dei Filius de 24 de abril de 1870)”.

Obviamente, temos um dilema. Devo acreditar em Deus porque Deus disse. Mas para acreditar que Ele disse, eu teria que crer n'Ele antes de tudo... E se não acredito, então não vai me convencer dizer que tenho que acreditar porque Ele — em Quem eu não creio —, disse para crer.

Assim é que chegamos à necessidade absoluta da Fé para a Teologia. Sem Fé não há Teologia, já que Teologia é a fé em busca da compreensão das coisas que crê. Sem Fé, pois, não há o que compreender, para começo de conversa.

Somos, assim, forçosamente levados à conclusão que a partir daí se impõe: uns simplesmente têm a Fé, outros não, porque a Fé é um dom sobrenatural concedido gratuitamente por Deus, como ensinou o Apóstolo (cf. Ef 2,8). Um dom precioso que precisa ser nutrido por quem a recebeu, para continuar vivo e ativo.

Tudo isso foi tema de inúmeras e profundas disputas, controvérsias e reflexões no decorrer da História, que por sua vez geraram desdobramentos cada vez mais complexos. E você, estudante? Já refletiu a respeito? Chegou a alguma encruzilhada em algum momento de sua jornada? Ou a sua vida de Fé tem sido sempre suave?

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