O desafio de continuar sendo cristão católico na era da "sinodalidade"

Por Raymond Kowalski para o OnePeterFive*

Tradução e adaptação de Henrique Sebastião

SABEMOS AGORA QUE que o culminar do Papado de Francisco ocorrerá com o desfecho final do Sínodo sobre a Sinodalidade, algo que vem sendo construído há quase 11 anos.

    Quando o documento de trabalho do Sínodo foi lançado, o Padre Gerald Murray, escrevendo para o portal The Catholic Thing, em 24 de junho de 2023 previu o resultado: “…uma religião fictícia e ilusória de auto-adoração, na qual Deus é relegado ao papel do Afirmador Divino de tudo o que cada um decide acreditar.”

    A questão para nós, sentados nos bancos das igrejas de nossas paróquias, é: desejamos permanecer numa “religião delirante e de faz-de-conta”? É uma pergunta capciosa. A igreja que o Padre Murray imagina não é a Igreja Católica. É uma instituição que para todo mundo se parece com a Igreja Católica, mas não é. É o “macaco da Igreja” que o então monsenhor Fulton J. Sheen previu em 1947.

    O Arcebispo Viganò expressou uma opinião semelhante na Conferência de Identidade Católica em Pittsburgh, em outubro de 2020. Ele disse: “Testemunhamos o eclipse da verdadeira Igreja por uma anti-igreja”, uma igreja que ele chamou de “uma falsificação infernal”. Ele chegou ao ponto de observar que podemos estar vendo a profecia de Fulton Sheen (veja) se tornando realidade diante de nossos olhos.

    Viganò deixou claro o que todos deveríamos saber: não existem “duas Igrejas Católicas”. “Obviamente não existem duas Igrejas, algo que seria impossível, blasfemo e herético”, disse ele. Continuando com a sua metáfora do eclipse, a única e verdadeira Igreja Católica ainda existe, mas já não podemos vê-la. Está bloqueada de nossa visão por uma outra coisa.

    Além disso, para aqueles críticos dos chamados trads, que pensam que e afirmam que uma retórica deste tipo é “cismática”, por favor ouçam um dos expoentes do Concílio Vaticano II dizendo algo semelhante já em 1967:

    É claro que a Igreja enfrenta uma grave crise. Sob o nome de “nova Igreja” ou “Igreja pós-conciliar”, uma “igreja” diferente da Igreja de Jesus Cristo tenta agora estabelecer-se: uma sociedade antropocêntrica, uma ameaça da apostasia imanentista que se deixa arrastar num movimento de abdicação geral sob o pretexto da renovação, do ecumenismo ou de uma adaptação (ao mundo)[1].

    Então, a pergunta que muito se faze e que não quer calar, é: Onde está a verdadeira Igreja Católica, aquela que está eclipsada? Aquela que está sendo macaqueada? Aquela que nunca iremos abandonar? Em algum momento, sem dúvida, ela voltará a ser visível. Enquanto isso, porém, devemos assumir o controle da nossa própria salvação e discernir a verdadeira Igreja da melhor maneira que pudermos.

Nossos guias

A Religião é questão de fé e de moral. As doutrinas e dogmas de Fé não mudam. Os preceitos da moralidade não evoluem, mas são ensinados, preservados e transmitidos de geração em geração. Quem concordaria hoje com os princípios de uma religião que poderia mudar amanhã? Encontre fontes que contenham o que a verdadeira Igreja sempre ensinou sobre as coisas que importam para a sua salvação, o que ensina sobre questões fundamentais como a morte, o Julgamento divino, o Céu e o Inferno.

    A Religião também é questão de adoração. No catolicismo, o culto ocorre mais comumente no santíssimo Sacrifício da Missa. O Sacrifício é o elemento mais antigo e mais fundamental do culto cristão. Durante a Missa, um sacerdote validamente ordenado traz o próprio Jesus Cristo ao Altar e O oferece como Sacrifício incomparável ao Deus Todo-Poderoso. É isso; eis o cerne do culto católico. Todo o resto é acessório: a homilia, as leituras, os cantos… A verdadeira Igreja Católica é encontrada onde o culto gira em torno da Missa como um Sacrifício.

Algumas ferramentas

Com tanta coisa em jogo, queremos ter confiança em nossas ferramentas. Aqui estão algumas ferramentas que eu considero úteis para discernir a genuína Igreja Católica.

        • O Catecismo de São Pio X, que precisa ser bem compreendido (saiba mais a respeito). Quantas vezes ouvimos falar de católicos que são “mal catequizados”, ou seja, católicos que não conhecem os fundamentos da sua própria Fé? Suspeito que nunca tenham sido expostos ao Catecismo de São Pio X . Em tempos bem menos confusos do que os nossos, este era o livro de Religião de todo católico. Devido ao seu formato de perguntas e respostas, alguns ingênuos o descartam como um manual de “catolicismo para crianças”. Ledo engano; na verdade, trata-se da mais autêntica e pura Teologia católica dividida em partes básicas e fáceis de consumir, pensada para todos.

        * Se você ainda não tem o seu exemplar, baixe agora gratuitamente.

        ** O mais excelente Catecismo da Igreja até hoje é a obra “Explicação do Catecismo da Doutrina Cristã de São Pio X", pelo Revmo. Pe. José Perardi com aprovação e recomendação de São Pio X (adquira com desconto especial, usando o cupom ofielcatolico).

        • A Bíblia do Padre Matos Soares e/ou a do Padre Antonio P. de Figueiredo. Não existe melhor versão ou tradução das Sagradas Escrituras. A menos que você saiba ler grego e hebraico, terá que confiar em uma tradução da Bíblia para lê-la. Princípios legítimos de tradução dão um tom particular a qualquer versão. No entanto, algumas versões foram pensadas com o objetivo de inclinar a tradução para um propósito específico. Essas fiéis traduções da Vulgata Latina, que por sua vez é tradução do original hebraico, aramaico e grego, são anteriores às influências modernas e bastante confiáveis.

            • O santo Rosário. Esta é, talvez, a ferramenta mais básica deste kit. As orações do Rosário começam com o Credo dos Apóstolos. Recite-o devotamente e absorva os artigos da sua Fé. Cada dezena do rosário começa com o Pai Nosso e é composta por 10 Ave-Marias: são as orações mais essenciais do catolicismo. Quem medita os Mistérios do Rosário revive os eventos fundamentais do Cristianismo. Para melhores resultados, tente rezá-lo diariamente, mas, se não for possível, reze ao menos uma dezena todos os dias, com seriedade e foco.

            • Cadernos de Estudo Bíblico do Dr. Scott Hahn. Quando tenho dúvidas sobre algum aspecto da Fé, este é o primeiro lugar que vou. Dr. Hahn, este famoso convertido, fez uma grande pesquisa para que não precisemos fazê-la. Se você tiver alguma dúvida, é provável que ele já a tenha respondido aí.

            • A obra de Fulton Sheen. O Arcebispo Sheen teve uma popular transmissão semanal na década de 1950, e continuou na televisão por vários anos depois disso. A maioria dos episódios está disponível no YouTube, além de boa parte de seus livros terem sido recentemente republicados por editoras diversas. Sua mensagem ressoou no público católico de sua época e segue verdadeira e forte ainda hoje. Redescubra este precioso apostolado e aprenda suas lições para a vida.

            • “Christus Vincit. O triunfo de Cristo sobre as trevas da época", de Dom Athanasius Schneider. O livro poderia ter o subtítulo: “Clareza e esperança nos dias de tribulação”. Contém um apêndice com uma “Declaração de Verdades” sobre a Fé Católica que é de grande valor. Leia e reafirme que a sua busca pela verdadeira Igreja Católica não é em vão.

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    A hierarquia institucional da Igreja Católica saiu dos trilhos, é um fato inegável. Mas a Igreja Católica fundada por Jesus Cristo é indefectível, o que significa que durará até o fim dos tempos. O que importa para nós, vivendo neste tempo particular, não é tanto o estado da Igreja, mas sim o estado das nossas almas. Os recursos listados acima irão ajudá-lo a conhecer e manter a sua fé católica até que a Igreja reapareça.

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* Publicado em 3/8/2023. Raymond Kowalski é bacharel pela St. Bonaventure University e formado em Direito pela George Washington University. Após uma carreira de quarenta anos em direito das comunicações, está aposentado e mora com a esposa em Gainesville, Virgínia. É pai de três e avô de cinco.

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Nota:

[1] LUBAC, Henri. Témoinage Chrétrien (Paris, 1967) apud HILDEBRAND, Dietrich von. Cavalo de Troia na Cidade de Deus (Sophia: 1993), p.8.

Fonte:

OnePeterFive, How to be a Catholic in the Synodality Era, disp. em:

https://onepeterfive.com/catholic-synodality-era/

Acesso 7/9/2023.